Papa coloca de lado a hipótese de um calendário comum aos ascetas de Qumran
Bento XVI reformulou a sua posição sobre a data da “Última Ceia”, no novo volume da obra «Jesus de Nazaré», colocando de lado a hipótese de ter sido usado um calendário comum aos ascetas de Qumran.
Numa passagem deste segundo volume, que a Agência ECCLESIA divulga hoje, o actual Papa aborda a contradição entre os relatos do Evangelho de João e o dos chamados sinópticos (Marcos, Mateus e Lucas) quanto ao momento em que teve lugar esta ceia.
Bento XVI destaca as “tentativas para conciliar as duas cronologias”, em particular o trabalho da estudiosa francesa Annie Jaubert, que tem vindo a desenvolver a sua tese, desde 1953, numa série de publicações.
Jaubert considera que Jesus celebrou a Páscoa segundo um calendário sacerdotal, diferente do das autoridades judaicas.
Bento XVI considera ser “pouco verosímil o uso, por parte de Jesus, de um calendário difundido principalmente em Qumran”, local da Palestina, na margem noroeste do Mar Morto, em que viveu uma comunidade de ascetas judeus.
“Não negaria a esta tese qualquer probabilidade, mas, tendo em consideração os seus problemas, penso que não é pura e simplesmente possível acolhê-la”, assinala.
Em 2007, falando no Vaticano, o Papa tinha afirmado que Jesus “celebrou a Páscoa com os seus discípulos, provavelmente, segundo o calendário de Qumran, portanto, pelo menos um dia antes" do que é narrado nos Evangelho sinópticos.
Bento XVI assinala agora a “multiplicidade e a complexidade do mundo judaico no tempo de Jesus: um mundo que, não obstante o considerável aumento dos nossos conhecimentos das fontes, podemos reconstituir apenas de modo insuficiente”.
No seu novo livro, Bento XVI escreve que a cronologia sinóptica (do grego «visto conjunta¬men¬te», expressão que sublinha a semelhança entre os textos) está “comprometida” pelo facto de situarem o processo e a crucifixão de Jesus “na festa da Páscoa”, muito importante para os judeus.
No relato de São João, pelo contrário, “processo e crucifixão têm lugar no dia antes da Páscoa, na parasceve, a «preparação», e não na própria festa”.
João, precisa Joseph Ratzinger, “tem o cuidado de não apresentar a Última Ceia como ceia pascal”.
O Papa segue o trabalho do exegeta católico John P. Meier, padre dos EUA, para quem “é preciso escolher entre a cronologia sinóptica e a joanina”, afirmando que a decisão “deve ser favorável a João”.
Meier é autor da obra «Um Judeu Marginal: Repensar o Jesus da História», publicada desde 1991, em quatro volumes e cerca de 3000 páginas.
Bento XVI cita o autor, escrevendo que Jesus “convidou os seus para uma Última Ceia de carácter muito particular, uma Ceia que não pertencia a nenhum rito judaico determinado, mas era a sua despedida, na qual Ele deu algo novo, isto é, Se deu a Si mesmo como o verdadeiro Cordeiro, instituindo assim a sua Páscoa”.
O novo livro fala também do sentido da ceia de Jesus e os seus discípulos, em relação com a tradição pascal judaica.
“Mesmo se esta refeição de Jesus com os Doze não foi uma ceia pascal segundo as prescrições rituais do judaísmo, num olhar retrospectivo tornou-se evidente, com a morte e a ressurreição de Jesus, o significado intrínseco do todo: era a Páscoa de Jesus”, pode ler-se.
«Jesus de Nazaré. Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição» é lançado no Vaticano, a 10 de Março, e vai ser apresentado em várias dioceses de Portugal, a partir de dia 11.
OC
(Fonte: site Agência Ecclesia)
Leia as páginas do livro relativas a este tema clicando no link abaixo.
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