Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Meditação de Francisco Fernández Carvajal

A PEDRA ANGULAR
– Jesus Cristo é a pedra angular sobre a qual deve ser edificada a vida.
– A fé nos dá luz para conhecermos a realidade das coisas e dos acontecimentos.
– O cristão tem a sua própria escala de valores perante o mundo.



I. NA PARÁBOLA DOS VINHATEIROS homicidas1, Jesus resume a história da salvação. Compara Israel a uma vinha escolhida, dotada de cerca e torre de vigilância para ficar ao abrigo dos ladrões e dos animais. Deus não deixou de dispensar nenhum cuidado à vinha da sua predilecção, ao seu povo, tal como fora profetizado2. Os vinhateiros da parábola são os que conduzem o povo de Israel; Deus é o dono e a vinha é Israel, como Povo de Deus.
O dono envia sucessivas vezes os seus servos à vinha para arrecadar os frutos, mas os servos só recebem maus tratos; essa foi a missão dos Profetas e a acolhida que lhes reservaram. Finalmente, envia o seu Filho, o Amado, pensando que Ele, sim, será respeitado. Os vinhateiros, porém, lançaram-no fora da vinha e o mataram; é uma referência explícita à crucifixão, que teve lugar fora dos muros de Jerusalém3. E Jesus conclui a parábola com estas palavras tomadas de um salmo4:A pedra que os construtores rejeitaram converteu-se em pedra angular.
Estas palavras de Jesus serão recordadas mais tarde por São Pedro diante do Sinédrio, quando já se tiver cumprido a predição contida na parábola: Seja manifesto a todos vós e a todo o povo de Israel que foi em nome de Jesus Cristo Nazareno, que vós crucificastes... Ele é a pedra que, rejeitada por vós, construtores, veio a converter-se em pedra angular5. Jesus Cristo é a pedra-chave que alicerça e sustenta todo o arco em que se apoiam a Igreja e cada homem; sem ela, o edifício desaba.
pedra angular afecta toda a construção, toda a vida: negócios, interesses, amores, tempo... Na vida do cristão, nada pode ser construído à margem das exigências da fé. Não somos discípulos de Cristo a determinadas horas (à hora de rezar, por exemplo) ou em determinados dias (no dia do casamento...). A profunda unidade de vida que o cristianismo exige determina que, sem distorcer a natureza das coisas, tudo seja afitado pelo facto de se ser discípulo de Jesus. Seguir o Senhor é uma atitude interior que influi no núcleo mais íntimo da personalidade e que se converte na característica mais importante da existência do cristão: deve influir na sua vida incomparavelmente mais do que o amor humano na pessoa mais apaixonada.
“Imaginemos um arquitecto – comenta Cassiano – que desejasse construir a abóbada de uma abside. Deve traçar toda a circunferência partindo de um ponto-chave: o centro. Guiando-se por essa norma infalível, deve depois calcular a curvatura exacta e o desenho da estrutura [...]. É assim que um só ponto se converte na peça fundamental de uma grande construção”6. De modo semelhante, o Senhor é o ponto de referência central de todos os nossos pensamentos, palavras e obras.
II. CRISTO DETERMINA ESSENCIALMENTE o pensamento e a vida dos seus discípulos. Por isso, seria uma grande incoerência deixarmos de lado a nossa condição de cristãos à hora de apreciarmos uma obra de arte ou um programa político, de fecharmos um negócio, de planejarmos as férias da família ou escolhermos o colégio para os filhos. Sem desrespeitar as leis próprias de cada matéria e a amplíssima liberdade em tudo o que é opinável, o fiel discípulo de Jesus não restringe o seu juízo a um só aspecto – económico, artístico, cinematográfico... – e não dá por bom um projecto ou uma obra sem mais nem menos. Se nesses planos, nesses acontecimentos ou nessa obra não se observa a devida subordinação a Deus, a sua qualificação definitiva só pode ser negativa, por mais acertados e felizes que sejam os seus valores parciais.
Ao analisar uma proposta de emprego ou um negócio, um bom cristão não vê apenas se ela lhe traz vantagens económicas, mas também se é lícita de acordo com as normas da moralidade, se fará bem ou mal aos outros, se trará benefícios à sociedade... Se for moralmente ilícita, ou mesmo pouco exemplar, as outras características – as vantagens económicas, o prestígio que possa dar – não a convertem num bom negócio. Uma boa operação comercial, se não estiver de acordo com as normas da moral, é um negócio péssimo e irrealizável.
O erro apresenta-se frequentemente vestido de nobres roupagens de arte, ciência, independência económica, liberdade... Mas a força da fé deve ser maior: é a luz poderosa que não raras vezes nos faz ver, por trás das aparências de bem, um mal que se manifesta sob o disfarce de um primor literário, de uma beleza excepcional, de uma promoção justa... Cristo deve ser a pedra angular de todo o edifício.
Peçamos a Deus a graça de vivermos coerentemente a nossa vocação cristã. Assim a fé nunca será uma limitação – “não posso fazer”, “não posso ir”, “não posso ler”, “não posso mandar os meus filhos a esse colégio”... –, mas luz que nos dará a conhecer a verdadeira realidade das coisas e dos acontecimentos, e nos levará a não esquecer que o demónio tenta aliar-se à ignorância, à soberba e à concupiscência que todos trazemos dentro de nós. Cristo é a fornalha que põe à prova o ouro que há nas coisas humanas. Tudo o que não resiste à luminosidade e ao calor dos seus ensinamentos é mentira e engano, ainda que se revista de alguma aparência de bondade ou de perfeição.
Com o critério que nos dá esta unidade de vida – sermos e sentirmo-nos em todas as ocasiões fiéis discípulos do Senhor –, poderemos usufruir e saborear tantas coisas boas pensadas e realizadas por homens que se guiaram por um critério humano recto. Sem a luz da fé, ficaríamos em muitas ocasiões com a escória, que nos enganou porque tinha um certo brilho de bondade, de justiça ou de beleza.
Assim se explica, por exemplo, que pessoas simples, pouco instruídas ou até pouco inteligentes, mas de intensa vida cristã, tenham um critério muito recto, que as faz apreciar acertadamente os diversos acontecimentos e situações da vida. Ao passo que outras, talvez mais cultas ou de grande capacidade intelectual, dão às vezes provas de uma lamentável carência de bom-senso e se enganam nos juízos de valor mais elementares.
Portanto, para termos um critério bem formado e seguro, para chegarmos a ter uma vontade recta, devemos ser homens de fé prática, que pensem, apreciem e queiram as coisas tal como Deus as vê e quer. Assim poremos todas as realidades humanas nobres aos pés de Cristo, santificando-as. Perguntemo-nos: penso, sinto e quero em coerência com a fé em todas as situações? Quando tomo decisões, tenho presente acima de tudo o que Deus espera de mim? E concretizemos os nossos propósitos em pontos em que o Senhor nos pede critérios de comportamento mais decididamente cristãos.
III. O CRISTÃO – por ter alicerçado a sua vida na pedra angular que é Cristo – tem a sua própria personalidade, o seu modo de ver o mundo e os acontecimentos, e uma escala de valores bem diferente da do homem pagão, que tem uma concepção puramente terrena das coisas. Uma fé fraca e tíbia, que pouco influa no dia a dia, “pode provocar em alguns essa espécie de complexo de inferioridade que se manifesta numa ânsia desmedida de «humanizar» o cristianismo, de «popularizar» a Igreja, acomodando-a aos juízos de valor vigentes no mundo”7.
É por isso que o cristão, que está mergulhado nas tarefas seculares, precisa ao mesmo tempo de estar “mergulhado em Deus”, através da oração, dos sacramentos e da santificação dos seus afazeres. Trata-se de sermos discípulos fiéis de Jesus no meio do mundo, na vida normal de todos os dias, com todos os seus afãs e todos os seus acontecimentos.
Poderemos assim viver o conselho que São Paulo dava aos primeiros cristãos de Roma, quando os prevenia contra os riscos de um conformismo acomodatício em face dos costumes pagãos: Não queirais conformar-vos com este século8.
Este inconformismo pode às vezes levar-nos a ter de navegar contra a corrente e a ter de enfrentar o risco da incompreensão de alguns. Mas o cristão não deve esquecer que é fermento9, colocado dentro da massa para levedá-la.
O Senhor é a luz que ilumina e descobre a verdade de todas as realidades criadas, é o farol que oferece orientação aos navegantes de todos os mares. “A Igreja [...] crê que a chave, o centro e a finalidade de toda a história humana se encontram no seu Senhor e Mestre”10. Jesus de Nazaré continua a ser a pedra angular em cada homem.
Pensemos hoje, antes de acabarmos a nossa oração, se a fé que professamos influi cada vez mais na nossa vida: na forma de contemplarmos o mundo e os homens, no modo de nos comportarmos, no desejo eficaz de que todos os homens conheçam de verdade o Senhor, sigam a sua doutrina e a amem.
(1) Mc 12, 1-12; (2) Is 5, 1-7; (3) cfr. Santos Evangelhos, EUNSA, notas a Mc 12, 1-12 e Mt 21, 33-46; (4) Sl 118, 22; (5) At 4, 10-11; (6) Cassiano, Colações, 24; (7) J. Orlandis, O que é ser católico?, EUNSA, Pamplona, 1977, pág. 48; (8) Rom 12, 2; (9) cfr. Mt 13, 33; (10) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 10.


(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal) 

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