Caro Hans,
Lendo a tua carta aos Bispos senti-me de acordo quando escreves: “Se hoje nesta ou naquela diocese ou comunidade os paroquianos abandonam a participação na Missa, se a acção pastoral é ineficaz, se falta a abertura para os problemas e os males do mundo, se a cooperação económica é reduzida ao mínimo, não se pode atribuir todas as culpas a Roma. Todos, dos bispos, aos padres e aos leigos, devem empenhar-se pela renovação da Igreja no seu próprio meio de vivência, seja ele pequeno ou grande”.
Nestas palavras encontro a consciência da complexidade dos problemas, tendo como ponto de partida o conceito plural de “renovação” da Igreja.
Na verdade, o renovamento foi nos últimos anos entendido de diversos modos, segundo as preferências pessoais e culturais, que vão desde o mudança da estrutura à conversão pessoal e comunitária.
Do que resta da tua carta, parece-me que o enfoque esteja colocado prevalentemente senão mesmo exclusivamente nas reformas “estruturais”. Ter-me-ia sido agradável encontrar nela uma alusão ao escândalo da Cruz, que permanece, mesmo depois de todos os outros escândalos terem sido eliminados, ou seja, à gravidade da sequela de Cristo, que é um escândalo permanente, do amor de Deus que se deve viver e difundir frequentemente em contracorrente, à necessidade da penitência e da humildade.
Será apenas uma acção de engenharia eclesiástica que resolve o problema do testemunho cristão?
E depois, porque não se presta homenagem, precisamente em nome da complexidade, a quem leva avante prioritariamente a renovação evangélica do coração, preferindo-a à renovação da estrutura?
Existe ainda uma questão de estilo, que nega a substância, isto é, um conhecimento erróneo do primado da caridade, ou da caridade na verdade: “… se não tiver caridade, sou como um bronze que soa", diz-nos Paulo na sua primeira epístola aos Coríntios (13,1).
A caridade é magnânime, benévola: torna-se necessário ler todo o hino à caridade, que é o programa da ecclesia patiens, da casta meretrix, capaz de renovar-se e de superar todas as tempestades, porque “aonde há caridade e amor, aí está Deus”.
É necessária a veracidade, “porém, a maior delas é a caridade” (1 Cor 13,13), que reconhece generosamente o trabalho alheio, que não se opõe nem divide, que não aumenta as culpas, que reconhece que toda a profecia é imperfeita.
Talvez se a tua carta se tivesse inspirado um pouco mais no hino à caridade, tivesse resultado numa saudação mais cristãmente elegante ao antigo Colega, por ocasião dos seus aniversários e num contributo mais frutuoso à Igreja que sofre pelas fraquezas dos seus filhos.
Espero não haver incorrido em falta de caridade ao dizer-te isto, porque sem esta nada serei.
Desagradar-me-ia ser considerado um beato de Igreja que faz pias considerações sobre temas sérios, porque então haveria que distinguir entre os textos do Novo Testamento e aqueles destinados às pessoas pias e aqueles destinados às pessoas sérias.
Não me tendo na conta de pessoa particularmente pia ou séria (importante), apelo à compreensão da tua caridade. Sempre com estima pelo teu importante trabalho.
Pier Giordano Cabra
(© L'Osservatore Romano - 23 aprile 2010)
Nota de JPR: assumo a responsabilidade da tradução a partir do original em italiano e de alguma liberdade de adaptação procurando, no entanto, não desvirtuar o texto original que podeis ler AQUI , permitam-me que acrescente, que não possuo qualquer formação académica na área da tradução e se o faço, é por amor.
Obrigado pela vossa compreensão!
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