Falar de Deus e falar com Deus devem estar sempre juntos. O anúncio de Deus leva à comunhão com Deus na comunhão fraterna, fundada e vivificada por Cristo. Por isso a liturgia (os sacramentos) não é um tema anexado ao da pregação do Deus vivo, mas a concretização da nossa relação com Deus.
Neste sentido, gostaria de fazer uma observação geral sobre a questão litúrgica. Com frequência, o nosso modo de celebrar a liturgia é racionalista demais. A liturgia converte-se num ensinamento submetido ao critério da compreensibilidade. Isso muitas vezes tem como consequência a banalização do mistério, o predomínio das nossas palavras, a repetição de uma série de palavras que parecem mais inteligíveis e mais gratas às pessoas. Acontece que isso não é apenas um erro teológico, mas também psicológico e pastoral. A onda de esoterismo, a difusão das técnicas asiáticas de relaxamento e de auto-esvaziamento mostram que falta algo nas nossas liturgias.
Precisamos especialmente do silêncio, do mistério supra--individual e da beleza no mundo actual. A liturgia não é uma invenção do sacerdote celebrante ou de um grupo de especialistas. A liturgia - o rito - desenvolveu-se num processo orgânico ao longo dos séculos; encerra o fruto da experiência de fé de todas as gerações. Embora os participantes talvez não compreendam todas as suas fórmulas, percebem o seu significado profundo, a presença do mistério, que transcende todas as palavras. O celebrante não é o centro da acção litúrgica; não está diante do povo em seu próprio nome, não fala de si e por si, mas in persona Christi. O que importa não são as qualidades pessoais do celebrante, mas apenas a sua fé, que deve refletir Cristo. Convém que ele cresça e eu diminua (Jo 3, 30).
(Cardeal Joseph Ratzinger excerto conferência pronunciada no Congresso de catequistas e professores de religião, Roma, 10.12.2000, e publicada no ‘L’Osservatore romano’ de 19.01.2001)
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