Em todos os anos que leva trabalhando com doentes terminais, o médico Jordi Valls - um dos mais destacados peritos espanhóis em cuidados paliativos - nunca recebeu um único pedido de eutanásia.
Numa entrevista concedida ao jornal ABC, Valls relata os desafios de enfrentar diariamente a morte de seus pacientes, todos doentes terminais, da Fundação Instituto São José, dos Irmãos de São João de Deus, onde dirige a equipe de atenção psicossocial para doentes avançados da Obra Social de La Caixa, que já atendeu onze mil pacientes.
Para Valls a eutanásia não é, "de nenhuma forma", um pedido frequente. "Trabalhei durante anos em atenção directa a pacientes terminais, e ninguém jamais me pediu a eutanásia. Costuma-se se dizer que o melhor tratamento contra a eutanásia é um bom cuidado paliativo, pois a maioria dos que dizem 'eu não quero viver' resulta que estão dizendo na verdade: 'eu não quero viver neste estado, e assim que se trata o ‘neste’, habitualmente já se não repete o 'não quero viver'. É preciso ser sensíveis, caridosos, e atender desde o lado mais humanista da medicina", afirma.
O médico sustenta que sua Unidade de Cuidados Paliativos não é um lugar triste. "Ninguém nesta casa nem em nenhum outro centro recebe mais recompensa e cuidados que aqueles que trabalham nela. As pessoas (tanto o doente como seus familiares) sentem-se agradecidas porque os escutam, os acompanham e tornam mais agradável o processo da morte", revela o doutor.
Valls considera que "é injusto morrer sem saber que está morrendo, porque talvez há muitas coisas a serem resolvidas. Cada um gosta de encerrar seus assuntos, e situar a pessoa nesta esfera de realidade pode acrescentar paz à sua morte. Caso, por exemplo, tenha uma irmã com quem não fala há anos e sabe que está morrendo, pois certamente o melhor tratamento que a ser aplicado é ligar para sua irmã, fazer as pazes e ficar tranquilo. Nos cuidados paliativos aprende-se que às vezes o melhor tratamento da dor não é a morfina".
Além disso, recorda que "não só é preciso cuidar dos que vão morrer, mas também prestar atenção aos quem sobrevivem. Essa é uma carência que possivelmente os hospitais têm, onde se faz um trabalho de cuidados físicos muito bom, mas muitas vezes nem as necessidades sociais nem as psicológicas estão atendidas. E muito menos as espirituais, sejam de tipo religioso ou não".
(Fonte: ‘ACI Digital’ com adaptação de JPR)
1 comentário:
Boa noite!
Sou enfermeiro em Cuidados Paliativos desde que terminei o curso - há 3 anos - e confirmo em absoluto o que diz o médico!
De facto, muitos dos poucos que pedem para "não viver" referem-se ao "não viver assim" e não ao "querer morrer".
Tantas e tantas histórias que poderia contar, que presenciei e vivi, das perto de 300 pessoas e famílias que cuidei nestes (apenas) três anos!
Desgastante, sem dúvida!
Gratificante? Sem palavras!
Um abraço, sob o olhar materno de Maria Santíssima, Mãe do Autor da Vida!
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