Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Meditação de Francisco Fernández Carvajal

OS AFÃS DE CADA DIA
– Viver o dia de hoje em plenitude e sem aflições. Confiança e abandono em Deus.
– Preocupações estéreis. Sempre teremos as ajudas suficientes para ser fiéis.
– Trabalhar tendo Deus presente. Mortificar a imaginação para viver o momento presente: aqui e agora.



I. NO EVANGELHO DA MISSA, o Senhor dá-nos este conselho: Não vos inquieteis pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã terá as suas próprias inquietações; a cada dia bastam os seus próprios cuidados1.
O ontem já passou; o amanhã não sabemos se chegará para cada um de nós2, pois a ninguém foi entregue o seu porvir. Do dia de ontem, só ficaram muitos motivos de acção de graças pelos inumeráveis benefícios e ajudas de Deus, bem como daqueles que convivem connosco. Com certeza pudemos aumentar, nem que fosse um pouco, o nosso tesouro no Céu. Do dia de ontem restaram também motivos de contrição e penitência pelos nossos pecados, erros e omissões. Podemos dizer do dia de ontem, com palavras da Antífona de entrada da Missa: O Senhor tornou-se o meu apoio, libertou-me da angústia e salvou-me porque me ama3.
O amanhã “ainda não é”, e, se chegar, será o dia mais belo que jamais pudemos sonhar, porque foi preparado pelo nosso Pai-Deus para que nos santifiquemos: Deus meus es tu, in manibus tuis sortes meae: Vós sois o meu Deus, os meus dias estão nas vossas mãos4. Não há razões objectivas para andarmos angustiados e preocupados pelo dia de amanhã: teremos as graças necessárias para enfrentá-lo e sair vitoriosos.
O que importa é o hoje. É o que temos para amar e para nos santificarmos, através dos mil pequenos acontecimentos que constituem a trama de um dia. Uns serão humanamente agradáveis, outros menos, mas cada um deles pode ser uma pequena jóia para Deus e para a eternidade, se o vivermos com plenitude humana e com sentido sobrenatural.
Não podemos entreter-nos com “oxalás”: com situações passadas que a nossa imaginação embeleza com retoques de fantasia; ou com situações futuras enganosamente idealizadas, esvaziadas do contraponto do esforço, ou, pelo contrário, enlutadas com cores extremamente penosas e árduas. Quem observa o vento não semeia nunca, e quem examina as nuvens jamais se porá a ceifar5. É um convite para cumprirmos o dever do momento, sem atrasá-lo por pensarmos que se apresentarão oportunidades melhores.
É fácil enganarmo-nos com projectos e adiamentos, em busca de circunstâncias aparentemente mais favoráveis. Que teria acontecido com a pregação dos Apóstolos se tivessem esperado por umas circunstâncias mais favoráveis? Que teria acontecido com qualquer obra de apostolado se tivesse ficado na expectativa das condições ideais? Hic et nunc: aqui e agora é que eu tenho que amar a Deus com todo o meu coração... e com obras.
Boa parte da santidade e da eficácia consiste certamente em vivermos cada dia como se fosse o único da nossa vida. Dias para serem cumulados de amor de Deus e terminados com as mãos cheias de boas obras. O dia de hoje não se repetirá nunca, e o Senhor espera que o impregnemos de Amor e de pequenos serviços aos nossos irmãos. O Anjo da Guarda deverá poder “sentir-se contente” ao apresentá-lo diante do nosso Pai-Deus.
II. NÃO ANDEIS ANGUSTIADOS...A preocupação estéril não suprime a desgraça que se teme, antes a antecipa. Lançamos sobre as nossas costas um fardo sem termos ainda a graça de Deus para carregá-lo. A preocupação aumenta as dificuldades e diminui a capacidade de cumprir o dever do momento presente. E sobretudo abre uma brecha na confiança que devemos depositar na providência que Deus exerce sobre todas as situações da vida.
Na primeira Leitura da Missa, o Senhor repete-nos pela boca de Isaías: Pode a mulher esquecer o seu filhinho e não amar o fruto do seu ventre? Mas mesmo que ela se esqueça, eu não te esquecerei6. E Jesus disse-nos, já tantas vezes!: Tende confiança, sou eu, não temais7. Hoje, o nosso Pai-Deus ter-nos-á amorosamente presentes em todas as circunstâncias.
Não podemos assumir ao mesmo tempo as cargas de hoje e as de amanhã. Temos sempre a ajuda suficiente para sermos fiéis no dia de hoje e para o vivermos com serenidade e alegria. O amanhã trar-nos-á novas graças, e o seu fardo não será mais pesado que o de hoje. Cada dia tem os seus cuidados, a sua cruz e a sua alegria. Todos os dias da nossa vida estão presididos por Deus que tanto nos quer. E só temos capacidade para viver o presente.
As aflições procedem, pois, quase sempre, de não vivermos com intensidade o momento actual e de termos pouca fé na Providência. Por isso desapareceriam se disséssemos sinceramente ao Senhor: Volo quiquid vis, volo quia vis, volo quomodo vis, volo quandiu vis: quero o que queres, quero porque o queres, quero como o queres, quero enquanto o quiseres8. Vêm então o gaudium cum pace9: a alegria e a paz.
Podemos sofrer a tentação de querer dominar também o futuro, esquecendo que a vida está nas mãos de Deus. Não imitemos a criança impaciente que, ao ler um livro, salta as páginas para saber como acaba a história. Deus concede-nos os dias um a um para que os cumulemos de santidade. Lemos no Antigo Testamento que os hebreus no deserto recolhiam o maná que Deus lhes fazia chover do céu como alimento de cada dia. E alguns, querendo armazenar para o futuro, não fosse faltar-lhe nos dias seguintes, recolhiam mais do que o necessário e o guardavam. No dia seguinte, deparavam com uma massa intragável que cheirava a podre. Faltava-lhes confiança em Javé, seu Deus, que cuidava deles com amor paternal. Empreguemos os meios necessários para assegurar o futuro, mas não o façamos como quem só confia nas suas forças.
O abandono em Deus – o santo abandono – não diminui a nossa responsabilidade de fazer e de prever o que é exigido em cada caso, nem nos dispensa de viver a virtude da prudência. Mas opõe-se à desconfiança em Deus e à inquietação sobre coisas que ainda não se deram10:Não vos inquieteis, pois, pelo amanhã, repete-nos hoje o Senhor... Aproveitemos bem o dia que estamos vivendo.
III. DEUS CONHECE as necessidades que temos; procuremos em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e o resto nos será dado por acréscimo11. “Tenhamos o propósito firme e geral de servir a Deus de coração, por toda a vida, e depois disso não queiramos saber senão que há um amanhã em que não devemos pensar. Preocupemo-nos por fazer o bem hoje; o amanhã virá também a chamar-se hoje, e então pensaremos nele. Façamos a provisão de maná para cada dia e nada mais; não tenhamos a menor dúvida de que Deus fará cair do céu outro maná amanhã, e depois, enquanto durarem os dias da nossa peregrinação”12. O Senhor não falhará.
Viver o momento presente implica prestar atenção às coisas e às pessoas e, portanto, mortificar a imaginação e as lembranças inoportunas. A imaginação faz-nos estar “em outro mundo”, muito longe do único que temos para santificar; é, com frequência, a causa de muitas perdas de tempo e do desperdício de grandes ocasiões de fazer o bem. A falta de mortificação interior da imaginação e da curiosidade é um dos grandes inimigos da nossa santificação.
Viver o momento presente exige que afastemos de nós os falsos temores de perigos futuros, desses fantasmas que a nossa cabeça amplia e deforma. Exige também que não semeemos o nosso caminho dessas falsas cruzes que a nossa imaginação inventa às vezes, e que nos fazem sofrer inutilmente por não aceitarmos a pequena cruz que o Senhor põe hoje diante de nós e que nos encheria de paz e de alegria se lhe abríssemos os braços.
Viver com um Amor pleno o momento presente é uma atitude interior que nos situará constantemente diante de coisas aparentemente pouco relevantes e em que devemos ser fiéis. Hic et nunc: aqui e agora devemos cumprir pontualmente o nosso plano de vida espiritual e de trabalho. Aqui e agora devemos ser generosos com Deus, fugindo da tibieza. Aqui e agora o Senhor espera que nos vençamos naquilo que nos custa e procuremos avançar nesses pontos de luta que constituem o nosso exame particular.
Peçamos à Santíssima Trindade que nos conceda a graça de vivermos sempre o momento presente com um Amor pleno, como se fosse a última oferenda da nossa vida na terra.
(1) Mt 6, 34; (2) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 253; (3) Sl 17, 19-20; (4) Sl 31, 16; (5) Ecle 11, 4; (6) Is 49, 14-15; (7) Mt 14, 27; (8) Missal Romano, Oração de Clemente XI para depois da Santa Missa; (9) idem, Oração preparatória da Missa; (10) cfr. V. Lehodey, El santo abandono, Rialp, Madrid, 1981, pág. 63; (11) cfr. Mt 6, 32-34; (12) São Francisco de Sales, Epistolário, fragm. 131, 766.



(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal) 

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