Releio de vez em quando as inspiradas palavras de Antero de Quental num discurso que proferiu em 1871 no Casino Lisbonense e que se intitulava "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares" para tentar perceber o que mudou desde então em Portugal e Espanha. Deixando de lado uma análise sobre o país vizinho, procuro entender, através de Antero, se nós, portugueses, 139 anos depois, fizemos uma caminhada em direcção à modernidade ou se ficámos pela cepa torta, expressão que tão amiúde usamos para caracterizar o dia-a-dia.
É certo que do ponto de vista material se vive hoje melhor em Portugal do que há 100, 50 ou 20 anos. Mas aquilo que é importante saber é se em matéria de comportamentos, de mentalidade e de identificação como povo conseguimos chegar mais longe. Quase diria que não. Que hoje, tal como dantes, continuamos a queixar-nos muito e a achar que os problemas que temos se resolvem por si próprios ou que alguém, por nós, é o responsável por encontrar uma solução. Que a tendência para o facilitismo está de tal modo enraizada que os que tentam fazer de maneira diferente são esmagados pelos gurus do "deixa andar". Que não vale a pena apostar na excelência, na criatividade e nos melhores, porque os de sempre, os amigos, os compadres, os menos preparados, já têm lugar cativo. Que não é preciso arriscar a mudança porque isso significa muito trabalho e a medrosa sensação de que irá ficar tudo na mesma. Que é melhor destruir, pensar mal, invejar, cobiçar do que construir, ajudar ou elogiar. Que para fazer bem e diferente há que deixar Portugal para trás e partir rumo a outras paragens onde o reconhecimento acaba por chegar.
Há duas décadas e meia, entrámos com a Espanha para a CEE. Voltámos a reencontrar a Europa e somos hoje parte de um clube constituído por países grandes, pequenos e médios. Temos euros no bolso, mais estradas, mais automóveis, mais centros comerciais, consumimos tanto ou mais que qualquer outro europeu, mas globalmente não avançamos naquilo em que podíamos ter feito a diferença. Falta-nos espírito de equipa, vontade, energia, sentido prático e objectivos.
Neste momento, vivemos uma grave crise económica e estamos sob a vigilância dos que há 25 anos manifestaram receios sobre a nossa capacidade de crescer como país, mas que nos deram o benefício da dúvida, porque a Europa não faria sentido sem um alargamento ao sul. Quando nos faltarem os euros e nos apontarem o dedo por mau comportamento, ficaremos atónitos a olhar para o vazio. Depois, protestaremos muito contra a decadência de que nunca nos livramos. Procuraremos um culpado, um pecador.
E disto não sairemos, se não tivermos fé em nós próprios.
Maria de Lurdes Vale
(Fonte: DN online)
Nota de JPR: a articulista termina com afirmando que temos necessidade de fé em nós próprios, tenho como indiscutível que a necessidade de Fé em Deus Nosso Senhor terá de a preceder. Bom Domingo!
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