No dia 21 de Janeiro, com o decreto de reconhecimento das virtudes heróicas, o Papa Francisco deu um passo decisivo para a canonização do Prof. Jérôme Lejeune, o mais importante geneticista do século XX.
O elemento essencial de um processo
de canonização é este reconhecimento de que a pessoa é santa, no sentido mais
forte da expressão. Para o averiguar, equipas de especialistas da diocese e da
Santa Sé levam a cabo uma investigação histórica muito completa. Se a pessoa
tem grandes qualidades, mas não se distinguiu por uma santidade «heróica», como
lhe chama a Santa Sé, o processo termina logo. Se a investigação evidencia uma
dedicação verdadeiramente extraordinária, a Deus e aos outros, o Papa, apoiado
no parecer de várias equipas de consultores, manda publicar o decreto das
virtudes heróicas e o processo de canonização segue para a fase final.
Embora Jérôme Lejeune tenha sido
um dos cientistas mais brilhantes do século XX e o mais destacado no campo da
genética médica, esse aspecto não foi directamente tido em conta na análise das
suas virtudes. Por exemplo, a sua inteligência extraordinária não o ajudou e teria
sido um obstáculo para concluir positivamente o processo se ele tivesse sido
preguiçoso e não a tivesse feito render devidamente. Igualmente, essa
capacidade intelectual seria um obstáculo se o tivesse levado ao orgulho.
O processo histórico que analisou
as virtudes heróicas de Jérôme Lejeune também não se apoia no facto de ele ter
sido duramente perseguido e prejudicado na sua carreira profissional pelos
interesses ligados ao aborto. O facto de alguém ser vítima de grandes
injustiças não implica santidade e pode até deixar nela algum rancor. Neste
caso, ficou demonstrado que os atropelos de que este cientista extraordinário foi
vítima não o transformaram numa pessoa amarga ou ressentida.
Depois dos mártires do nazismo e
do comunismo, a indústria do aborto foi talvez a maior causa de injustiças e de
obstáculos ao progresso da ciência em todo o século XX. Também em Portugal, os
abortistas fanáticos conseguiram expulsar dos hospitais do Estado vários
médicos que se recusaram a colaborar com o aborto e, noutros países, cientistas
de grande categoria foram igualmente perseguidos.
Causar a morte deveria repugnar,
por isso muitas pessoas pensam que há qualquer coisa de demoníaco nesta
atracção pelo aborto, pela tortura e, mais recentemente, pela eutanásia. Independentemente
do papel que o demónio possa ter nesta atracção depravada, não podemos esquecer
que o aborto junta o interesse económico dos capitalistas sem escrúpulos com a
cultura do sexo promovida pelas correntes políticas decadentes: o resultado é a
catástrofe ética a que assistimos nalgumas sociedades ocidentais.
O Papa escolheu o dia 21 de Janeiro para ordenar a publicação do decreto das virtudes heróicas do Prof. Jérôme Lejeune por ser o aniversário da descoberta do mistério da Trissomia 21 (também conhecida como síndrome de Down, ou mongolismo), um dos mais extraordinários êxitos científicos de Lejeune.
Num primeiro momento, as descobertas
científicas do Prof. Lejeune geraram entusiasmo por todo o mundo mas, quando se
soube que ele rejeitava a morte de crianças e de adultos, o «lobby» abortista
entrou em acção. Perseguido pelos Governos de direita e por interesses
capitalistas corruptos, ameaçado de morte pelos revolucionários que pretendiam
generalizar o aborto, Jérôme Lejeune não cedeu.
No seu caso, a santidade teve um
preço muito elevado, mas Lejeune nunca cedeu.
Por contraste, a sua vida deixou
um fruto imenso. Tratou milhares de doentes, chegados à sua consulta vindos de
todo o mundo. Ficaram para a posteridade as suas descobertas científicas
notáveis. Deixou uma inspiração forte a todos aqueles que têm de defrontar os
interesses obscuros da cultura da morte. E, melhor que tudo isso (é essa a
opinião do Papa Francisco) Lejeune reza intensamente por todos nós junto de
Deus.
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