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terça-feira, 13 de abril de 2010

Dez tendências que estão a mudar a Igreja - Como vê o vaticanista John L. Allen o futuro da Igreja Católica no século XXI

Como será a Igreja católica no século XXI? John Allen, jornalista perito em informação religiosa, destaca no seu novo livro The Future Church (1) as tendências que estão a mudar a Igreja, especialmente no que respeita aos paradigmas que predominam desde o Vaticano II.

John L. Allen, nortea-mericano, jornalista e autor de vários livros, apresenta, em The Future Church: How Ten Trends are Revolutionizing the Catholic Church, uma visão de conjunto dos desafios que enfrenta uma Igreja milenária, ao lidar com mudanças que podem colocar os católicos perante complicados dilemas.






Allen refere dez tendências religiosas, políticas e científicas que, em sua opinião, terão grande influência na maior comunidade cristã do mundo. Dedica a cada tendência um capítulo em que descreve a sua forma actual e prevê as suas consequências, distinguindo as que considera quase certas, prováveis, possíveis e improváveis. Allen expressa-se como o que é: "um jornalista, não um sacerdote, nem um teólogo nem membro de qualquer associação académica ".

Que se entende por tendência

Os leitores anglófonos dos Estados Unidos e de otros países já conhecem John Allen, o principal jornalista do National Catholic Reporter - uma considerada publicação com sede nos EUA, de inclinações de esquerda em política, e que acolhe nas suas páginas escritores católicos progressistas. Os habituais artigos de Allen revelam um trabalho de investigação, que também se manifesta no livro, e dão a conhecer, além disso, o pensamento de informadores de renome, entre os quais se contam teólogos, bispos, cardeais e incluso o Papa Bento XVI, quando cardeal Ratzinger. A sua visão é ampla e, sem dúvida, católica (quer dizer, universal), especialmente para um norte-americano.

A experiência dos católicos nos EUA. está, naturalmente, matizada pela história do seu país e, por vezes, constitui motivo de irritação para outros católicos, em particular, para os de fora da Europa. Os católicos norte-americanos costumam impor o seu próprio paradigma, quando examinam o modo como a fé católica é vivida fora da sua pátria. Allen não é completamente imune a essa atitude, nem mesmo quando se ocupa de questões tão diversas como o apogeu do Islão, o pentecostalismo, o ecologismo e a queda demográfica da Europa.

Allen assegura que as dez tendências de que se ocupa "revolucionarão" a Igreja católica e, como jornalista, oferece, de forma equânime, descrições, mais que receitas, para defrontar as mudanças que, segundo acredita, transformarão essa Igreja de maneira radical. Abstém-se de identificar tais tendências como boas ou más, limitando-se a qualificá-las de inter-relacionadas e, praticamente, inevitáveis.

As dez tendências descritas por Allen são: 1) Uma Igreja mundial, 2) Catolicismo evangélico, 3) O Islão, 4) A nova demografia, 5) O alargamento do papel dos leigos, 6) A revolução biotecnológica, 7) Globalização, 8) A ecologia, 9) Multi-polarização e 10) Pentecostalismo. A estas se acrescentam "Tendências que não são tendências" e "Catolicismo no século XXI". Como se vê, não é necessário que seja uma tendência especificamente católica, mas algo que afecte o catolicismo de modo significativo.

Para que possa falar-se de tendências, diz Allen, devem estas ser à escala mundial, ter repercussões de âmbito popular, envolver a hierarquia oficial, não serem ideológicas, disporem de capacidade de profetizar e possibilidade de explicar diversos factores. Questões como a crise de abusos sexuais ficam, por conseguinte, fora do que se entende por "tendências". Contudo, o capítulo intitulado "Tendências que não são tendências", embora breve, é tão magistral e interessante como os que o precedem.

A queda demográfica Norte-Sul

Em relação a "A nova demografia" da Igreja católica, Allen observa que, a meados do século XXI, a Nigéria, Uganda e a República Democrática do Congo figurarão entre as dez maiores nações católicas do mundo, substituindo a Espanha, por exemplo. Assim, a Igreja que ele descreve terá lançado raízes para lá da Cristandade europeia, vendo-se, entretanto, afectada por outra tendência: "a globalização". Supõe que se porá o ênfase em interrogações e se adoptem pontos de vista que não estejam de acordo com os dos católicos da Europa e América do Norte.

Por exemplo, embora os católicos norte-americanos politicamente conservadores possam aplaudir a rejeição africana do preservativo e do aborto, podem não sentir-se cómodos com uma crescente denúncia africana do cada vez maior e mais dissoluto consumismo ocidental, e de um desenfreado capitalismo a expensas dos pobres. Em África e na América Latina, a introdução de línguas e costumes nativos poderá ser uma ameaça para uma hierarquia, que procura apoiar as diferenças culturais, sem deixar de ser fiel ao Magistério e a antiquíssimas liturgias.

Por estranho que pareça, o uso do latim na missa pode servir realmente de ponte entre idiomas e culturas díspares.

Catolicismo evangélico

O que Allen descreve como "catolicismo evangélico" não é um movimento sectário, mas uma tendência, que está subjacente às restantes descritas no livro. Esta tendência emergiu durante o pontificado de João Paulo II. A partir de então, diz Allen, "o catolicismo foi-se tornando cada vez mais evangélico, mantendo a sua identidade com firmeza e sem deixar-se intimidar; mais interessado em evangelizar a cultura do que adaptar-se a ela".

Entre as suas linhas definidoras contam-se: uma clara aceitação do pensamento, as práticas e o discurso católicos (por outras palavras, da ortodoxia), um desejo de proclamar a identidade católica, e a fé vivida como escolha pessoal, mais do que como herança cultural. Daí que os católicos evangélicos possam acabar por entrar em conflito com o laicismo europeu e com a "separação entre Igreja e Estado" na América do Norte.

No seu capítulo sobre o Islão, Allen oferece-nos uma atraente visão do que poderia ser uma futura cooperação entre a Igreja Católica e a fé de Maomé. Das duas correntes principais do Islão, a xiita e a sunita, o autor pensa que a primeira tem mais probabilidades de forjar uma aliança com a Igreja Católica, devido às afinidades que têm: uma teologia do sacrifício e a expiação, a crença no livre arbítrio, peregrinações, santuários onde têm lugar curas, veneração de santos... Estas afinidades não deveriam fazer desistir do diálogo com o Islão sunita - dominado na actualidade pelo wahabismo, que impera na Arábia Saudita - nem com a fé xiita extremista, personificada pelo violento clérigo Muqtada Al-Sadr. A tendência islâmica está, naturalmente, relacionada tanto com a "globalização" como com a "nova demografia". Por exemplo, Allen refere que o crescimento demográfico islâmico está a decair, e que o catolicismo continua a crescer em África.

O último capítulo de Future Church oferece um útil resumo do livro. Unindo os fios condutores dos dez capítulos anteriores, Allen apresenta quatro linhas principais de desenvolvimento, que podem constituir o futuro rumo da Igreja. Estas "notas sociológicas", que vão manifestar-se durante o resto do século actual, são: "'mundial, firme, pentecostal e extrovertida'". Em síntese, Allen vê a Igreja do futuro como "conservadora na moral", "avançada na justiça social", "bíblica", "jovem e optimista", e "não identificada com europeus e norte-americanos", entre outros aspectos. Estes não são mais que os subconjuntos da nota sociológica intitulada "global", e os restantes subconjuntos fazem da obra de Allen não só um desafio, mas uma inspiração para os católicos de todo o mundo.

A Igreja num novo mundo

Na Introdução do livro, John Allen sintetiza assim as mudanças com que a Igreja católica se confronta.

- Uma Igreja, que esteve dominada no século XX pelo hemisfério Norte, isto é, por europeus e norte-americanos, depara-se agora com dois terços dos seus membros que vivem na África, Ásia e América Latina. A internacionalização do governo da Igreja católica atingirá um nível até agora desconhecido.

- Uma Igreja, cuja preocupação depois do Vaticano II (1962-1965) foi aggiornamento, como "actualização para se abrir ao mundo moderno", hoje está reafirmando oficialmente tudo o que a distingue da modernidade: as suas tradicionais características católicas de pensamento, discurso e práticas. Esta política da identidade é, em parte, uma reacção contra um secularismo desenfreado.

- Uma Igreja, cujas relações inter-religiosas estiveram dominadas, nos últimos quarenta anos, pelo diálogo com o judaísmo, está, agora, a esforçar-se por chegar a um acordo com um Islão fortalecido, não só no Médio Oriente, África e Ásia, mas também no seu próprio espaço europeu.

- Uma Igreja, que historicamente dedicou uma grande parte do seu trabalho pastoral aos jovens, tem de enfrentar, começando pelo Norte, o mais rápido envelhecimento da população da história.

- Uma Igreja, que se apoiou no clero para o múnus pastoral e a liderança, agora tem cada vez mais leigos, que fazem ambas as coisas em grande número e de uma forma surpreendentemente variada.

- Uma Igreja habituada a debater temas bioéticos, que estiveram presentes durante séculos - aborto, controlo de natalidade -, confronta-se agora com um brave new world de clonagem, avanços genéticos, híbridos que cruzam as espécies. A sua doutrina moral esforça-se desesperadamente por manter-se em dia com os avanços científicos.

- Uma Igreja, cuja doutrina social se forjou nos primeiros tempos da Revolução Industrial, tem agora de enfrentar o mundo globalizado do século XXI, cheio de diferentes entidades como corporações multinacionais e organizações intergovernamentais, que não existiam quando estabeleceu a sua própria visão de uma sociedade justa.

- Uma Igreja, cujas preocupações sociais se centraram quase exclusivamente nos seres humanos, encontra-se agora num mundo em que a preservação da Terra requer novas reflexões morais e teológicas.

- Uma Igreja, cuja diplomacia se apoiou sempre na grande potência católica do momento, move-se agora num mundo multipolar, no qual a maioria dos pólos importantes não são católicos, nem sequer cristãos.

- Uma Igreja habituada a ver os "outros" cristãos como ortodoxos, anglicanos e protestantes, hoje está a assistir a um avanço dos pentecostais, que disparou de 5% para 20% em todo o mundo, em apenas um quarto de século, em parte pela absorção de um número significativo de católicos. A própria Igreja católica está a ser "pentecostalizada" através do movimento carismático.

Martin Barillas
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NOTAS
(1) John L. Allen. The Future Church: How Ten Trends Are Revolutionizing the Catholic Church. Doubleday. New York (2009). 480 págs. 28 $.

Aceprensa

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