Nessa noite de luz [no Natal, aos catorze anos] começou o terceiro período da minha vida, o mais belo de todos, o mais repleto de graças do céu. [...] Tal como os Seus apóstolos eu podia dizer: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos». Sendo ainda mais misericordioso para comigo do que tinha sido para com os Seus discípulos, Jesus pegou Ele mesmo na rede, lançou-a e retirou-a repleta de peixes. Fez de mim uma pescadora de almas; senti um grande desejo de trabalhar pela conversão dos pecadores. [...] O grito de Jesus na cruz ressoava também continuamente no meu coração: «Tenho sede!» (Jo 19,28). Essas palavras acendiam em mim um ardor desconhecido e muito vivo. Queria dar de beber ao meu Bem-Amado e sentia-me eu própria devorada pela sede das almas. [...]
A fim de aumentar o meu zelo, o Bom Deus mostrou-me que Lhe agradavam os meus desejos. Ouvi falar de um grande criminoso que tinha acabado de ser condenado à morte por crimes horríveis e que tudo levava a crer que morreria em pecado. Quis, a todo custo, impedi-lo de cair no inferno. [...] Sentia, no fundo do meu coração, a certeza de que [esses] desejos seriam satisfeitos, mas para me encher de coragem para continuar a rezar pelos pecadores disse ao Bom Deus que tinha a certeza de que Ele perdoaria ao pobre infeliz Pranzini, e que eu acreditaria nisso mesmo que ele não se confessasse nem desse nenhum sinal de arrependimento ─ tal era a confiança que eu tinha na misericórdia infinita de Jesus ─, mas que Lhe pedia apenas um «sinal» de arrependimento, só para minha consolação. A minha prece foi respondida à letra! [...]
Ah! Desde que recebi essa graça única, o meu desejo de salvar as almas aumentou dia a dia; parecia-me ouvir Jesus dizer-me, como à samaritana: «Dá-me de beber!» (Jo 4,7). Era uma verdadeira troca de amor; eu dava o sangue de Jesus às almas e oferecia a Jesus essas mesmas almas refrescadas pelo Seu orvalho divino. Assim, Ele parecia ficar aliviado e, quanto mais Lhe dava a beber, mais a sede da minha pequena alma aumentava, e era essa sede ardente que Ele me dava como a mais deliciosa bebida do Seu amor.
Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
Manuscrito autobiográfico
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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