As piores expectativas saíram goradas e o primeiro dia da visita ao Reino Unido tem sido um sucesso, para raiva de Ian Paisley e outros amantes da intolerância.
A maior surpresa deste primeiro dia da visita do Papa ao Reino Unido não foram as suas palavras sobre os abusos sexuais, essas eram esperadas, nem o que disse sobre o relativismo e o ateísmo radical, temas recorrentes.
A maior surpresa do dia que passou na Escócia foi a ausência de polémicas. Houve protestos, o tristemente célebre Ian Paisley, que durante anos liderou os protestantes mais radicais na Irlanda do Norte, fez questão de atravessar o Mar da Irlanda para liderar uma manifestação contra a visita. Número de participantes: 60.
Durante meses correram boatos de que os jornais estavam a guardar para hoje notícias sumarentas e escandalosas sobre a Igreja, mas esta manhã até os órgãos tradicionalmente mais hostis à Igreja pareciam rendidos à historicidade da visita.
Porque é que se esperava o pior? Recordemo-nos do país que o Papa visitou durante o dia de hoje. A Escócia é o país onde ainda hoje os jogos de futebol entre o Celtic, o clube dos católicos, e o Rangers, o clube dos protestantes, coloca não só Glasgow mas também a Irlanda do Norte em estado de sítio. A Escócia é o país onde ainda hoje os membros da Ordem de Orange marcham todos os verões, tal como fazem os seus correligionários na Irlanda do Norte, para festejar a derrota militar dos católicos no século XVII, e onde os católicos formam apenas 16% da população.
Junte-se a tudo isto o ambiente geral do Reino Unido nos dias de hoje, com fortes correntes secularistas, que até há pouco tempo afirmavam o seu desejo de receber Bento XVI com um mandado de captura, e torna-se de facto surpreendente que não se tenha visto mais hostilidade à chegada do Papa.
Tenha sido propositado ou não, a verdade é que as palavras do Santo Padre logo pela manhã, que traçaram o paralelo entre o ateísmo militante e os mais terríveis regimes do século XX, não podiam ter vindo em melhor altura, uma vez que colocaram os “novos ateus”, como gostam de se chamar a eles mesmos, à defesa em vez de ao ataque.
Foi curioso ver como, pelas suas reacções, estes discípulos de Hitchens e Dawkins, se sentem muito mais à vontade a vilipendiar o Papa e as religiões em geral, do que a encarar as evidências que Bento XVI recordou hoje, também na sua homília, que longe de ser uma ameaça, a religião é um garante das liberdades humanas, porque nos obriga a olhar uns para os outros como irmãos.
Filipe d'Avillez
(Fonte: site Rádio Renascença)
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