São Gregório Magno (c. 540-604), papa e Doutor da Igreja
Homilia 20 sobre os Evangelhos, § 14 (a partir da trad. Le Barroux rev.)
«O Reino dos Céus tem sido objecto de violência e os violentos apoderam se dele à força»
João Baptista recomenda-nos que realizemos grandes coisas: «Produzi frutos dignos do arrependimento» e ainda: «Quem tem duas capas, que partilhe com aquele que não tem; quem tem de comer, que proceda do mesmo modo» (Lc 3, 8.11). Não será isto dar a compreender claramente o que afirma Aquele que é a Verdade: «Desde o tempo de João Baptista até afora, o Reino dos Céus tem sido objecto de violência e os violentos apoderam se dele à força»? Estas palavras vêm-nos do alto; nós devemos meditá-las com grande atenção. É preciso procurar como pode o Reino dos Céus ser tomado pela força. Quem pode fazer violência ao céu? E se é verdade que o Reino dos Céus se toma pela força, porque é que isso só é verdade depois do tempo de João Baptista e não antes?
A antiga Lei [...] martirizava os pecadores com penas rigorosas, mas sem os trazer à vida pela penitência. Mas João Baptista, anunciando a graça do Redentor, prega a penitência a fim de que o pecador, morto em consequência do seu pecado, viva pelo efeito da sua conversão: foi pois verdadeiramente desde então que o Reino dos Céus se abriu aos que o tomavam pela força. O que é o Reino dos Céus, senão a morada dos justos? [...] São os humildes, os castos, os doces, os misericordiosos que chegam às alegrias do alto. Mas quando os pecadores [...] emendam as suas faltas pela penitência, também obtêm a vida eterna e entram nessa terra que lhes era estrangeira. Assim [...], ordenando a penitência aos pecadores, João ensinou-lhes a fazer violência ao Reino dos Céus.
Irmãos bem amados, reflictamos pois, também nós, em todo o mal que temos feito e choremos. Aprendamos da herança dos justos pela penitência. O Todo-Poderoso quer aceitar esta violência da nossa parte; Ele quer que, pelas nossas lágrimas, nos deleitemos no Reino que não nos era devido de acordo com os nossos méritos.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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