São Paulo sempre rejeitou a angústia que representava o cumprimento, à letra, da Lei moisaica e da sua interpretação judaica. Mas isso não quer dizer que o conteúdo da lei moral natural especificado na Lei de Moisés pudesse caducar, nem que a sociedade cristã e as Igrejas pudessem ter em regime anárquico. Da ordem e da disciplina eclesial tinha-se ocupado a Apóstolo claramente desde a primeira Epístola aos Coríntios, no ano 57.
Por outro lado, é evidente que a hierarquia eclesiástica descrita por São Paulo nas Epístolas Pastorais está ainda em período de gestação: ainda não cunhou um vocabulário preciso para designar e distinguir as atribuições e ofícios que competem aos bispos e aos presbíteros, ainda que já seja clara a ordem diferente de bispos e presbíteros, dum lado, e os diáconos, do outro. A diferença de precisão terminológica entra as Pastorais e, por exemplo, as cartas de santo Inácio Mártir de Antioquia, morto em 107, é enorme. Santo Inácio fala, como instituição perfeitamente estabelecida, dos bispos residenciais, com poder monárquico e jurisdição sobre os presbíteros, que actuam com poder delegado neles. Portanto, deve reconhecer-se o carácter muito arcaico das Cartas Pastorais neste ponto e a sua coerência com os anos 65-67, últimos da vida de Paulo.
Nas Pastorais Paulo põe o seu principal cuidado na consolidação das Igrejas já fundadas, para o que se vale dos seus discípulos mais fiéis e competentes, como são Tito e Timóteo. Característica muito expressiva de São Paulo é passar de considerações teológicas profundas, como as de 1 Tim 3, 16; Tit 2,11-14; 3,3-7; 2 Tim 2, 8-9, para indicações e conselhos práticos, muito abundantes, que contemplam preferentemente o comportamento dos cristãos dentro das suas próprias comunidades ou no meio do mundo, no qual se hão-de santificar e que hão-de atrair para a fé com o seu bom exemplo e exercício de virtudes.
(Bíblia Sagrada anotada pela Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra – Volume II, edição em língua portuguesa – Edições Theologica – Braga – As Epístolas de São Paulo – pág. 445/446)
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