Em síntese, e com a necessária simplificação, Keynes ensinava que para enfrentar um período de crise económica, prescindindo das suas origens, era necessário sustentar a procura a qualquer custo, penalizando por conseguinte o hábito à poupança. Consequentemente, o estudioso propunha que se fizesse o que se faz hoje, sobretudo nos Estados Unidos: promover o consumo individual e pagar a prestações, aumentar a despesa pública, salvar as empresas em dificuldade para manter o trabalho e, portanto, a procura. E, naturalmente, emitir papel moeda e aumentar os impostos.
Estamos a descobrir que a política económica que vimos adoptada nos últimos anos tem um nome: é a famosa doutrina keynesiana. Uma doutrina que continua a ser seguida nos Estados Unidos, onde hoje se está a nacionalizar a excessiva dívida particular com a finalidade de reactivar o consumo. A chamada nacionalização acontece sobretudo quando se salvam os bancos que tinham concedido demasiado crédito, sem garantias adequadas. O financiamento para o resgate ocorre através da emissão de moeda.
Na Europa, ao contrário, onde o âmbito particular não se encontra demasiado endividado, a política keynesiana enfurece-se contra a desprezada poupança. Ela transforma-se em instrumento para absorver através da privatização a enorme dívida pública, dos bancos e das empresas.
Quer nos Estados Unidos quer na Europa, embora com problemas quase opostos, a solução para o aumento da dívida - com a finalidade de apoiar um crescimento do PIB necessário para compensar a diminuição demográfica - é realizada com a política keynesiana da taxa de juros zero (que depois da inflação verdadeira se tornam até negativos).
Com efeito, a taxa de juros zero equivale a uma transferência de riquezas da parte de quem foi um poupador virtuoso (embora não o seja para Keynes) para quem se endividou virtuosamente (na opinião de Keynes). Na prática, trata-se de um imposto oculto sobre os pobres poupadores, um imposto que se transfere aos ricos: Estados, empresários e banqueiros demasiado endividados.
A alternativa à taxa de juros zero é o colapso do sistema económico com esta consequência: o incumprimento. Contudo, a taxa de juros zero é insustentável e perigosa. Ela destrói a poupança, que é um recurso essencial para criar a base do crédito bancário; favorece a especulação mobiliária e a imobiliária, criando valores artificiais ilusórios ao invés de os redimensionar; impulsiona o consumo a prestações com mais riscos; altera o mercado com valores artificiais e com isto deixa crer que os próprios mercados não sabem autocorrigir-se.
Sobretudo, a taxa de juros zero permite, ou impõe, que os governos administrem a economia sem corrigir a ineficiência e facilitando distorções na concorrência. Com a consequência de estimular cada vez mais a fuga dos empresários privados na deslocalização produtiva.
Mas tudo isto deixa imaginar também que a manobra escolhida para que no futuro a dívida criada seja absorvida - tanto nos Estados Unidos como na Europa, cerca de três vezes o PIB - é a inflação. Que não explode porque o consumo permanece prudente e necessariamente baixo. E alguns desejam novos impostos para sustentar um renovado estatismo que reforce uma classe política bastante débil em todo o mundo ocidental.
ETTORE GOTTI TEDESCHI
(© L'Osservatore Romano - 22 de Janeiro de 2011)
1 comentário:
Excelentes comentários. Juro zero é simplesmente ignorar a doutrina do justo preço da Igreja - se alguém bem serviu, ele merece ser bem servido. O preço do serviço do empréstimo, levando-se em conta o tempo para captar o recurso a ser emprestado e o tempo necessário para que o dinheiro emprestado gere frutos, isso é o juro. Com base nessa lógica, a Igreja incentiva a capitalização, a honestidade e o trabalho - e é por essa razão que condena a preguiça, a ganância e a espoliação.
O keynesianismo vai contra o ensinamento mais básico da Igreja - e por isso devemos combater essa afronta contra a Igreja de todas as formas.
É minha humilde contribuição que gostaria de oferecer a este blog.
Parabéns pelo post
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