Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Meditação de Francisco Fernández Carvajal

VIVER EM SOCIEDADE
– Dimensão social do homem.
– Caridade e solidariedade humana. Consequências na vida de um cristão.
– Contribuições para o bem comum.


I. A PRIMEIRA PÁGINA da Sagrada Escritura descreve-nos com simplicidade e grandiosidade a criação do mundo: E Deus viu que era bom tudo o que saía das suas mãos1. Depois, coroando tudo quanto havia feito, Deus criou o homem à sua imagem e semelhança2. E a própria Escritura nos ensina que o enriqueceu de dons e privilégios sobrenaturais, destinando-o a uma felicidade inefável.
Revela-nos também que os demais homens procedem de Adão e Eva. E que, embora estes se tenham afastado do seu Criador, Deus não deixou de considerá-los seus filhos e os destinou novamente à sua amizade3. A vontade divina dispôs que a criatura humana participasse na conservação e propagação do género humano, que povoasse a terra e a submetesse, dominando sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu, sobre todos os animais e sobre tudo o que vive e se move à face da terra4.
O Senhor quis também que as relações entre os homens não se reduzissem a um simples trato ocasional e passageiro de vizinhança, antes constituíssem vínculos fortes e duradouros que viessem a ser as bases da vida em sociedade. O homem deveria buscar ajuda para tudo aquilo que a necessidade e o decoro da vida exigem, pois a Providência divina organizou-lhe a natureza de tal modo que nascesse inclinado a associar-se e a unir-se aos outros, na sociedade doméstica e na sociedade civil5. O Concílio Vaticano II recorda-nos que “o homem, pela sua íntima natureza, é um ser social e não pode viver nem desenvolver as suas qualidades sem se relacionar com os outros”6.
A vida em sociedade proporciona-nos assim os meios materiais e espirituais necessários para desenvolvermos a vida humana e sobrenatural. Mas se essa convivência é fonte de bens, também gera obrigações nas diversas esferas em que a nossa existência se insere: família, sociedade civil, vizinhança, trabalho... São obrigações que têm um carácter moral pela relação do homem com o seu último fim, Deus. A sua observância aproxima-nos de Deus e o seu incumprimento afasta-nos d’Ele. São matéria de exame de consciência.
Vejamos hoje neste tempo de oração se vivemos abertos aos outros, particularmente àqueles que o Senhor colocou mais perto de nós. Pensemos se cumprimos exemplarmente os deveres familiares e sociais, se pedimos com frequência luz ao Senhor para saber o que devemos fazer em cada ocasião, e energia para realizá-lo com firmeza, com valentia, com espírito de sacrifício.
Perguntemo-nos muitas vezes: que mais posso eu fazer pelos outros? “A vida passa. Cruzamo-nos com as pessoas nos variadíssimos caminhos ou avenidas da vida humana. Quanto resta por fazer!... E por dizer!... É verdade que primeiro é preciso fazer (cfr. Act 1, 1); mas depois é preciso dizer: cada ouvido, cada coração, cada mente têm o seu momento, esperam a voz amiga que pode despertá-los do marasmo e da tristeza. Se se ama a Deus, não se pode deixar de sentir a censura dos dias que passam, das pessoas (às vezes tão próximas) que passam... sem que nós saibamos fazer o que seria necessário fazer, dizer o que se deveria dizer”7.
II. ESTA SOLIDARIEDADE e mútua dependência entre os homens, nascida por vontade divina, foi reforçada e fortalecida por Jesus Cristo ao assumir a natureza humana e ao redimir todo o género humano na Cruz. Este é o novo título de unidade: termos sido constituídos filhos de Deus e irmãos dos homens. Devemos tratar assim todos aqueles que encontramos diariamente no nosso caminho. “Talvez se trate de um filho ignorante da sua grandeza e até rebelde contra o seu Pai. Mas em todos, mesmo no mais deformado, há um brilho da grandeza divina [...]. Sabendo olhar, notamos que estamos rodeados de príncipes, a quem temos que ajudar a descobrir as raízes e as exigências da sua estirpe”8.
Além disso, na noite anterior à sua Paixão, o Senhor estabeleceu-nos um mandamento novo, a fim de que superássemos – heroicamente, se necessário – as ofensas, o rancor e tudo o que é causa de separação. Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei9, isto é, sem limites. Portanto, a nossa vida está cheia de razões poderosas para convivermos em sociedade. Não somos como grãos de areia soltos e desligados uns dos outros, pois estamos relacionados mutuamente por vínculos naturais, e os cristãos, além disso, por vínculos sobrenaturais10.
Uma parte importante da moral são os deveres relativos ao bem comum de todos os homens, da pátria em que vivemos, da empresa em que trabalhamos, do bairro em que moramos, da família que é objecto dos nossos desvelos. Não é cristão nem humano considerar esses deveres apenas na medida em que nos são úteis pessoalmente. Deus espera-nos no nosso empenho por melhorar a sociedade e os homens que a compõem, na medida das nossas possibilidades. Não lhe agradaríamos se, de uma forma ou de outra, nos isolássemos das pessoas que temos à nossa volta ou se as tratássemos com indiferença. “Temos de reconhecer Cristo que nos sai ao encontro nos nossos irmãos, os homens. Nenhuma vida humana é uma vida isolada, mas entrelaça-se com as outras vidas. Nenhuma pessoa é um verso solto: fazemos todos parte de um mesmo poema divino, que Deus escreve com o concurso da nossa liberdade”11.
III. O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE dá-se graças à contribuição dos seus membros, mediante os dons que cada um recebeu de Deus e que desenvolveu com a sua inteligência, a ajuda da sociedade e a graça divina. Estes bens e dons foram-nos dados para desenvolvermos a nossa personalidade e para alcançarmos o fim último, mas também para servirmos o próximo. Não poderíamos alcançar o nosso fim pessoal se não contribuíssemos para o bem de todos12.
Como o desenvolvimento da sociedade está dentro dos planos de Deus, o contributo pessoal de cada um para o bem comum deixa de ser algo facultativo ou que dependa das circunstâncias individuais, e menos ainda um peso. “A vida social não é uma sobrecarga acidental para o homem. Por isso, através do trato com os demais, da reciprocidade de serviços, do diálogo com os irmãos, a vida social engrandece o homem em todas as suas qualidades e capacita-o para corresponder à sua vocação”13.
Deve ser uma norma de conduta e de acção prática. “Há aqueles que defendem opiniões amplas e generosas, mas na realidade vivem sempre como se nunca tivessem a menor preocupação pelas necessidades sociais. Mais ainda, em vários países são muitos os que menosprezam as leis e as normas sociais”14, e vivem de costas para os seus irmãos os homens e para Deus.
Pensemos junto do Senhor naqueles que nos rodeiam. Contribuo de acordo com as minhas possibilidades para fomentar o bem comum? Por exemplo, dedicando algum tempo a instituições e obras que trabalham para o bem da sociedade, colaborando com elas economicamente, apoiando iniciativas em prol dos outros, particularmente dos mais carentes? Cumpro fielmente as obrigações que derivam da vida em sociedade: respeitando as regras de trânsito, as posturas municipais, pagando as taxas e impostos?
“Oxalá te habitues a ocupar-te diariamente dos outros, com tanta entrega que te esqueças de que existes!”15; assim teremos encontrado uma boa parte da felicidade que se pode conseguir nesta terra e teremos ajudado os outros a ser muito mais felizes, tendo presente que são filhos de Deus e nossos irmãos.
(1) Gên 1, 1 e segs; cfr. Primeira leitura da Missa da segunda-feira da quinta semana do TC, ciclo A; (2) cfr. Gên 1, 27; (3) cfr. Gén 12; (4) Gén 1, 28; (5) cfr. Leão XIII, Enc. Immortale Dei, 1-XI-1885; (6) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 12; (7) C. Lopez Pardo, Sobre la vida y la muerte, Rialp, Madrid, 1973, pág. 438; (8) ib., págs. 346-347; (9) Jo 15, 12; (10) cfr. Pio XII, Enc. Summi pontificatus, 20-10-1939; (11) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 111; (12) cfr. Leão XIII, Enc. Rerum novarum, 15-V-1891; (13) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 25; (14) ib.; (15) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 947.


(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal) 

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