Os meios de comunicação social ignoraram a Jornada Mundial da Juventude. E depois?
No ano passado por esta altura, a Igreja Católica lambia as suas feridas na sequência da sua maior derrota de relações públicas em muitos anos. Jornalistas afirmavam com sarcasmo que o escândalo causado por alguns padres pedófilos era o princípio do fim. Os seus seguidores estavam tão chocados que se dizia que "iriam cancelar os seus cartões de inscrição".
Mas se esta leitura pessimista das folhas de chá fosse verdadeira, como se explica a presença de dois milhões de jovens em Madrid durante o fim-de-semana para ouvir um Papa alemão de 83 anos? Todos eles tinham conhecimento das acções desprezíveis de uns quantos padres indignos mas isto não abalara a sua confiança na Igreja ou no seu líder.
Assim, para os simpatizantes do catolicismo, a Jornada Mundial da Juventude 2011 trouxe razões abundantes para terem esperança. Eis sete delas.
A geração mais nova chega à Igreja
Os dois milhões de jovens que assistiram à Missa fizeram um esforço impressionante para fortalecer as suas convicções. Embora a maior parte dos peregrinos tivesse vindo de Espanha e das vizinhas França e Itália, encontravam-se lá centenas de jovens vindos de países como a Austrália e a Nova Zelândia. Cerca de 150 vinham da Rússia! O sacrifício que uma longa viagem e alojamento desconfortável revela que eles estavam firmemente empenhados em fazerem parte da Igreja Católica.
Comparem isto com a Cimeira Mundial da Juventude organizada pelas Nações Unidas em Nova Iorque. É verdade que Ban Ki Moon, o Secretário-Geral da ONU, tem o carisma de uma alface murcha, mas este digno encontro atraiu apenas algumas centenas de pessoas. De quem são as ideias que passarão para a próxima geração?
Bento XVI está a definir o plano de acção moral
Na semana passada, o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha David Cameron reagiu aos tumultos de Londres e de outras cidades inglesas condenando o relativismo moral. "O que a semana passada demonstrou é que esta neutralidade moral, este relativismo - não vai poder continuar." Exactamente. Dão-se alvíssaras a quem adivinhar o nome da primeira figura mundial a insistir na "ditadura do relativismo"! Bento XVI.
O Papa tornou respeitável rejeitar o politicamente correcto, que mina o esforço moral. É óbvio que os líderes mundiais estão a ouvir.
Recordam-se das palavras de despedida de Cameron ao Papa no final da visita deste ao Reino Unido? "Desafiou o mundo inteiro a parar para pensar," disse. Parece que Cameron parou para pensar. A sua reacção aos tumultos veio directamente do discurso de Bento XVI.
Um só homem que trabalha de graça
Um ensaio fascinante no New York Times da semana passada pelo crítico de cinema Neal Gabler lamentava a morte do pensamento profundo: "Vivemos num mundo cada vez mais pós-ideias - um mundo em que ideias importantes e que fazem reflectir mas que não podem ser instantaneamente convertidas em dinheiro têm um valor intrínseco tão baixo que cada vez menos pessoas as geram e cada vez menos canais as difundem, à excepção da Internet. Ideias ousadas estão quase fora de moda."
Talvez em Nova Iorque, mas não em Roma. Obviamente Gabler não leu muito do que Bento XVI tem escrito sobre moralidade, filosofia, estética, economia e responsabilidade social. Mas muitos dos jovens fãs do Papa leram. Num mundo em que as ideias já não cintilam, as suas explodem com possibilidades. E são gratuitas. O que acham que a próxima geração irá pensar?
Um caminho para sair da crise financeira global
Bento chegou lá primeiro. Com a economia mundial à beira do colapso, as pessoas procuram respostas. Certamente que na raiz da crise existe algo mais do que o descontrole dos níveis económicos. Certamente que a economia é sobre mais do que estatísticas e dinheiro.
Bem, isto é precisamente o que Bento XVI (e os seus predecessores) tem dito. E o que disse a jornalistas numa conferência de imprensa no voo de Roma para Madrid: "[Vemos] confirmada na presente crise económica aquilo que já foi visto nas grandes crises anteriores: que uma dimensão ética não é algo exterior aos problemas económicos, mas sim uma dimensão interior e fundamental. A economia não funciona apenas com uma auto-regulação do mercado, precisa de uma razão ética para funcionar para o homem."
Uma condenação do sexo desumanizado e do consumismo
A grande questão dos últimos 200 anos é: o que é a verdadeira liberdade? Fazer qualquer coisa que se quiser? Ou viver de acordo com a verdade? O que a nossa sociedade oferece aos jovens é a liberdade de consumirem até ao limite do cartão de crédito, de terem sexo quando quiserem e com quem quiserem, de viverem imperturbados numa bolha solipsista. Mas esta visão do homem degrada-o, diz Bento XVI. A felicidade vem apenas da descoberta da verdade. Muitos jovens estão desiludidos com a cultura em que vivem, e aquilo que o Papa diz faz muito sentido para quem quiser construir um mundo melhor.
"A descoberta do Deus vivo inspira os jovens e abre-lhes os olhos para os desafios do mundo em que vivem, com as suas possibilidades e limitações. Eles vêem a superficialidade reinante, o consumismo e o hedonismo, a banalização amplamente difundida da sexualidade, a falta de solidariedade, a corrupção. Eles sabem que, sem Deus, seria difícil encararem estes desafios e serem verdadeiramente felizes e, assim, derramarem o seu entusiasmo na obtenção de uma vida autêntica. Mas com Deus a seu lado eles possuirão luz para caminhar e razões para ter esperança, sem restrições perante os seus mais altos ideais, o que motivará seu empenhamento generoso para construir uma sociedade em que a dignidade humana e a fraternidade sejam respeitadas."
A verdade é mais poderosa do que as estatísticas
O discurso mais memorável de Bento XVI em Espanha foi dirigido a professores universitários na jóia da arquitectura espanhola, o Escorial. Sendo ele mesmo um professor, falou com convicção apaixonada sobre a necessidade de oferecer aos estudantes mais do que o conhecimento de porcas e parafusos do trabalho profissional. "Como Platão disse: ‘Busque a verdade enquanto for jovem, pois se não o fizer, mais tarde ela escapará do seu alcance'. Esta aspiração grandiosa é o presente mais valioso que poderão dar aos vossos alunos, pessoalmente e pelo exemplo. É mais importante do que o mero conhecimento técnico ou frios dados puramente funcionais."
As universidades, disse ele, devem ser um santuário afastado de ideologias ou de "uma concepção puramente utilitarista e económica que veria o homem simplesmente como um consumidor". O que poderia ser mais atraente para os jovens do que procurarem o significado último do universo e empenharem-se em compreender o que significa ser autenticamente humano? Se há uma ideia ultrapassada, é o utilitarismo. E Bento oferece XVI uma alternativa.
A Jornada Mundial da Juventude é ainda o segredo mais bem guardado do mundo
Um jornalista meu amigo escreveu um artigo de opinião para um jornal em Sidney. Mas o editor não estava interessado. "Tivemos um destes em Sidney há três anos. Já preenchemos a nossa quota", disseram-lhe. O New York Times - a referência da opinião intelectual nos EUA - praticamente não cobriu a Jornada Mundial da Juventude.
Isto é realmente peculiar - uma reunião de 2 milhões de jovens não é notícia, especialmente depois que algumas centenas de pessoas da mesma idade devastarem Londres? Não há ninguém por aí que possa ligar os pontos?
Mas por que reclamar? Os meios de comunicação e os intelectuais são bons com espuma e bolhas, mas péssimos com correntes profundas. Por acaso eles previram a ascensão do Islão militante, a desintegração da União Soviética, o zumbido da Bomba Populacional ou a Crise Financeira Global?
As grandes histórias são as histórias secretas. Bento XVI sabe disso. Tal como disse aos jornalistas, "A sementeira de Deus é sempre silenciosa; não aparece nas estatísticas. E a semente que Deus planta na Jornada Mundial da Juventude é como a semente de que fala o Evangelho: parte dela cai na beira da estrada e fica perdida; parte cai entre pedras e fica perdida; parte cai entre espinhos e fica perdida; mas uma parte cai em terreno fértil e dá muitos frutos."
Despercebidos pelos meios de comunicação, 2 milhões de jovens embarcaram numa jornada que levará muitos deles a espalhar nas suas terras natais as suas profundas crenças cristãs. Lentamente o mundo mudará. Daqui a trinta anos os meios de comunicação terão uma surpresa colossal.
Michael Cook editor de MercatorNet
Aceprensa
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