Muitas pessoas julgam que as superstições se referem apenas àquelas coisas mais comuns, como “não passar debaixo de uma escada”, “do azar de um espelho partido”, “do número 13”, etc.
Mas verdadeiramente as superstições vão muito para além disso pois confinam com o mundo do oculto.
Só por esta palavra, oculto, podemos desde logo perceber, com simplicidade, o erro que estas práticas envolvem.
Tudo o que é oculto, escondido, dissimulado é contrário a Deus, porque Deus é a Verdade que se revelou e se revela aos homens, para que melhor O conheçam e amem, e assim vivam segundo a Sua vontade, aceitando a salvação que Ele mesmo oferece ao homem.
E esse caminho de salvação leva à libertação do homem de tudo o que é oculto, de tudo o que, portanto, não se revela à luz da verdade.
Percebamos assim e também, como são ridículas certas superstições amplamente divulgadas, que ninguém diz seguir, mas de que muita gente tem medo, e às escondidas, (oculto), acabam por praticar.
Claro que todas as superstições têm uma “explicação” tradicional, que vem normalmente do tempo em que o oculto imperava mais sobre a terra, do que a luz da verdade, em que o homem vivia mais no medo do oculto, do que na liberdade do amor de Deus.
Mas não é verdadeiramente ridículo atribuir à quebra de um espelho, sete anos de azar?
Ou ao número treze um predestinado azar?
Ou ainda ao bater com as “nozes dos dedos” na madeira, o afastamento de qualquer mal?
É aliás tão ridículo, que a maior parte das pessoas que praticam estas superstições, não o fazem “às claras”, precisamente porque têm vergonha de cair no ridículo, ou então praticam-nas com uma suposta indiferença irónica, mas a que no fundo está subjacente um medo do oculto.
E se estas práticas são ridículas em qualquer homem, são-no ainda mais num cristão católico, que deve ter toda a sua confiança e esperança centrada em Deus, em Jesus Cristo que se fez Homem, para libertar o homem de todo o oculto que o aprisionava, (as trevas do medo, o pecado, o desconhecimento de Deus), e por Sua graça alcançar a salvação.
Mas a verdade é que todos os dias vemos cristãos “baterem com os dedos na madeira”, e outras coisas mais, que mesmo sendo por hábito rotineiro, não deixam de ser erradas e passam um mau testemunho a quem a elas assiste.
Tal como, por exemplo, o uso de amuletos, (como figas, ferraduras, signos e tantos mais), às vezes “misturados” no mesmo fio ao pescoço, ou no mesmo local, com Crucifixos, com medalhas de Nossa Senhora ou de Santos.
Ou as “pirâmides” e tantas outras coisas, espalhadas pelas casas, pelos locais de trabalho, “a par”, com a Bíblia, e outros símbolos verdadeiramente cristãos.
Ou ainda os terços pendurados nos automóveis, muito mais como “amuleto”, do que como sinal da presença de Deus, como sinal de oração contínua.
Que confusão reina nas nossas cabeças, nos nossos corações!
A nossa confiança e esperança é em Deus, ou pelo sim pelo não, vamos também usando esses amuletos, de modo a estarmos bem “com Deus e com o Diabo”?
E isto leva a perguntarmo-nos, se quando oramos o fazemos com fé e confiança, ou apenas a “ver se dá”, se temos alguma resposta?
É que muitas vezes parece que as nossas orações são do tipo: “ou me dás o que eu quero, ou vou procurar noutro lado!”
Ou seja, com essa prática pretendemos muito mais “servir-nos” de Deus, do que servir a Deus!
As superstições são tão terríveis e enganadoras que nos podem levar até, (mesmo na prática da oração e dos sinais sacramentais), a pecar, caindo na tentação de atribuir eficácia, apenas e só, a fórmulas e acções, (o que não fica longe de um conceito de magia), quando, mais uma vez, a nossa fé, a nossa confiança, a nossa esperança, está e deve estar apenas e só no Deus de amor que se nos revela, nos chama e congrega.
Vejamos o Catecismo da Igreja Católica.
A SUPERSTIÇÃO
2111. A superstição é um desvio do sentimento religioso e das práticas que ele impõe. Também pode afectar o culto que prestamos ao verdadeiro Deus: por exemplo, quando atribuímos uma importância de algum modo mágica a certas práticas, aliás legítimas ou necessárias. Atribuir só à materialidade das orações ou aos sinais sacramentais a respectiva eficácia, independentemente das disposições interiores que exigem, é cair na superstição.
Por isso mesmo devemos ter muito cuidado com aquilo que fazemos, com o modo como oramos, com a intenção com que vivemos a nossa fé, com a prática diária da fé que afirmamos professar, por todas as razões, e sobretudo pelo testemunho que damos aos outros.
Orações infalíveis?
Infalível é Deus, e não a fórmula da oração.
Continuar ou quebrar correntes de oração, mensagens e tantas outras coisas?
Pois se nós quebramos a nossa aliança com Deus quando pecamos e Ele nos perdoa sempre, como poderiam essas práticas “castigar-nos” e/ou prejudicar-nos?
Crucifixos junto com figas e outros amuletos e coisas parecidas?
Quem é que nos protege do mal? É Deus, na nossa comunhão com Ele, ou é o mal que nos protege do próprio mal, o que não faz sentido?
Fazer um determinado número de fotocópias ou de práticas seja do que for, para obter algo de Deus?
Então e quem é que determinou esse número? Foi Deus, ou foram os homens?
Deus age por amor, não age por quantidades, ou por números!
É a água benta, ou o sal benzido, que por si só actuam no homem, ou é a acção de Deus naqueles que percebem e vivem nesses sinais sacramentais a presença de Deus?
«Então, uma mulher, que padecia de uma hemorragia há doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe na orla do manto, pois pensava consigo: 'Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada.' Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse-lhe: «Filha, tem confiança, a tua fé te salvou.» E, naquele mesmo instante, a mulher ficou curada.» Mt 9, 20-22
Então a mulher tinha fé e confiança nas vestes de Jesus, ou no próprio Jesus Cristo?
Se temos fé, temos confiança.
Se temos fé e confiança, temos esperança.
Se temos fé confiança e esperança, é porque permanecemos em Deus.
Se permanecemos em Deus, Ele permanece connosco,
E se Ele permanece connosco, o que podemos temer? Rm 8, 31-39
Monte Real, 25 de Fevereiro de 2011
(continua)
Joaquim Mexia Alves
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