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Neste domingo de Pentecostes, Bento XVI presidiu, de manhã, na basílica de São Pedro, a uma Missa em que, para além do coro da Capela Sistina, actuou também o Coro da catedral de Colónia e a orquestra de câmara desta cidade alemã, que – com quatro solistas, por ocasião do bicentenário da morte de Joseph Haydn – executaram a última das Missas compostas por este músico alemão.
Comentando, na homilia, o texto dos Actos dos Apóstolos que apresenta a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos sob forma de línguas de fogo, Bento XVI recordou que tal correspondia ao que Jesus tinha anunciado antes, ao dizer “Vim lançar fogo sobre a terra, e quanto desejaria que estivesse já aceso”. Ora – observou o Papa – “o verdadeiro fogo, o Espírito Santo, foi Cristo que o trouxe à terra. Ele não o roubou aos deuses, como fez Prometeu, segundo o mito grego, mas fez-se mediador do dom de Deus obtendo-o para nós com o maior acto de amor da história: a sua morte na cruz”.
“Se queremos que o Pentecostes não se reduza a um simples rito ou a uma comemoração, por muito sugestiva que seja, mas seja isso sim um evento actual de salvação, temos que nos predispor, em religiosa expectativa do dom de Deus, mediante a escuta humilde e silenciosa da Sua Palavra. Para que o Pentecostes se renove no nosso tempo, será porventura necessário (sem nada tirar à liberdade de Deus!) que a Igreja esteja menos ofegante com as actividades, e mais dedicada à oração”.
“Isto mesmo no-lo ensina a Mãe da Igreja, Maria Santíssima, Esposa do Espírito Santo” – sublinhou o Papa. A própria Visitação à sua prima Isabel (que a Igreja recorda neste última dia de Maio) foi também uma espécie de pequeno Pentecostes, que suscitou a alegria e o louvor dos corações de Isabel e de Maria, uma estéril e a outra virgem, ambas mães por intercessão divina. Ocasião para Bento XVI evocar a elevada expressão musical desta Missa.
“A música e o canto que acompanham esta nossa liturgia, ajudam-nos, também eles, a sermos concordes na oração. Exprimo pois vivo reconhecimento ao coro da Catedral e à orquestra de câmara de Colónia. Para esta liturgia, no bicentenário da morte de Joseph Haydn, escolheu-se de facto, muito oportunamente, a sua Harmoniemesse, a última das “Messe” compostas pelo grande músico, uma sublime sinfonia para a glória de Deus”.
Voltando ao texto dos Actos dos Apóstolos, o Papa fez notar que ali se utilizam duas grandes imagens: para além do fogo, a tempestade, vista no mundo antigo como sinal da potência divina. Aqui faz pensar no ar, que distingue o nosso planeta dos outros astros e nos permite viver.
“O que é o ar para a vida biológica, é-o o Espírito Santo para a vida espiritual; e como existe a poluição atmosférico, que envenena o ambiente e os seus seres vivos, assim também existe uma poluição do coração e do espírito, que mortifica e envenena a existência espiritual. Assim como não nos podemos habituar aos venenos do ar – e é por isso que o empenho ecológico representa hoje uma prioridade – o mesmo se deveria fazer no que diz respeito ao espírito”.
Bento XVI referiu “tantos produtos que poluem a mente e o coração… - por exemplo imagens que oferecem em espectáculo o prazer, a violência e o desprezo pelo homem” – e a que as pessoas se habituam facilmente… E contudo “intoxica o espírito, sobretudo das novas gerações, acabando por condicionar a sua liberdade”.
“A metáfora do vento impetuoso de Pentecostes faz pensar como é precioso respirar ar puro, tanto com os pulmões – o ar físico, como com o coração – o ar espiritual, o ar saudável do espírito que é o amor!”.
Voltando à imagem do fogo, o Papa citou de novo “a figura mitológica de Prometeu, que – observou – evoca um aspecto característico do homem moderno”, que tende a afirmar-se a si mesmo como deus e a querer transformar o mundo excluindo-O. As potencialidades colocadas nas mãos do homem de hoje contêm enormes riscos, como o mostra a energia atómica, usada para fins bélicos…
“Nas mãos de um homem assim, o fogo e as suas enormes potencialidades tornam-se perigosos: podem voltar-se contra a vida e contra a própria humanidade, como infelizmente demonstra a história. Permanecem como perene advertência as tragédias de Hiroshima e Nagasaki, onde a energia atómica, usada para fins bélicas, acabou por semear morte em proporções inauditas”.
A verdadeira energia que dinamiza o mundo – sublinhou o Papa – é “o fogo” que Jesus trouxe à terra – o seu Espírito Santo:
“A Sagrada Escritura revela-nos que a energia capaz de mover o mundo não é uma força anónima e cega, mas sim a acção do espírito de Deus que planeava sobre as águas no início da criação. E Jesus Cristo trouxe à terra não a força vital, que já aí habitava, mas o Espírito Santo, isto é o amor de Deus renova a face da terra, purificando-a do mal e libertando-a do domínio da morte. Este fogo – puro, essencial, pessoal, o fogo do amor – desceu sobre os Apóstolos reunidos em oração com Maria no Cenáculo, para fazer da Igreja o prolongamento da obra renovadora de Cristo”.
A concluir, uma última anotação sobre o efeito do Espírito Santo nos discípulos de Jesus: “O Espírito de Deus, onde entra, expulsa o medo; faz-nos conhecer e sentir que estamos nas mãos de uma Omnipotência de amor: aconteça o que acontecer, o seu amor infinito não nos abandona. Demonstram-no o testemunho dos mártires, a coragem dos confessores da fé, o intrépido impulso dos missionários, a franqueza dos pregadores, o exemplo de todos os santos, alguns mesmo adolescentes e crianças. Demonstra-o a própria existência da Igreja que, apesar dos limites e das culpas dos homens, continua a atravessar o oceano da história, impulsionada pelo sopro de Deus e animada pelo seu fogo purificador”.
(Fonte: site Radio Vaticana)
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