Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A linguagem do perdão

Sempre nos impressionou consideravelmente a estadia de Jesus Cristo na Cruz, depois de todos os sofrimentos que suportou desde que foi preso pelos soldados enviados pelas autoridades religiosas dos judeus. Não Se queixa, não protesta, não manifesta qualquer sentimento de revolta. Tudo suporta com uma dignidade impressionante que deve ter cativado, dum modo especial, o chamado "Bom Ladrão". Tal procedimento chocou-o positivamente. A situação angustiante que Cristo vive não o impede, porém, de ter um contacto contínuo com Deus Pai, a Quem reza com intensidade na convicção de que só Ele entende a sua dor, e que o que se está a passar deve levá-Lo à desculpa dos seus algozes: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem".

A linguagem do perdão revela o amor e a consideração que Nosso Senhor tem para com todos os que O ofendem. É uma prova da sua confiança e da grande misericórdia que verte sobre todos os homens. O que eles fazem pode ser censurável, mas merecem, apesar dos seus actos, que a amizade divina continue a manter-se, na esperança de que se convertam e voltem ao bom caminho.

Perdoar é, ao fim e ao cabo, acreditar na capacidade de regeneração de quem prevaricou. Não se dá por suposto que alguém seja incapaz de reconhecer os seus erros, recomeçar a vida de outro modo mais honesto e sério e passar a trilhar as vias da justiça e da caridade. Até à hora da morte, Deus, que é Pai, quer que a pessoa pecadora se arrependa. E tudo faz para que isso aconteça. Quantas e quantas almas, na hora da sua ida para a eternidade, pedem finalmente perdão pela sua conduta e abraçam o perdão de Deus, que assim as conquista para a felicidade que não termina.

Ou então, também pode suceder que um desaire vital – económico, social ou de saúde –, seja aproveitado por Deus para chamar a atenção da pessoa para o seu comportamento desorientado e cheio de auto-suficiência. Com isso se convence da veracidade da frase de S. Paulo "aqui, não temos morada permanente". Reflecte, sente a sua insignificância, as suas limitações e recomeça o caminho pela via da humildade. Não é dona de si mesma nem senhora dos factos e das coisas: tudo isto a supera. Daí que sinta necessidade de recorrer a Quem é mais forte do que ela, a Quem é a razão de ser da sua existência e do seu futuro. Só n’Ele encontra a paz e a justificação para seguir em frente por direcções mais exigentes de senso comum, de sujeição e de honestidade. Curiosamente, quando assim procede, sente dentro de si uma tranquilidade cheia de significado e tem nítida consciência de que Aquele a Quem se dirigiu lhe perdoou sem ressentimentos o que ela Lhe confessou. É um perdão perfeito.

O problema não reside, por isso, na capacidade de perdoar de Deus, mas na humildade de quem faz o mal e não pede desculpa. O orgulho pessoal, a vanglória, a afirmação inflada da sua capacidade e a perseverança na perversidade podem levar, primeiro, a uma atitude de indiferença para com Deus e a gravidade das infidelidades cometidas. Por este processo se chega ao pecado de presunção de salvação sem merecimento: Deus é infinitamente bom, por isso não me vai castigar. Mais: tem obrigação de me salvar independentemente da minha conduta. Assim prova o seu amor para comigo. Num âmbito oposto, gera-se o pecado do desespero de salvação, que pode ser provocado pelo primeiro tipo de atitude, após um longo caminhar na ofensa repetida a Deus: a minha vida foi tão má, sou um pecador tão inveterado, que não tenho perdão possível.

Se no primeiro caso, se trata a Deus como um ser que deve satisfazer todos os nossos caprichos, no segundo julga-se a sua capacidade de perdoar semelhante à nossa. Em qualquer das situações, esquece-se que Deus é perfeito em tudo: nos juízos que faz e na forma de administrar o seu perdão às criaturas a que deu origem e sobre o destino das quais Se sente responsável. Não é juiz competente aquele que não sanciona o que é devido, embora deixando sempre aberta a porta ao arrependimento; nem é verdadeiramente bom quem não é capaz de perdoar, mesmo que as faltas e as ofensas do prevaricador possam ser gravíssimas. Deus não Se assusta com os pecados que cometemos, mas com a nossa falta de arrependimento.

Imagem: O regresso do Filho Pródigo. Pintura de Rembrandt

(Pe. Rui Rosas da Silva – Prior da Paróquia de Nossa Senhora da Porta Céu em Lisboa in Boletim Paroquial de Setembro, selecção do título da responsabilidade do autor do blogue)

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