Nosso Senhor ensinou-nos, com o seu exemplo e a sua palavra, a amar o próximo como a nós mesmos. Esta é a doutrina da caridade, a que Jesus quis que o homem, resgatado pelo seu Sacrifício Redentor, vivesse com todas as suas forças naturais ajudado pela graça de Deus.
Sabemos que o nosso próximo é qualquer pessoa que está perto de nós, quer por razões de lugar – o "Bom Samaritano" acudiu a um desconhecido ao passar por ele ocasionalmente –, como de relação: familiar, profissional ou social.
Quem entra desta maneira na nossa vida, deve merecer o nosso amor e a nossa dedicação mais veemente, porque se contrai com ele uma obrigação especial de fraternidade. Deus é Pai de todos os homens e nenhum, entre estes, pode ser indiferente para nós. No entanto, Ele pretende que a nossa caridade, tal como a sua constante misericórdia e compaixão, recaia sobre quem, pela sua proximidade, passa a fazer mais parte de nós mesmos.
A Igreja, nossa boa e generosa Mãe, recorda-nos que ela não é apenas o conjunto de fiéis que vivem neste momento sobre a terra e constituem a Igreja Militante. O seu âmbito é muito mais vasto, pois chega ao Céu, onde se encontra a Igreja Triunfante, de que fazem parte as almas que já participam por toda a eternidade da felicidade de Deus. Delas fazemos memória no Dia de Todos os Santos, em 1 de Novembro. Estas almas já não precisam das nossas orações, mas devemos pedir-lhes que sejam poderosas intercessoras junto de Deus.
A Igreja Padecente é formada pelas almas dos que já morreram e ainda se preparam, no Purgatório, através da purificação, para entrar no Céu. São dilectas e santas, pelo que também podem ser nossas intercessoras junto de Deus. Vivem a caridade de uma maneira ordenada e santa, pedindo por todos nós que ainda vivemos nesta vida terrena, nomeadamente pelos que, com generosidade, rezam pelo fim dos seus sofrimentos, e também pelos que lhes são mais próximos.
É por esta razão que em Novembro, a que o povo chama habitualmente "O mês das Almas", a Igreja dedica o dia 2 – Comemoração de todos os fiéis defuntos – a orar pelas almas do Purgatório. É um dever que todos temos. Em primeiro lugar, pelas que estamos mais obrigados. São as dos nossos familiares e amigos, que connosco aqui conviveram e fizeram parte da nossa existência mais intimamente. Como, porém, qualquer alma é nossa irmã, devemos pedir por todas as que estão no Purgatório, fazendo menção especial de aquelas que, aqui na terra, por razões que Deus e elas mesmo conhecerão, têm pouca ou nenhuma gente que se lembra delas.
Certamente que devemos, para além dos sufrágios que possamos oferecer – celebração de Missas, Terços por essa intenção ou outras orações – oferecer sacrifícios. Não é necessário que sejam muito grandes e podemos dar-lhes um sentido positivo. Por exemplo: realizar o trabalho que temos entre mãos com perfeição e esforço, rezar mais e com atenção redobrada as orações vocais, tratar melhor alguma pessoa que nos irrita habitualmente, perdoar a quem, talvez sem se dar conta, cometeu alguma incorrecção ou injustiça para connosco, manifestar um gesto de delicadeza e estima para com algum familiar ou amigo que necessita de carinho humano naquele momento, ajudar, sem nos fazermos notar, alguém que necessite do nosso auxílio, etc.
Maria Santíssima, Mãe de todas as almas, com que satisfação não verá que os seus filhos, aqui na terra e também no Céu, rezam pelos seus irmãos que sofrem no Purgatório. Ela poderá ter, para com Jesus, a mesma influência que conhecemos nas Bodas de Caná. E realizar o grande milagre de, durante o "Mês das Almas", levar para o Céu muitas delas, a fim de gozarem, pela sua intercessão e pelos nossos rogos, a bem-aventurança eterna.
(Pe. Rui Rosas da Silva – Prior da Paróquia de Nossa Senhora da Porta Céu em Lisboa in Boletim Paroquial de Novembro, selecção do título da responsabilidade do autor do blogue)
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