«Divórcio entre fé e vida» e «autenticidade de muitos cristãos comprometidos» encabeçam «sombras» e «luzes» enunciados pelo bispo do Porto
A lista pessoal, baseada num documento de trabalho da Conferência Episcopal com vista à renovação da ação pastoral da Igreja em Portugal, foi apresentada por D. Manuel Clemente a 31 de agosto em Fátima, durante a 34.ª Semana Bíblica Nacional.
“A não concretização duma Igreja onde todos tenham uma missão insubstituível a desempenhar”, a “falta de alegria, entusiasmo e esperança” e as “celebrações distantes da vida”, acompanhadas por “homilias extensas e tristes”, constituem os três problemas seguintes.
O elenco das “sombras” inclui uma “Igreja envelhecida, muito clerical e sacramentalista”, onde “diminui a prática e os jovens se afastam”, prosseguindo com a referência ao “individualismo nas expressões da fé, sem responsabilização”.
D. Manuel Clemente salienta as dificuldades de comunicação da Igreja, causadas por uma “linguagem hermética” e “ausência” nos novos media, e constata “a desagregação do ambiente familiar”, com a consequente perda do seu papel na transmissão da mensagem cristã.
Além do enfraquecimento “do sentido do Domingo”, o responsável pela pasta da cultura e comunicações sociais dos bispos de Portugal menciona a falta de consagrados e agentes pastorais, a “fé tradicionalista e pouco esclarecida”, o “esquecimento da Doutrina Social da Igreja” e as “romarias meramente turísticas”.
A “autenticidade de muitos cristãos comprometidos” no mundo e na Igreja, a “redescoberta” da Bíblia e “a valorização de momentos de verdadeiro encontro orante e sacramental com Cristo” encabeçam as 20 “luzes de esperança”.
O historiador destaca seguidamente “a maior atenção aos sinais dos tempos e ao diálogo com o mundo”, a “procura de pontes de diálogo com a cultura” e “o esforço de adaptação às novas linguagens e tecnologias da comunicação social”.
Depois de ressaltar os eventos de “grande vitalidade”, como a visita do Papa Bento XVI a Portugal e as Jornadas Mundiais da Juventude, D. Manuel Clemente releva “a partilha e a solidariedade manifestadas por pessoas e instituições eclesiais, bem como a grande rede de ação social da Igreja”.
O Prémio Pessoa 2009 realça também a existência de “órgãos de colegialidade e participação”, “a presença de sinais de Deus no mundo secularizado, como os santos, os mártires ou a mensagem de Fátima” e o “número crescente dos participantes em peregrinações e outras manifestações de religiosidade popular”.
Entre as 25 sugestões indicadas no documento de trabalho incluem-se “dar visibilidade ao testemunho cristão”, “fazer da caridade a prioridade” dos programas pastorais, ceder “precedência à intimidade com Deus” e formar para “problemáticas” como crentes “divorciados, recasados, em união de facto e outras situações irregulares”.
A Igreja deve igualmente “apostar na evangelização dos novos bairros e urbanizações, das grandes superfícies, das minorias e dos mais pobres”, publicar documentos “simples, breves, espaçados, atuais e voltados para as realidades concretas das pessoas” e pensar num plano evangelizador “de 3 ou 5 anos, para todas as dioceses”.
RM
(Fonte: site Agência Ecclesia)
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