Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 6 de março de 2011

Meditação de Francisco Fernández Carvajal

EDIFICAR SOBRE ROCHA
– A santidade consiste em cumprir a vontade de Deus em tudo.
– Querer o que Deus quer. Abandono em Deus.
– Cumprir e amar o querer divino.



I. O SENHOR MANIFESTA uma particular predilecção por aqueles que se esforçam por cumprir em tudo a vontade divina, por aqueles que procuram que os seus atos expressem as palavras e os desejos do seu diálogo com Deus, que se converte então em oração verdadeira. Pois nem todo aquele que diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai..., adverte Jesus no Evangelho da Missa1.
Na ocasião em que o Senhor pronunciou essas palavras, falava diante de muitos que tinham transformado a oração numa mera recitação de palavras e fórmulas, que depois não influíam em nada na sua conduta hipócrita e cheia de malícia. O nosso diálogo com Cristo não deve ser assim: “A tua oração tem de ser a do filho de Deus; não a dos hipócritas, que hão de escutar de Jesus aquelas palavras: «Nem todo aquele que diz Senhor!, Senhor! entrará no Reino dos Céus». – A tua oração, o teu clamar: «Senhor!, Senhor!», tem de andar unido, de mil formas diversas no teu dia, ao desejo e ao esforço eficaz de cumprir a Vontade de Deus”2.
Não bastaria sequer realizar prodígios e obras portentosas – como profetizar em nome do Senhor ou expulsar demónios (se isso fosse possível sem contar com Ele) –, se não procurássemos cumprir a sua vontade amabilíssima. Seriam vãos os maiores sacrifícios, seria inútil toda a nossa actividade febril. Em contrapartida, a Sagrada Escritura mostra-nos como Deus ama e abençoa os que procuram identificar-se em tudo com o querer divino: Achei David, filho de Jessé, varão segundo o meu coração, o qual fará em tudo a minha vontade3. E São João escreve: O mundo passa, como também as suas concupiscências; mas quem cumpre a vontade de Deus permanece para sempre4. E o próprio Jesus declara que o seu alimento é fazer a vontade do Pai e realizar a sua obra5. É isso o que importa, é nisso que consiste a santidade: em fazer da Vontade divina a nossa vontade.
O caminho que conduz ao Céu e à felicidade aqui na terra, diz Santo Hilário de Poitiers, “é a obediência à vontade divina, não a repetição do seu nome”6. A oração deve fazer-se acompanhar do desejo de realizar o querer de Deus que se nos manifesta de formas tão variadas. “Seria estranho – exclama Santa Teresa – que Deus nos estivesse dizendo claramente que nos ocupássemos de alguma coisa que é do seu interesse, e nós não o quiséssemos, por estarmos mais interessados no nosso gosto”7. Que pena se Deus quisesse levar-nos por um caminho e nós nos empenhássemos em seguir por outro!
“Deves ter pensado alguma vez, com santa inveja, no Apóstolo adolescente, João, «quem diligebat Iesus» – a quem Jesus amava. – Não gostarias de merecer que te chamassem «aquele que ama a Vontade de Deus»? Emprega os meios para isso, dia após dia”8.
Esses meios consistirão normalmente em nos perguntarmos muitas vezes ao longo do dia: faço neste momento o que devo fazer?9
II. O EMPENHO EM PROCURAR em tudo a vontade de Deus – a sua glória – dá-nos uma particular fortaleza contra as dificuldades e tribulações que tenhamos de padecer: doenças, calúnias, dificuldades económicas...
No mesmo Evangelho da Missa, Cristo fala-nos de duas casas que tinham sido construídas ao mesmo tempo e que pareciam igualmente sólidas. Mas quando chegaram as chuvas, as enchentes e os ventos fortes, pôs-se de manifesto a grande diferença que havia entre elas: uma manteve-se firme porque tinha bons alicerces; a outra ruiu porque fora construída sobre areia: a sua ruína foi completa. O Senhor chama a quem levantou a primeira casa homem sábio e prudente; ao construtor da segunda, homem néscio.
A primeira resistiu bem ao mau tempo, não pela beleza dos seus adornos, nem por ter uma fachada vistosa, mas graças aos seus alicerces assentados sobre rocha. Perdurou ao longo do tempo, serviu de refúgio ao seu dono e foi modelo de boa construção. Assim é todo aquele que edifica a sua vida sobre o desejo levado à prática de cumprir a vontade de Deus, tanto nas pequenas situações de cada dia como nos assuntos importantes que tenha de resolver ou nas grandes contrariedades que possam afligi-lo.
Não é raro vermos homens enfraquecidos no corpo pela doença, que no entanto revelam uma vontade férrea e um amor heróico, e que suportam com alegria as suas dores; esses homens vêem por cima da doença a mão de um Deus providente que, de uma forma ou de outra, sempre abençoa aqueles que o amam. E o mesmo acontece com muitos que sentem a mordida da difamação e da calúnia...; ou com os que de repente se afundam economicamente e vêem como isso se reflecte nos seus e os consome...; ou com os que passam pelo trauma da morte de um ser querido que ainda estava em pleno desabrochar da vida...
Nesses casos, a vida do cristão que segue o Senhor com obras – a sua casa – não desmorona, porque está edificada sobre o mais completo abandono na vontade de seu Pai-Deus. Abandono que não impedirá essa pessoa de agir, de empregar todos os meios ao seu alcance para curar-se, ou para defender a honra lesada, ou para sair da ruína económica... Mas que a levará a fazê-lo com serenidade, sem aflições, sem amarguras nem rancores.
Dizemos ao Senhor na nossa oração de hoje que queremos abandonar-nos nas suas mãos, que é onde nos encontramos seguros: “Jesus, eu me ponho confiadamente nos teus braços, escondida a minha cabeça no teu peito amoroso, pegado o meu coração ao teu Coração: quero, em tudo, o que Tu quiseres”10. Só o que Tu quiseres, Senhor! Não quero mais nada!
III. PARA PERMANECERMOS FIRMES nos momentos difíceis, devemos começar por aceitar de boa cara, nos tempos de bonança, as pequenas contrariedades que surgem no trabalho, na família..., em toda a trama da vida normal, e cumprir com fidelidade e abnegação os nossos deveres de estado: o estudo, o cuidado da família... Assim se aprofundam os alicerces e se fortalece toda a construção. A fidelidade no que é pequeno, naquilo que mal se nota, permite-nos a fidelidade no que é grande11, a coragem nos momentos decisivos.
Adquiriremos então o hábito de ver a mão de Deus providente em todas as coisas: na saúde e na doença, na secura da oração e no consolo, na calma e na tentação, no trabalho e no descanso... E isso nos encherá de paz e ao mesmo tempo dilatará o nosso coração, pois saberemos ver nesse entrançado de fidelidades, “não tanto a pequenez das coisas, o que é próprio de espíritos mesquinhos, mas a grandeza da vontade de Deus, que devemos respeitar magnanimamente, mesmo nas coisas pequenas”12.
Um alicerce sólido e forte pode servir também de apoio para outras edificações mais fracas. A nossa vida interior, impregnada de oração e de realidades, pode servir de ajuda a muitos outros homens, que encontrarão em nós a fortaleza necessária quando as suas forças fraquejarem. Começaremos a perceber que a rectidão da nossa conduta, a serenidade das nossas atitudes, a paciência perseverante e acolhedora do nosso trato, despertam nos outros o desejo de desabafarem connosco as suas mágoas, de nos pedirem conselho, e assim teremos ocasião de falar-lhes de Cristo, que é o alicerce das nossas vidas e o segredo da nossa paz.
Não nos separemos em nenhum momento de Jesus. “Quando te vires atribulado..., e também na hora do triunfo, repete: – Senhor, não me largues, não me deixes, ajuda-me como a uma criatura inexperiente, leva-me sempre pela tua mão!13 E cumprindo o que Ele nos vai ensinando para o nosso bem, chegaremos até o final do nosso caminho, onde o contemplaremos face a face.
E junto de Jesus encontraremos sua Mãe, Maria, que é também nossa Mãe. Recorremos a Ela nestes últimos minutos de oração para que o nosso diálogo com Jesus não seja nunca um clamor vazio e para que tenhamos sempre um único empenho na nossa vida: cumprir a santíssima vontade do seu Filho em todas as coisas. “– Senhor, não me largues, não me deixes, ajuda-me como a uma criatura inexperiente, leva-me sempre pela tua mão!”
(1) Mt 7, 21-27; (2) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 358; (3) cfr. Act 13, 22; (4) 1 Jo 2, 17; (5) cfr. Jo 4, 34; (6) Santo Hilário de Poitiers, em Catena Aurea, vol. I, pág. 449; (7) Santa Teresa de Jesus, Fundações, 5, 5; (8) São Josemaría Escrivá, op. cit., n. 422; (9) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 772; (10) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 529; (11) cfr. V. Lehodey, El santo abandono, pág. 657; (12) J. Tissot, A vida interior, pág. 261; (13) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 654.


(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal) 

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