ACTUALIZAÇÃO
As recolhas deste fim-de-semana feitas em Portugal pelos voluntários dos Bancos Alimentares Contra a Fome atingiram 2498 toneladas de alimentos, superando em 30,9 por cento as 1908 toneladas obtidas em Novembro de 2008, anunciou a organização.
27 mil voluntários juntaram-se à campanha durante o fim-de-semana
O 13.º mês, o espírito de solidariedade do Natal, a noção de crise, 27 mil voluntários do Banco Alimentar e dois dias de recolha nos supermercados reuniram, este fim-de-semana, mais 20% de alimentos do que há um ano.
O olho verde de Francisco brilha de actividade. Está parado, à espera que a torre de cereais chegue ao limite do ameaçador para levá-la até à balança. E daí para as gigantescas prateleiras do centro de recolha do Banco Alimentar Contra a Fome do Porto. Tem 13 anos e um gosto agora revelado por um trabalho manual que há-de ajudar alguém a começar melhor um dia destes. Antes dos cereais, carregou paletes de conservas. Deambula pelo formigueiro de camisolas brancas atarefadas em volta do tapete rolante. Esteve ali anteontem, com os escuteiros. Ontem, acompanhou o pai, Manuel. "É muito giro", diz, T-shirt a bater no joelho, "ajudar".
Francisco é uma das pelo menos 700 pessoas que passaram por aquele armazém ao longo do fim- -de-semana, na última linha de uma cadeia de solidariedade que, este ano, se ampliou com a crise. "27 mil voluntários! É uma coisa maravilhosa!" Isabel Jonet, presidente da federação que agrega os 17 bancos alimentares do país (mais três do que no ano passado), faz um balanço "muito positivo". Só no sábado, Portugal ofereceu 1320 toneladas de arroz, massa, leite, açúcar, enlatados, leguminosas, sumos, óleo, azeite, cereais.... "Representa um acréscimo na ordem dos 20% em relação a esta campanha em 2008".
Então e a crise? "Para quem tem emprego não há problema de crise, porque a inflação baixou. O problema é o desemprego. E quem vai às compras tem mais apetência para dar", acredita Rui Leite de Castro, responsável pelo banco do Porto. Como aquele "cliente" já conhecido, que, este ano, colocou o Modelo Bonjour do NorteShopping no segundo lugar das lojas com mais recolha: gastou ali mais de dois mil euros para o Banco Alimentar. Quem? Não interessa.
Sara Almeida está no lado oposto de Francisco. Separa as embalagens de leite, enfia-as em sacos que alguém coloca numa palete, tem 78 anos e foi ali parar "atrás" da vizinha. Já conhecia o sítio. Vem ali com frequência buscar cargas para a Conferência de S. Vicente de Paulo distribuir por quem precisa. É assim que funciona aquela instituição, como intermediária. Outras cozinham mesmo para quem não tem como. Mais uma vez, quem? "A nova pobreza, a classe média baixa que perde um subsídio de desemprego e corta onde pode: na comida", para conseguir ter luz e água e tecto, explica Rui Leite de Castro.
Os altifalantes gritam a necessidade de voluntários à chuva, chegam mais carrinhas. São das instituições apoiadas ao longo do ano: no Porto, umas 300, que dão a mão a 70 mil pessoas. Este fim-de-semana representa 15 a 20% de tudo o que a associação recolhe ao longo do ano. Outro tanto são sobras mal embaladas da indústria agro-alimentar, mais 20% vêm da União Europeia, 10% é fruta do Instituto de Financiamento da Agricultura e das Pescas e 10% são amealhados duas vezes por semana no mercado abastecedor. "Desde que lá vamos, o lixo reduziu-se em 60%!".
(Fonte: JN online)
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