Onde se pode encontrar um grupo numeroso de jovens vivazes e inteligentes, apaixonados pelo próprio trabalho e anti-conformistas, irónicos e alegres, aqueles que hoje é moda chamar "criativos"? Estou certa de que a maior parte das pessoas questionadas responderiam que é provável encontrá-los no mundo da informática, do marketing ou da publicidade, os sectores que são considerados activos e atraentes na nossa sociedade. A mim, ao contrário, aconteceu de os encontrar num seminário de grande tradição, no Caprânica (N. JPR: Seminário fundado no século XV e de onde saíram os Papas Bento XV e Pio XII além de inúmeros Bispos e Cardeais): o Almum collegium Capranicense, que é uma das mais antigas instituições eclesiásticas dedicadas à formação do clero.
Jovens atentos e abertos ao novo, prontos a colher todos os estímulos externos e a conjugá-los com o saber acumulado no seu percurso de aprendizagem, dispostos a debatê-los com vivacidade. Sim, são os futuros sacerdotes, que difundirão o Evangelho nos próximos anos, totalmente conscientes da importância anti-conformista da própria escolha. De facto, grande parte da sua vivacidade nasce precisamente disto: do pensar e realizar coisas que a sociedade contemporânea considera superadas e sem interesse, sobretudo para os jovens. Portanto, do sentir-se diferentes, de um modo de ser que exige a sua criatividade exactamente porque a sociedade não os entende.
Nada de "padresco", nenhuma maneira de falar que tenda para o "eclesialês" linguagem aceite e entendida só por quem já está dentro da Igreja, mas não por todos. Ao contrário, olhos francos, coragem ao formular questões e perguntas inclusive sobre o que hoje parece o problema do momento, o celibato sacerdotal e uma forte consciência da necessidade de inventar estilos mais eficazes e incisivos do que aqueles que a Igreja procura utilizar actualmente. Enfim, uma busca profunda e substancial do novo, de quem sabe que não basta usar a internet para sair dos esquemas obsoletos no comunicar. Que se acompanha contudo de um amor forte e consciente pela tradição do pensamento cristão, por aquela riqueza cultural que a Igreja conserva e transmite desde as suas origens.
No Caprânica, juntos falámos muito sobre os problemas das homilias, certamente o momento mais directo de confronto entre o sacerdote e os fiéis, que se pode tornar decisivo para construir uma comunicação, levando a um diálogo mais profundo e pessoal com o sacerdote ou, ao contrário, que corre o risco de tirar a vontade de frequentar a igreja.
Um diálogo com os fiéis que está no centro da sua futura missão, na consciência de que ser sacerdote significa estar vinculado a um tipo de relacionamento pessoal, que implica um encontro verdadeiro, um contacto concreto com os fiéis a missa e os sacramentos não podem ser transmitidos por meio da internet num mundo onde aliás prevalecem cada vez mais os contactos virtuais: portanto, representa uma boa oportunidade, e também esta em contra-tendência.
No final do encontro o reitor, Mons. Manicardi, perguntou-me quais diferenças relevava entre esses jovens e os que frequentam os meus cursos na universidade: num certo sentido, nenhuma, respondi. Mas devo dizer que os jovens do Caprânica têm olhos mais profundos e deixam transparecer o equilíbrio verdadeiro que nasce de uma escolha de vida total e para sempre. E estou convicta de que eles como muitíssimos outros jovens que em todas as partes do mundo, com paixão, se estão a preparar para o sacerdócio serão capazes de responder à chamada do Senhor: "Estabeleci-te como luz das nações para levares a salvação até aos confins da Terra".
Lucetta Scaraffia
(© L'Osservatore Romano - 22 de Maio de 2010)
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