Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Reino Unido: católicos e ateus dispostos a discordar com cortesia

A agressiva hostilidade mostrada por alguns grupos aquando da visita de Bento XVI ao Reino Unido entre 16 e 18 de Setembro de 2010 levou alguns ateus britânicos a proporem a adopção de um tom mais respeitoso nas suas críticas. A ideia poderia resumir-se do seguinte modo: se discordamos dos católicos, pelo menos façamo-lo com boas maneiras e sem distorcer as suas posições.

O estilo visceral dos chamados "novos ateus" acabou por fazer corar os ateus que se limitam a negar a existência de Deus, e mesmo aqueles que, assumindo posições mais combativas, promovem o ateísmo sem cair nas estridências de Richard Dawkins e companhia.



Paul Sims, chefe de redacção da revista New Humanist, é um dos ateus que escreveu a favor da mudança de tom nos debates públicos sobre a fé, apesar de na sua revista predominar um estilo de confrontação que não se ajusta muito à realidade: como se católicos e ateus arranjassem conflitos todos os dias por questões de fé.

A New Humanist apresenta a questão da existência de Deus como um campo de batalha onde uns têm que vencer os outros. Serve de exemplo a capa do número de Novembro/Dezembro de 2010, publicado após a viagem de Bento XVI ao Reino Unido: "Chegou, viu e pontificou. Quem ganhou com a visita do Papa?".

Não insultar já é um passo em frente

Poucos dias depois do encontro de Bento XVI com a Rainha Isabel II de Inglaterra, Sims perguntou no seu blogue se era lícito concluir que o Papa tinha equiparado ateísmo a nazismo ao denunciar no seu discurso o "extremismo ateu do século XX" .

"E se em vez de comparar os ateus aos nazis ele queria simplesmente dizer que uma sociedade sem Deus fica sem fundamentos morais para combater o mal? Será assim tão estranho que um Papa afirme tal coisa? Nós, ateus, podemos estar em profundo desacordo com tal ponto de vista, mas irá isso dispensar -nos de ouvir o que ele disse?".

Que seja Sims a escrever isto, tem o seu mérito, pois ele está plenamente convencido de que quem deve mudar é a Igreja Católica (e não os auto-denominados "humanistas" ou "livres pensadores", que se opõem aos "dogmáticos" crentes).

Evidentemente, também Sims e os seus correligionários poderiam perguntar-se se a sua posição é razoável. Afinal de contas, dar por assumido que as escolas devem ser laicas e que a religião é em princípio coisa do foro privado não é um bom exemplo de "livre-pensamento".

Mesmo assim, o propósito de Sims - baixar o tom beligerante dos críticos em relação ao Papa - é já um primeiro passo. Se bem que exigir respeito a quem discorda seja o mínimo que se pode pedir numa sociedade pluralista, nunca é de mais lembrá-lo, à vista da campanha de insultos que Bento XVI sofreu antes de visitar o Reino Unido.

O primeiro debate

Foi precisamente a atitude intolerante dos que procuravam boicotar a viagem de Bento XVI que levou o presidente do Central London Humanist Group Alan Palmer a propor a realização em Conway Hall de um debate público entre ateus e católicos, antes de o Papa aterrar em Inglaterra.

Do lado dos ateus participaram catorze membros da coligação Protest the Pope (entre outros, Palmer e Sims); do lado católico, oito elementos da Catholic Voices, uma iniciativa criada por uma equipa de comunicadores e destinada a ensinar os católicos a agir com desenvoltura nos meios de comunicação (cfr. www.aceprensa.com, 10-09-2010).

O debate durou duas horas e foi bastante tumultuoso. Mas, segundo explica Sims ao Catholic Herald, serviu pelo menos para "cada parte ficar mais esclarecida sobre aquilo que a outra defende, tudo isto dentro de atitudes razoáveis".

Jack Valero, porta-voz da beatificação do cardeal Newman e um dos promotores da Catholic Voices, também deu o encontro por positivo, mesmo reconhecendo a "falta de interesse em superar as diferenças".

Dever-se-á dizer que os membros do Protest the Pope não representam o "ateu médio", que nega a existência de Deus e ponto final. Este grupo surgiu para coordenar toda a contestação à visita de Bento XVI ao Reino Unido.

Daí que os temas abordados no debate fossem tão polémicos: a SIDA e os preservativos; a adopção por uniões do mesmo sexo; os abusos sexuais cometidos por alguns clérigos, etc.

Debates para conhecer "o outro"

O último número da New Humanist (Janeiro/Fevereiro 2011) retoma a ideia de favorecer um clima de diálogo entre ateus e católicos. O prato forte é um artigo assinado por Sims, no qual responde a quem diz que este tipo de debates não serve para nada.

Referindo-se ao encontro em Conway Hall, escreve Sims: "Como podem imaginar, houve bastantes discrepâncias; e duvido que algum de nós tivesse regressado a casa com as ideias mudadas. Mas como todos nós mostrámos possuir convicções firmes, o debate decorreu de tal modo que podia muito bem ter acabado ao balcão de um bar".

Sims admite que as discussões geradas pela visita do Papa deviam ter tido outro tom. E julga ser aqui, no modo de abordar as discrepâncias, que o respeito pode marcar a diferença.

Para explicar isto, Sims recorre à noção de "cortesia" tal como o sociólogo Keith Kahn-Harris a está a aplicar entre a comunidade judaica da Grã-Bretanha para desactivar os aspectos mais conflituosos do discurso Israel vs. Palestina.

Na opinião de Kahn-Harris, a cortesia não procura directamente eliminar as diferenças, mas afecta o modo como discordamos dos outros sem lhes faltar ao respeito. Trata-se, afirma ele, de preparar o terreno para mais facilmente aproximar posições; de gerar oportunidades para descobrir pontos comuns.

E Sims conclui: "Justa ou injustamente, instalou-se na opinião pública a ideia de um ‘ateísmo agressivo', coisa para que tanto humanistas como laicos devem estar alerta, se de verdade queremos influir nos debates que nos afectam. Se um pouco de interacção civilizada com os crentes nos ajuda a consegui-lo, não valerá a pena?".

Não é fácil saber o que pretende Sims. Acabamos por ficar com a dúvida de saber se se trata simplesmente de uma mudança de estratégia para evitar uma má imagem para a causa "humanista" ou se existe uma autêntica vontade de diálogo.

Catholic Voices converte-se em academia permanente

Mais ambicioso parece o plano da Catholic Voices, iniciativa surgida aquando da visita de Bento XVI. Pensada inicialmente para ensinar os católicos correntes a explicar nos meios de comunicação, com conhecimento de causa, a posição da Igreja sobre algumas questões controversas, pretende agora organizar também debates públicos com pessoas das mais variadas tendências ideológicas.

Chama-se agora The Catholic Academy e visa continuar a formar a equipa de porta-vozes recrutado pela Catholic Voices e seleccionar outros.

As sessões de preparação, dirigidas por especialistas em comunicação, terão lugar em Manchester entre Março e Julho.

Juan Meseguer

Aceprensa

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