Vörös foi contratado pelo Governo
da Jordânia em 2009, através de um concurso internacional, lançado para
corresponder ao desejo expresso por Bento XVI, na sua visita apostólica à
Jordânia, de que se investigasse o sítio de Maqueronte. Na altura, era difícil
ir lá, porque o local era uma zona-tampão entre as forças militares em conflito.
Além dos relatos nos Evangelhos de
Marcos e Mateus, a história de João Baptista é contada em pormenor pelo
escritor judeu contemporâneo (não cristão) Flávio Josefo e, mais tarde por Eusébio
de Cesareia e outros. É através de Flávio Josefo e destas outras fontes que
sabemos que o local da prisão e do martírio foi a fortaleza real situada em
Maqueronte, a leste do Mar Morto.
Poucos anos depois da morte de
Cristo, no ano 70, a luta encarniçada da X legião romana contra a resistência judia
culminou na devastação de Jerusalém. No ano seguinte, no Inverno de 71/72, a X
legião conquistou Maqueronte. Ao fim de poucos séculos já ninguém sabia ao
certo onde ficava Maqueronte. Havia relatos da época, mas não se sabia a que
local correspondiam. Só em 1968 o arqueólogo alemão protestante August Strobel
levantou a hipótese de que a antiga Maqueronte ficasse junto de uma povoação actualmente
chamada Mkāwer. O nome tem alguma parecença e sobretudo Strobel descobriu no
local uma imensa vala, uma muralha poderosa e uma rampa de terra para a conquistar,
tal como na fortaleza de Massada, conquistada pelos romanos na mesma época. No
centro da muralha poderia estar o palácio de Herodes.
Uma equipa de protestante
norte-americanos começou os trabalhos de exploração e, embora só tenham permanecido
quatro semanas no local, levaram 5 mil achados do tempo de Herodes para os
Estados Unidos. Em 1978, dois arqueólogos franciscanos italianos retomaram as escavações,
mas morreram antes de concluírem o trabalho. Dois institutos católicos, o Studium
Biblicum e a École Biblique, avançaram nas pesquisas. Finalmente, os trabalhos
foram retomados em 2009, como se disse, por iniciativa do Governo Jordano, sob
a direcção do arqueólogo húngaro Győző Vörös.
Recolheram-se meticulosamente mais
de 100 mil peças do que foi o palácio real de Herodes Antipas e, com esta
espécie de «puzzle», conseguiu-se reconstruir o edifício em muitos pormenores. Foi
como colar, peça a peça, os cacos de uma jarra partida, só que neste caso o
«puzzle» tinha peças grandes, como colunas e pedras trabalhadas. O facto de o
palácio ter ficado completamente abandonado durante quase dois mil anos permitiu
que o local se conservasse como um dos mais intactos de toda a Terra Santa.
João pregou junto ao rio Jordão no ano 15
do Imperador Tibério, que corresponde aproximadamente ao ano 28 ou 29 da era cristã.
Portanto, falta pouco para passarem dois mil anos daquele
dia terrível em que Salomé, filha de Herodíades, dançou diante da corte do Rei idumeu
Herodes, que os romanos tinham nomeado para governar os judeus. A luxúria
fervia nesta corte pagã, estranhamente escolhida para subjugar o Povo de Deus. Flávio
Josefo, um escritor judeu contemporâneo, escreve que Herodíades era a «vergonha
do povo» pelos seus atrevimentos e Salomé seguia-lhe os passos. O vinho deve
ter toldado a mente do rei, de modo que ele jurou o que não podia cumprir:
prometeu à dançarina o que ela quisesse, nem que fosse metade do reino. É claro
que os romanos tinham-no feito rei mas não lhe davam liberdade para dividir o
reino em partes. O que aconteceu foi ainda mais surpreendente, em vez de poder
ou riqueza, Salomé e a mãe pediram a cabeça de João Baptista.
Herodes, que vivia com a psicose
e talvez o remorso de usurpar o governo do povo chamado por Deus, admirava e ao
mesmo tempo temia esta relação com Deus. Preferia não matar João Baptista, mas não
queria mostrar que respeito pela vida humana.
Jesus, depois da Transfiguração,
disse aos discípulos que fariam conSigo o mesmo que fizeram com João Baptista.
José Maria C.S. André
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