No último ano, 98 milhões de pessoas saíram da pobreza, fruto dos progressos realizados na China e na Índia. Esta é a boa notícia, contida no relatório da FAO, ontem divulgado.
Segue-se a verdade inconveniente: permanecem, neste momento, em todo o mundo, mais de 950 milhões de famintos. Quase 100 vezes a população de Portugal. Homens, mulheres e crianças que acordam e adormecem, em pleno século XXI, sem terem o suficiente para comer, sem forças para trabalhar, incapazes de romper a armadilha de pobreza em que nasceram ou foram apanhados.
E o escândalo é tanto maior quanto a FAO denuncia: a fome não resulta da incapacidade de obter alimentos suficientes para alimentar toda a população mundial. Os alimentos existem. Falta apenas a vontade política de os fazer chegar a quem deles precisa. Não há um problema de produção mas de simples distribuição de alimentos.
Ou seja, a fome no mundo só não acaba porque, resolvido o problema económico, as lideranças mundiais não conseguiram ainda resolver o problema político, passando das palavras aos actos.
Mesmo a meta modesta (acordada no seio da ONU no quadro dos Objectivos do Milénio) de redução da população pobre de 20 para 10% até 2015, nos países em desenvolvimento, corre o sério risco de não ser cumprida.
Tem razão D. Carlos Azevedo quando urge os católicos a romper com a cultura instalada de egoísmo e individualismo feroz. É urgente que se reforce o clamor contra um modelo político económico “injusto e desigual”, numa palavra: verdadeiramente “INDECENTE”!
Desde que comecei esta crónica já morreram de fome uma dúzia de crianças*.
*A FAO estima uma morte por desnutrição a cada seis segundos.
Graça Franco
(Fonte: site Rádio Renascença)
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