Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O computador em casa, inimigo do estudo

Vários estudos dos últimos anos indicam que o caminho para compensar a desvantagem dos alunos de extractos sociais baixos não é a informática, mas a letra impressa. Fechar a "rotura digital" entre pobres e ricos significa ampliar as diferenças académicas.

A investigação mais completa sobre o particular é de dois professores de Economia dos Estados Unidos, Ofer Malamud (Universidade de Chicago) e Cristian Pop-Eleches (Universidade de Colômbia) (1). Um plano implementado na Roménia, país de origem do segundo, ofereceu-lhes um caso extremamente adequado para comprovar que efeito tem no rendimento escolar a chegada de um computador pessoal a um lar onde antes não existia. Em 2008, o Ministério da Educação romeno ofereceu-se para subsidiar com cheques de 200 euros a compra de computadores para alunos de famílias de baixo rendimento matriculados em escolas públicas. Uma amostra dos 35.000 que receberam a ajuda são o grupo experimental do estudo; os que optaram por ela mas não a conseguiram, porque não havia cheques para todos, servem de grupo de controlo. Os dados foram obtidos com os resultados académicos dos alunos e de um inquérito feito a eles e aos seus pais sobre o uso do computador em casa.

Resultado: em geral, os alunos que obtiveram um aparelho tiveram depois notas mais baixas em matemática, inglês e língua romena, embora tenham melhorado na informática. Pelo contrário, os do grupo de controlo não avançaram nesta última matéria, mas muito menos pioraram nas outras.

A razão do efeito contraproducente do computador deduz-se do inquérito. Em muitos poucos casos os pais ou os próprios filhos instalaram programas educativos nas novas máquinas, e muitos poucos alunos usaram-nas para aprender ou para fazer trabalhos escolares. Usaram-nas sobretudo para jogar os jogos de computador, e de facto a chegada do aparelho traduziu-se no facto dos alunos dedicarem menos tempo a estudar, a ler e a ver televisão.

Os investigadores observaram também que as restrições paternas ao uso do computador parecem mitigar os efeitos nefastos, embora sem reforçar os positivos (maior capacidade informática). Disto inferem que é mais proveitoso estimular o estudo do que pôr limites ao computador; mas não o afirmam com segurança, porque os dados a esse respeito não têm suficiente valor estatístico.

O computador só prejudica os pobres

O trabalho de Malamud e Pop-Eleches documenta o caso de estudantes com rendimento baixo. Outro trabalho de Jacob L. Vigdor e Helen F. Ladd (ambos da Duke University) compara-o com o de alunos com nível de vida superior (2). O cenário é a Carolina do Norte, onde começou a haver serviços de banda larga no ano 2000. Os investigadores examinaram os resultados académicos dos alunos de 11-14 anos desse estado, entre aquele ano e 2005.

Volta a verificar-se que a informática em casa prejudica o rendimento escolar, mas apenas entre os alunos de extracto social modesto. É grande a descida de notas na língua inglesa e na matemática entre os estudantes negros com computador, enquanto que entre os restantes alunos não se constata qualquer efeito em matemática e somente um muito ligeiro na língua inglesa.

Os autores não sabem a que se deve essa diferença. Talvez, dizem, ao facto de nas famílias com bons rendimentos haver, em média, maior supervisão dos pais.

Poder-se-á evitar os efeitos prejudiciais do computador assegurando que se utiliza como ferramenta educativa? Isso foi tentado numa experiência realizada com alunos do Texas, aos quais se ofereceu computadores portáteis que podiam levar para casa. Os aparelhos só tinham instalados programas de utilidade educativa, e tinham sido configurados para bloquear distracções (correio electrónico, chat, jogos, sítios web duvidosos...). As restrições não funcionaram totalmente, porque muitos alunos aprenderam a ultrapassar algumas, mas reduziram as perdas de tempo.

Para ver como funcionou o plano, foram examinados os resultados académicos dos alunos que receberam os portáteis e comparou-se com os de alunos de nível de vida superior e com os de outros de escolas onde não se aplicou o plano. Os resultados, analisados pelo Texas Center for Educational Research, são ambíguos, de acordo com um artigo do Prof. Randall Stross no The New York Times (9-07-2010), que também comenta os estudos citados anteriormente. Foram detectadas ligeiras melhorias nalgumas matérias entre os estudantes com portáteis entregues pela escola, juntamente com uma baixa nas notas de língua inglesa. O efeito igualizador com os companheiros de extractos sociais desafogados só é visível nas capacidades informáticas.

Importa notar que estes estudos se referem ao uso doméstico de computadores. Não implicam que seja inútil ou prejudicial que os alunos ou os professores utilizem equipamentos informáticos para as aulas na escola. Este é outro tema, sobre o qual se pode consultar o artigo "¿Qué hace ese ordenador en el aula?" (Aceprensa, 2-12-2009).

A importância de ter livros em casa

Pelo contrário, parece que seria melhor serviço para os alunos desfavorecidos e mais barato oferecer-lhes livros em vez de computadores. É o que indicam os estudos do Prof. Richard Allington (Universidade do Tennessee), que se concentrou no efeito de iniciativas para fomentar que os alunos de famílias modestas leiam no Verão. Estes alunos, em geral, não costumam ter nas suas férias aulas de recuperação ou outras ajudas para fixar aquilo que aprenderam, e quando voltam à escola perderam terreno em relação aos seus companheiros com melhor nível de vida. No final da vida escolar, o atraso acumulado pode ser de dois anos ou mais em leitura e expressão verbal.

Isto é evitável em grande parte se os alunos lerem durante o Verão, o que pelos vistos não é difícil de conseguir se se lhes oferecer livros no final do ano lectivo. Allington afirma tê-lo comprovado com um estudo de três anos, ainda inédito, sobre uma experiência efectuada na Florida. As 852 crianças do ensino primário, todas de zonas pobres, que receberam doze livros cada uma para o Verão, tiveram depois resultados francamente melhores que os outros companheiros (cfr. Houston Chronicle, 30-06-2010).

A eficácia de tais iniciativas não tem a ver apenas, ao que parece, com o facto das crianças praticarem a leitura. Ter livros também fomenta nelas uma atitude favorável ao estudo. Talvez assim se expliquem as descobertas de outro trabalho recente, assinado pela socióloga Mariah Evans (Universidade do Nevada) e outros, sobre alunos de 27 países com níveis de vida extremamente diferenciados (3). Os autores descobriram uma relação estatística entre o nível educativo que um aluno atinge e o número de livros que existem na sua casa. Naturalmente, ao longo da vida académica têm influência outros factores, muito especialmente o nível educativo dos pais. Mas, segundo Evans e os seus colaboradores, uma biblioteca doméstica de 500 ou mais livros tem mais ou menos o mesmo efeito que a presença de pais com título universitário. Em ambos os casos, os alunos frequentam em média 3,2 anos mais de estudos que os seus companheiros que não têm livros em casa ou cujos pais têm apenas três anos de escolaridade. A diferença não é a mesma em todos os países: por exemplo, é muito maior na China (6,6 anos) que nos Estados Unidos (2,4 anos).

Vem a propósito referir o que há alguns anos escreveu Simon Jenkins, que trabalhou no The Times como director (1990-1992) e comentarista (1992-2005), a respeito da importância diferenciada da Internet e da literatura na formação dos estudantes. "Uma casa sem livros é uma hospedagem, mas não um lar. As crianças que não lêem romances talvez tenham destreza, mas não educação" (The Sunday Times, 16-02-1997).
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Notas

(1) "Home Computer Use and the Development of Human Capital". Será publicado num próximo número do Quarterly Journal of Economics. Está disponível a minuta (PDF, 394 KB).
(2) "Scaling the Digital Divide: Home Computer Technology and Student Achievement", NBER Working Paper No. 16078, Junho 2010: ver sumário.
(3) M.D.R. Evans, Jonathan Kelley, Joanna Sikora e Donald J. Treiman,"Family scholarly culture and educational success: Books and schooling in 27 nations", Research in Social Stratification and Mobility, Junho 2010, pp. 171-197: ver sumário.
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Aceprensa

(Sócratres e Chávez deviam ler este artigo. JPR)

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