Uma denúncia clara e realista de uma situação intolerável: cresce o número de quem sofre a fome, mas não se toma consciência disso. É Bento XVI quem fala nestes termos na FAO, o organismo das Nações Unidas que se ocupa da alimentação e da agricultura o qual reuniu uma cimeira mundial sobre a segurança alimentar. Com um discurso pelo qual o bom senso deveria demonstrar interesse e respostas concretas, pois provém de uma autoridade para a qual olham com confiança muitíssimas pessoas em todas as partes do planeta, também fora do âmbito da Igreja católica.
Em continuidade com a encíclica Caritas in veritate e com o ensinamento dos seus predecessores, o Papa repete que o drama da pobreza do qual "a fome é o sinal mais cruel e concreto" não depende do aumento da população. Este é um dado adquirido e é negado apenas por motivações ideológicas ou pela defesa de interesses e privilégios. Já Paulo VI o disse nas duas encíclicas irmãs em defesa da vida humana (Populorum progressio e Humanae vitae), depois repetiu-o várias vezes João Paulo II e hoje reafirma-o o seu sucessor, encorajado também por um consenso que agora começa a difundir-se até nos organismos internacionais.
O longo discurso do Papa merece atenção porque é realista. Interpela sobretudo as autoridades civis e os componentes da Comunidade internacional. E fá-lo com um olhar lúcido que vê "a debilidade dos actuais mecanismos da segurança alimentar" e sugere mudanças. Em nome da Igreja católica como fez Paulo VI em 1965, quando pela primeira vez um Papa falou diante dos representantes de todos os povos da terra e sem pretensão alguma de interferir nas opções políticas.
Ou seja, em nome de uma realidade mundial preocupada unicamente com a defesa de cada pessoa humana. E o critério da "pertença comum à família humana universal" é o único ressaltou com vigor Bento XVI em nome do qual "se pode exigir que cada povo, e portanto cada país, seja solidário". Com um apelo, portanto, à razão que impõe com urgência uma mudança na agenda internacional: pondo fim à escandalosa destruição de géneros alimentares, modificando os mecanismos das ajudas internacionais e da cooperação, redesenhando as próprias relações entre as Nações e voltando a olhar com atenção para o mundo rural, tutelando o meio ambiente.
Podemos perguntar-nos se o raciocínio lúcido e concreto de Bento XVI será ouvido, se as suas palavras serão consideradas. Talvez muitos as ignorem e neste aspecto é fundamental o papel da media internacional e outros recorrerão aos estereótipos de uma Igreja católica obscurantista face a uma presumível superpopulação mundial. Mas não será fácil: de facto, o Papa reafirmou que a Igreja é "respeitadora do saber e dos resultados das ciências, assim como das opções determinadas pela razão". É em nome da razão, assim como em nome da fé, que ele fala.
Giovanni Maria Vian - Director
(© L'Osservatore Romano - 21 de novembro de 2009)
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