É com razão que o Senhor, proclamando a beatitude dos pobres, não diz: «O Reino dos céus será», mas: «é vosso». [...] Estão próximos do Reino de Deus os que já possuem e trazem no seu coração o Rei de Quem se disse que servi-Lo é reinar [...]. Os outros que se guerreiem para partilharem a herança deste mundo: «Senhor, minha herança e meu cálice» (Sl 15,5). Combatam entre si até que sejam os mais miseráveis: não lhes desejo nada do que procuram, porque eu «no Senhor encontro a minha alegria» (Sl 103,34).
Tu, herança gloriosa dos pobres! Bem-aventurada riqueza dos que nada têm! Não só nos dás tudo quanto precisamos, como ainda, cheia de glória, transbordas de alegria, porque «uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço» (Lc 6,38). [...]
Que a vossa alma [...] se glorifique na sua humildade, vós os pobres, e que olhe com desdém toda a grandeza deste mundo. [...] Estão-vos preparados bens eternos, e vós preferis as coisas efémeras, semelhantes a um sonho? [...] Como são infelizes aqueles que a bem-aventurada pobreza torna dignos de serem honrados pelo céu, admirados pelo mundo e temidos pelo inferno, e que continuamente, na cegueira do seu espírito, olham a pobreza como uma miséria, a humildade como uma infâmia; àqueles que desejam enriquecer e caem nas armadilhas do diabo, então que tudo lhes pertença! [...] Quanto a vós, os que tendes por amiga a pobreza e encontrais suave a humildade de coração, a Verdade eterna dar-vos-á a certeza de possuirdes o Reino dos céus; Ele guarda fielmente para vós este Reino que vos está reservado.
Beato Guerric d'Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense
Sermão para o dia de Todos os Santos, 6-7; SC 202
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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