Cardeal Joseph Ratzinger
Meditationen zur Karwoche, 1969
O evangelista João faz remontar ao momento da cruz os dois sacramentos [do baptismo e da eucaristia]: vê-os jorrar do lado aberto do Senhor (19,34) e aí descobre o cumprimento de certas palavras de Jesus no Seu discurso de despedida: «Eu vou, mas voltarei a vós» (grego). «Partindo, venho; sim, a Minha partida – a morte na cruz – é também a Minha vinda.»
Enquanto estamos vivos, o corpo não é apenas a ponte que nos liga uns aos outros, é também a barreira que nos separa, que nos encerra no reduto intransponível do nosso eu. [...] O Seu lado aberto torna-se o símbolo da nova abertura que o Senhor adquiriu na morte. Desde então, a barreira do Seu corpo desapareceu: o sangue e a água correm do Seu flanco, através da história, numa imensa onda; enquanto Ressuscitado, Ele é o espaço aberto que a todos nos convida.
O Seu regresso não é um acontecimento longínquo situado no fim dos tempos; iniciou-se já à hora da Sua morte quando, ao partir, Ele veio de forma completamente nova para o meio de nós. Assim, na morte do Senhor, cumpriu-se o destino do grão de trigo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas, se morrer, dará muito fruto (Jo 12, 24). Todos nós vivemos ainda do fruto deste grão que morreu. No pão da eucaristia, recebemos a inesgotável multiplicação dos pães do amor de Jesus Cristo, rico o bastante para saciar a fome por todos os séculos.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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