Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O MEDO DO DEMÓNIO? (5)

Diz-nos o Catecismo da Igreja Católica
418. Como consequência do pecado original, a natureza humana ficou enfraquecida nas suas forças e sujeita à ignorância, ao sofrimento e ao domínio da morte, e inclinada para o pecado – inclinação que se chama «concupiscência» .

Assim o Demónio serve-se dessa nossa inclinação para o pecado, para tentando-nos, nos levar a pecar, e pelo pecado nos afastar de Deus, razão pela qual e mais uma vez a nossa vigilância tem de ser constante, com uma vivência real e verdadeira da fé que afirmamos professar.

E não nos enganemos, pois é muitas vezes nas mais “pequeninas” coisas que nos deixamos enredar e, em vez de caminharmos em Cristo como é nosso desejo, caminhamos “distraídos”, deixando-nos envolver em coisas que parecem um bem, mas que afinal nos vão afastando do bem que nos é dado quando vivemos segundo a vontade Deus.

Reflictamos agora como por vezes nos podemos deixar levar na tentação subtil, quando nos dispomos a servir, (mesmo fazendo-o em Igreja), que nos leva a afastarmo-nos do bom propósito de algo a que fomos chamados para o bem comum.

Uma história verdadeira, resumidamente, a propósito do que acima é referido.



“Passados uns tempos de ter iniciado a minha caminhada num Grupo de Oração, vieram ter comigo para eu fazer um ensinamento sobre a Palavra de Deus, pois era necessário o grupo ter alguém que o fizesse semanalmente.

Apeteceu-me recusar, lembro-me que ofereci muita resistência ao “pedido”, (até porque eu era muito tímido para falar em publico), mas lá me dispus a fazê-lo.
Preparei-me, muito bem preparado, e à medida que o ia fazendo ia crescendo em mim a certeza de que tudo iria sair muito bem, que eu era inteligente, etc., e portanto não iria haver problemas e até iriam ficar espantados com as minhas capacidades.
No dia semanal da oração lá estava eu convencido que iria ser muito fácil. Quando chegou o momento, levantei-me, rezaram por mim, e eu comecei a falar.
Disse duas ou três frases, calei-me, fiquei envergonhadíssimo e disse: Eu não sou capaz, e sentei-me.
Nessa altura o Marcelo, (hoje sacerdote), voltou-se para mim e disse: Tu és capaz Joaquim, não desistas.
Levantei-me outra vez e falei, falei não sei o quê, mas falei o que me vinha ao coração. Foi uma lição que não esqueci.

A partir daí comecei a fazer os ensinamentos, não só no meu grupo, mas passado algum tempo noutros grupos para onde me convidavam.”

Por esta história podemos perceber dois tipos de tentações, diria quase antagónicos, mas que no fundo apenas pretendem afastar-nos daquilo que somos chamados a fazer.

Por um lado o auto-convencimento de que sou capaz sozinho, e por isso apenas me basta estudar, reflectir e confiar nas minhas capacidades.

Claro que tudo isso é necessário pois Deus serve-se daquilo que cada um é, mas se não nos entregarmos nas Suas mãos, se não nos abrirmos ao Espírito Santo, «que fala em nós» Mt 10,20, como podemos nós transmitir o que Deus quer dizer a nós próprios, e por nós aos outros?

Podemos fazer um belo discurso, com belas palavras, mas esse discurso não terá “efeitos” na vida daqueles que ouvem, porque está “vazio” de Deus, e assim, algo que parecia bom, acaba por não edificar, acaba por não tocar os corações que precisam ser tocados.

Por outro lado, oposto ao primeiro, a assunção de que não somos capazes de fazer aquilo que nos é pedido.
Esta posição que parece realmente oposta à primeira, não o é no entanto em verdade, porque a maior parte das vezes se baseia no medo de falhar, portanto numa vergonha humana, porque verdadeiramente estamos a contar apenas connosco para o fazermos.

A “obra” parece-nos demasiadamente grande e somos levados a recusá-la porque apenas confiamos em nós e assim não usamos os talentos que Deus nos dá e que vão permanecendo escondidos, muitas vezes até para nós, porque nunca nos apercebemos deles, porque não os exercitámos.

Não era Pedro um simples pescador?

E no entanto o Espírito Santo fez nele a obra necessária.

Os talentos que Deus nos dá, são sempre para a edificação de todos no cumprimento da missão a que todos os cristãos são chamados, e se deles não nos servimos, pecamos por omissão e também porque recusamos aquilo a que somos chamados por Deus, mesmo naquilo a que se possa chamar de “serviços mais simples”, mas que o não são, porque todos têm a mesma dignidade aos olhos de Deus.

Outra história que ilustra outra forma de sermos tentados a afastar-nos do essencial, para nos perdermos no “acessório”.

“Ao falar em público expunha-me, e as pessoas vinham ter comigo e isso envaidecia-me, orgulhava-me, julgando eu severamente esses meus pecados. Havia, portanto, uma luta interior em mim, por causa do meu orgulho, da minha vaidade.

Num retiro da Comunidade Pneumavita, e durante a adoração nocturna ao Santíssimo Sacramento, pedi ao Senhor que me “libertasse” de fazer os ensinamentos, porque me estava a fazer pecar, porque me estava a “ocupar” numa luta constante contra os meus sentimentos de orgulho. Dormi descansado, sabendo que Ele não deixaria de responder ao meu apelo.

No outro dia e no final do retiro o Padre Lapa perguntou se alguém queria partilhar, enfim dar testemunho.

Depois de algumas pessoas terem falado, levantou-se um homem que disse mais ou menos isto:
Não vou falar sobre o retiro, mas tenho de testemunhar isto que me aconteceu. Sou um jogador inveterado e gasto todo o meu dinheiro no jogo. Estou no Renovamento Carismático há uns anos, já rezaram por mim, para me libertar deste vício, estive alguns dias sem jogar, mas volto sempre ao mesmo.

No princípio deste ano fui a um grupo de oração perto de Monte Real.

Voltando-se para mim, disse então:

Ali o Joaquim, fez um ensinamento sobre os vícios que acontecem nas nossas vidas e nos escravizam, e eu desde essa noite, já lá vão 6 meses, nunca mais joguei.

Calculam como eu fiquei, não orgulhoso, mas envergonhado, corado, sem saber onde me meter.

Percebi o “recado” de Deus!”

Tinha-me respondido, não como eu queria, mas de modo a que eu percebesse que se queria estar ao Seu serviço, tinha de enfrentar as dificuldades, e, mais do que isso, que o inimigo se serve de coisas aparentemente boas, (libertar-me das razões do meu orgulho), para nós não utilizarmos os dons, os talentos que o Senhor nos dá para O servirmos, servindo os outros.

Levou-me a perceber que nunca sabemos quando uma palavra, um gesto, uma atitude que Deus coloca em nós, vai servir o outro, vai mudar a sua vida, vai dar-lhe paz, vai fazê-lo sentir-se amado, acolhido, vai ser o “empurrão” decisivo para uma tomada de decisão que mude a sua vida, por isso mesmo temos de estar disponíveis a sermos utilizados por Deus, servindo-nos dos dons e talentos que em nós coloca.

Por aqui percebemos como muitas vezes somos levados a lutar obcecadamente contra defeitos nossos, o que nos leva a afastar-nos do essencial, a não nos abrirmos à graça de Deus, e mais do que isso, não confiando em Deus, colocarmos a nossa luta nas nossas capacidades.

E se apenas confiamos em nós, a nossa luta contra o Demónio e as suas tentações estará perdida, porque nada podemos sem a ajuda de Deus.

Diz-nos o Santo Padre Pio
«Não vos esforceis para vencer as tentações, porque esse esforço as reforçariam. Desprezai-as e não vos detenhais nelas.
Acaso não é por inspiração do Espírito Santo que sabemos que, quanto mais uma alma se aproxima de Deus, mais deve estar preparada para as tentações?
Portanto, se é assim, coragem. Combate fortemente e receberás o prémio reservado às almas fortes.
Deves recorrer a Deus durante os ataques do inimigo, em Deus deves confiar e d’Ele deves esperar todo o bem. Não te fixes voluntariamente no que o inimigo te apresenta.
Lembra-te que vence quem foge.
Aos primeiros momentos de tentação, deves desviar o pensamento e recorrer ao Senhor.
Diante d’Ele põe-te de joelhos e, com grande humildade, repete esta pequena oração: “Tem misericórdia de mim, Senhor, pois sou uma pobre doente”.
Em seguida levanta-te e, com santa indiferença prossegue os teus afazeres.»

Outra forma de tentação hoje em dia muito presente é o activismo excessivo, e aqui apenas falamos desse activismo em Igreja.

Somos tentados a abraçar todas as causas, todos os serviços, todas as actividades e logo à partida um mal se detecta: Quem tudo quer fazer, nunca faz nada bem, e raramente acaba o que começa.

Depois este activismo excessivo leva sempre a que se fechem as portas a outros que também querem ajudar, mas já não encontram espaço, porque nós ocupámos os espaços todos.
Leva ao orgulho, sem dúvida, porque leva ao auto-convencimento de que somos insubstituíveis e que sem nós nada se faz.

Assim, também leva à permanência “eterna” à frente de serviços, de actividades, etc., o que provoca sempre um “deserto” à nossa volta e nos leva a dizer, supostamente com humildade, que não podemos sair das nossas “funções” porque não há ninguém para nos substituir.

Mas esse activismo leva-nos também, por falta de tempo, a descurarmos a nossa oração particular, a nossa meditação da Palavra de Deus, enfim o nosso crescimento em conhecimento para melhor amarmos e servirmos a Deus e aos outros.

Até porque esse activismo excessivo leva-nos a concentrarmo-nos em nós, no nosso “gozo” e “prazer”, de tal modo que a verdadeira caridade fica afastada das nossas actividades e o que fazemos é para nosso deleite e não para servirmos a Deus, servindo os outros.

O Papa Bento XVI chama-nos a atenção para este activismo em pelo menos duas ocasiões.

Na Encíclica DEUS CARITAS EST
37. Chegou o momento de reafirmar a importância da oração face ao activismo e ao secularismo que ameaça muitos cristãos empenhados no trabalho caritativo.


E numa catequese sobre São Bernardo de Claraval
«Tem outro escrito que quero assinalar, o «De consideratione», um breve documento dirigido ao Papa Eugénio III.
O tema dominante deste livro, sumamente pessoal, é a importância do recolhimento interior -- e o diz a um Papa --, elemento essencial da piedade. É necessário prestar atenção nos perigos de uma actividade excessiva, independentemente da condição e o ofício que se desempenha, observa o santo, pois -- como diz ao Papa desse tempo, e a todos os Papas e a todos nós -- as numerosas ocupações levam com frequência à «dureza do coração», «não são mais que sofrimento para o espírito, perda da inteligência, dispersão da graça» (II, 3).
Esta advertência é válida para todo tipo de ocupações, inclusive às inerentes ao governo da Igreja.»

Mas se reflectirmos ainda mais ao que pode levar este activismo excessivo, pensemos em alguém que é casado e tem uma família, e assim percebemos como o mesmo é pernicioso, e pode conduzir a danos terríveis na família e na própria vivência da fé pela família.

O homem e/ou a mulher que são chamados ao Matrimónio têm como prioridade a sua família, (a “sua” igreja doméstica), para além, obviamente, da sua prática de vivência diária da fé, individual e em comunhão de Igreja.

Se estão envolvidos, ou se deixam envolver em actividades excessivas, terão consequentemente de faltar em muitas ocasiões à sua comunhão familiar.

Se for um só deles, sofre o outro e os filhos, se forem os dois, sofrem os filhos, sem dúvida, e poderão sofrer os avós e os netos.

Fica destruída a unidade, a comunhão, e o amor familiar, parecendo no fundo que estão a fazer um bem, pois estão a “trabalhar” para a Igreja, pois estão a “fazer” caridade.

Mas pior do que isso, porque aos outros, aos que sofrem pela ausência, a “razão última” de tal acontecer parece ser a Igreja, parece ser Deus!

Ora isto, leva com certeza, a uma revolta contra a Igreja, contra Deus, por parte daqueles que sofrem essa falta de comunhão familiar.

Por aqui podemos perceber como uma coisa aparentemente tão boa, como o estar envolvido em actividades da Igreja, em actividades caritativas, se for em excesso, sem bom senso, sem discernimento, acaba por conduzir a um mal de difícil reparação.

Atentemos ao que nos diz a Constituição Pastoral GAUDIUM ET SPES
52. A família é como que uma escola de valorização humana. Para que esteja em condições de alcançar a plenitude da sua vida e missão, exige, porém, a benévola comunhão de almas e o comum acordo dos esposos, e a diligente cooperação dos pais na educação dos filhos. A presença activa do pai contribui poderosamente para a formação destes; mas é preciso assegurar também a assistência ao lar por parte da mãe, da qual os filhos, sobretudo os mais pequenos, têm tanta necessidade; sem descurar, aliás, a legítima promoção social da mulher.

Em tudo e mais uma vez, devemos vigiar, devemos discernir cada situação, cada decisão, e em todo o momento deixarmos que Deus fale ao nosso coração, pedindo também humildemente conselho, a quem nos pode aconselhar.

Marinha Grande, 8 de Fevereiro de 2011

(continua)

Joaquim Mexia Alves
http://queeaverdade.blogspot.com/2011/02/o-medo-do-demonio-5.html

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