Em pleno debate sobre a reforma da saúde, o presidente Barack Obama surpreende a opinião pública dos Estados Unidos com a atribuição de fundos destinados a combater a SIDA/AIDS no mundo em desenvolvimento. A polémica centra-se na decisão de repartir o dinheiro para lutar também contra outras doenças como a pneumonia ou a diarreia. Segundo os responsáveis do plano, este novo ponto de vista permitiria salvar mais vidas.
Mas os activistas contra a sida mostram-se muito críticos com o plano. "Custa-me a acreditar, mas fez menos que George Bush", disse Gregg Gonsalves, um veterano activista em declarações ao New York Times (9-12-09). "No assunto da sida, Bush realmente deu um passo em frente. Fez avanços formidáveis. É deprimente que isto não se tenha passado com Obama".
Na verdade os planos contra a sida propostos por Bush nunca foram pacíficos. O ex Presidente era partidário de promover, juntamente com as doações destinadas ao fornecimento de tratamento antiretroviral aos infectados pelo VIH, a estratégia da abstinência entre os jovens.
Esta maneira de ver não agradava a todos os activistas. Mas, pelo menos, ficava claro que Bush se tinha envolvido no assunto dos antiretrovirais. Desde 2003, o seu plano de emergência (Pepfar) permitiu que o número de pessoas tratadas contra o vírus da sida nos países subsarianos tenha passado de 50.000 para 2,4 milhões.
Em face destes resultados, não é de estranhar que o Congresso decidisse em Março de 2008 continuar a financiar a luta contra a pandemia mediante este programa - que destinava também fundos a favor da abstinência - com uma doação de 50.000 milhões de dólares para os próximos cinco anos.
Com a mudança de Administração, o programa de Bush ficou suspenso. Como é lógico, havia muita expectativa para conhecer o novo plano de Obama contra a sida. E o resultado foi desconcertante.
De entrada, o plano reajusta o acesso aos antiretrovirais: o objectivo é que em 2014 pelo menos quatro milhões de afectados pelo VIH recebam os medicamentos. Isto reduz o ritmo que levava o Pepfar, pois passa de meio milhão de pessoas ajudadas para 320.000.
Mas, em contrapartida, o plano prevê que na parte dos fundos para a luta contra a sida se incluam também outras doenças como a pneumonia e a diarreia.
Por muito que custe aos activistas, a nova perspectiva de Obama tem a sua lógica. A Unicef há muitos anos que vem avisando que, enquanto a sida leva a parte de leão, outras doenças causam muito mais mortes, sobretudo em crianças.
É verdade que ainda mais de metade dos infectados com o vírus da sida não recebem tratamento, e em 2007 morreram dois milhões. Mas a pneumonia mata um número igual de crianças com menos de 5 anos, e a diarreia, outro milhão e meio. E os esforços para evitar tal mortandade infantil seriam muito menos dispendiosos.
Esta tem sido a política que tem guiado Eric Goosby, novo director da Pepfar, na elaboração do plano. "Se se dispõe de recursos limitados, não é razoável e ético atender primeiro os doentes?"
Goosby também assegura que o novo plano para combater a sida prestará mais atenção na prevenção da epidemia e nas estratégias para travar a transmissão do vírus de mãe para filho.
O plano Obama, pelo contrário, guarda silêncio sobre algumas questões controversas. Não diz nada acerca do dinheiro que vai destinar o Pepfar aos programas centrados na abstinência.
Aceprensa
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