Felizmente, as dificuldades que vivemos
em Portugal não têm nada a ver com a perseguição típica dos regimes comunistas,
mas, ocasionalmente, também entre nós vem ao de cima uma crueldade soviética que
ultrapassa todos os limites da decência.
É significativa a história dos
dois rapazes de Famalicão que o Governo quer impedir de prosseguirem os estudos,
porque os pais não aceitam submetê-los à iniciação ideológica e sexual que o Ministério
da Educação lhes quer aplicar. Como é possível tanto fanatismo em Portugal?
O Prof. Mário Pinto (https://observador.pt/opiniao/em-defesa-da-familia-mesquita-guimaraes-martir-do-estado-educador-1/)
elencou e explicou em pormenor as leis que protegem a liberdade das famílias em
matérias ideológicas e éticas. A lista é impressionante: a Declaração Universal
dos Direitos Humanos (artigo 26º), a Convenção dos Direitos da Criança, também vigente
em Portugal, (artigo 5º, 7º, 18º), a Constituição da República Portuguesa (artigos
1º, 2.º, 43º, 68.º, 74.º e 277.º) e o Código Civil (artigos 1877.º, 1878.º e
1886.º).
O estudo de Mário Pinto cita
muito a propósito António Barreto, que militou na juventude no Partido
Comunista, foi Ministro de Governos socialistas e se notabilizou, desde há
muitos anos, como defensor da liberdade. Escreve António Barreto acerca deste
caso: «Ao abrigo dos melhores sentimentos, estamos em pleno delírio de
ideologia e propaganda, ou antes, de manipulação e intoxicação. […] Sempre os
déspotas sonham com a educação e a formação das jovens gerações!» (jornal «Público»
de 13-09-2020).
Como é possível um Governo levar
o furor ideológico ao ponto de querer aplicar penas tão cruéis a duas crianças,
impedindo-as de estudar?!
Leis maravilhosas não faltam. Falta
talvez que alguns prefiram a coragem de cumprir leis justas à facilidade de obedecer
a ordens burocráticas. Infelizmente, há quem não perceba a diferença entre
Direito e burocracia. A palavra Direito merece ser escrita com maiúscula; a
palavra burocracia escreve-se com minúscula. A liberdade apoia-se no Direito;
as ditaduras vivem da obediência burocrática.
Em Karnataka, no Sul da Índia, o
Governo regional prepara uma perseguição aos cristãos com a desculpa de «evitar
conversões forçadas». Os cristãos são uma minoria tão pequena na região que é
evidente que nunca houve conversões forçadas. O Arcebispo católico Peter
Machado convocou para hoje (sexta-feira, 12 de Novembro) uma jornada de oração
e jejum para que Deus os proteja da ameaça. Em todas as igrejas da diocese, quem
quiser vai ficar ao longo do dia e da noite a rezar diante do Santíssimo
Sacramento. A ameaça de perseguição é tão concreta que os cristãos não
católicos foram convidados a juntar-se a este dia de oração e penitência e
muitos aceitaram. É a segunda vez, em pouco tempo, que os cristãos de Karnataka
recorrem a uma jornada deste tipo.
A Constituição da República da Índia
reconhece a liberdade de «professar, praticar e propagar» a religião, mas as
palavras bonitas da lei são ignoradas nos Estados de Odisha, Uttar Pradesh,
Arunachal Pradesh, Chhattisgarh, Gujarat, Jharkhand, Himachal Pradesh, Madhya
Pradesh e Uttrakhand. O Estado de Karnataka quer juntar-se ao grupo, que sonha
com uma Índia livre do cristianismo, uniformizada por uma religião hindu ao serviço
da política.
Convém esclarecer que os líderes hindus,
tal como os líderes muçulmanos e os de várias comunidades cristãs, têm grande estima
pelos católicos e pelo seu bispo —e estão a demonstrá-lo, mais uma vez, nas actuais
circunstâncias. O problema do Estado de Karnataka, como o de outras regiões da
Índia, não é um confronto de religiões, é a tentativa do poder político de
ocupar o lugar de Deus.
Mas a imitação é pouco convincente.
Os fanáticos das ideologias, sejam elas a teoria de género ou qualquer outra,
são cruéis. Em contrapartida, Deus ama-nos a todos com infinito respeito,
perdoa sempre os nossos pecados. A Ele vai a nossa oração pela liberdade.
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