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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Vaticano diz que socorrer clandestinos no mar é questão humanitária

Reacção ao número crescente de migrantes mortos no Mediterrâneo

O presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (CPPMI), D. Antonio Maria Veglió, reagiu a mais uma tragédia com migrantes no Mediterrâneo, defendendo que socorrer clandestinos no mar é uma “questão humanitária”.

“Todos os migrantes têm direitos fundamentais que devem ser respeitados, em qualquer situação”, disse, após a morte de 73 eritreus que rumavam à Europa, num barco. Depois de passar 23 dias no mar sem combustível, comida, água ou socorro, somente cinco pessoas conseguiram sobreviver e contaram a sua odisseia.

As autoridades italianas e maltesas afirmaram duvidar do relato dos sobreviventes, mas a repercussão do episódio gerou críticas e a condenação unânime da ONU e da Igreja Católica.

Em entrevista à Rádio Vaticano, o presidente do CPPMI disse que o direito humanitário “acentua-se em situações de extrema necessidade, como por exemplo estar à mercê das ondas do mar”.

Para D. Vegliò, “se por um lado é importante vigiar zonas de mar e empreender iniciativas humanitárias, é legítimo o direito dos Estados de administrar e regular as migrações”.

Contudo, observou o arcebispo, deveriam “harmonizar-se as diversas disposições legislativas, na perspectiva de salvaguardar as exigências e os direitos das pessoas e das famílias migrantes e, ao mesmo tempo, os das sociedades de chegada dos próprios migrantes”.

Segundo este responsável, algumas sociedades “desenvolveram sentimentos de rejeição ao estrangeiro, originados não só por uma falta de conhecimento do outro, mas também por um sentido de egoísmo, pelo que não se quer partilhar com o estrangeiro o que se tem”.

Segundo as últimas estatísticas, desde 1988 até hoje, o número de potenciais migrantes naufragados ou vítimas nas fronteiras da Europa supera os 14 500 mortos.

O Conselho Pontifício da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes, assegurou D. Vegliò, “sente-se entristecido pelo contínua repetição destas tragédias e reafirma o que foi dito pelo Papa na Caritas in Veritate: «Todo o migrante é uma pessoa humana que, enquanto tal, possui direitos fundamentais inalienáveis que devem ser respeitados por todos e em qualquer situação (142)»”.

O jornal da Conferência Episcopal Italiana, Avvenire, condenava Segunda-feira em editorial estes episódios, lamentando a “indiferença” face ao sofrimento dos migrantes.

“Hoje, quando lemos sobre as deportações de judeus na época do nazismo, perguntamos: Ninguém via nem ouvia os gritos que provinham dos vagões, parados nas estações? Naqueles anos, o totalitarismo e o terror faziam fechar os olhos. Hoje não. A indiferença é tranquila, resignada”, referia o quotidiano.

“Há uma lei do mar, bem mais antiga do que a codificada em tratados, que ordena: no mar, socorre-se. Violar essa antiga lei ameaça as nossas raízes fundamentais, a ideia do que é um homem e de como ele é precioso”, acrescentava o texto.

Os cinco imigrantes da Eritreia, resgatados na última Quinta-feira perto da ilha de Lampedusa, no sul da Itália, estão a ser investigados pelo crime de imigração clandestina, sob a Lei de Segurança, em vigor desde o dia 8 de Agosto deste ano.

Internacional Octávio Carmo 2009-08-25 16:14:32 3952 Caracteres Migrações


(Fonte: site Agência Ecclesia)

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