Este preceito de Cristo costuma chamar-se «correcção fraterna», e não se refere exclusivamente a ofensas pessoais, mas a quaisquer faltas cometidas, consciente ou inconscientemente. De facto, é dever de caridade, e mesmo de justiça muitas vezes, chamar a atenção dos outros para os seus erros ou defeitos: assim faz o pai aos filhos, o irmão ao seu irmão, o amigo ao seu amigo, o chefe ao subordinado, de colega para colega, e em geral, entre quaisquer pessoas, pois todos somos irmãos.
Por um lado, vem dizer-nos que, perante o comportamento errado de alguém, não serve de nada a crítica e a maledicência, e que nós próprios seremos vítimas dessa atitude quando errarmos ou fraquejarmos nos nossos deveres, pois não teremos quem nos avise do mal que fazemos ou dos riscos que corremos.
Por outro, diz-nos que a correcção só será eficaz se for «fraterna», isto é, procurando não humilhar o próximo, visto que, se é sempre custoso reconhecer os nossos erros, mais difícil ainda o será se, em vez de nos corrigirem, nos acusarem e nos vexarem em público. Talvez seja alguma vez necessário fazê-lo, em casos que ameacem a boa ordem geral, quer na empresa, quer na família, por exemplo. Além disso, o chefe de família ou da empresa tem, nesses casos, até a obrigação de usar da sua autoridade para sanar de raiz o que ponha em perigo a família ou a empresa de que é responsável. Mas não é a regra geral.
A norma geral é aquela que Cristo recorda: «Corrige-o entre ti e ele só». Pensa primeiro se o que te incomoda no próximo é realmente um erro, uma falta, um defeito, ou apenas algo que te aborrece porque andas nervoso, porque não gostas, porque tens o mesmo defeito, porque imaginas más intenções sem qualquer motivo, porque aceitas e acumulas queixas de ressabiados, etc.
Depois, procura compreender os motivos que terá o «infractor» para actuar daquele modo: não estará doente, ou angustiado por alguma situação difícil? Não terá sido informado correctamente do que devia fazer? Talvez convenha mesmo consultar quem o conheça melhor, e te ajude a esclarecer-te.
E, por fim, corrige-o serenamente, «entre ti e ele só», com boas palavras, partindo do princípio da sua boa vontade, tendo presente tantas coisas boas que tem feito, e dando azo a que se explique, ou desabafe.
«Se te ouvir...» Nosso Senhor admite a hipótese de que, mesmo assim, o corrigido não aceite reprimenda nem conselho. Todos somos orgulhosos. Mas o reconhecimento da lealdade com que fomos corrigidos ajudar-nos-á a rectificar, mais cedo ou mais tarde, as nossas atitudes erradas.
(P. HUGO DE AZEVEDO, in AESE, 2008.02.04)
Publicada por ontiano em NUNC COEPI - http://amexiaalves-nunccoepi.blogspot.com/
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