Em quase toda a arte cristã, S. José
é representado como um ancião venerável, contrastando com a juventude de Nossa
Senhora. Embora a doutrina garanta que S. José estava casado com Nossa Senhora,
em geral, os artistas procuraram esbater essa relação, como se fosse um
equívoco legal, um mal-entendido. O objectivo de representar José como um avô
era sublinhar a virgindade de Maria – o que corresponde à verdade –, mas o
resultado foi associar a virtude da pureza à velhice.
Como Portugal não acompanhou, sob
vários aspectos, as tendências da cultura e da arte, os pintores e escultores
portugueses nem sequer imaginaram que S. José fosse mais velho que Nossa
Senhora. Graças a isso, anteciparam-se em muitos séculos aos melhores artistas actuais,
que nos retratam um homem vigoroso, vibrante, cheio de ternura, corajoso,
criativo, trabalhador, jovem de corpo e de espírito, límpido no amor.
No passado dia 8 de Dezembro, o
Papa Francisco publicou uma Carta apostólica a anunciar um ano de indulgências
especiais, a comemorar que o Papa Pio IX nomeou S. José patrono da Igreja
universal em 1870, há 150 anos.
Esta Carta apostólica, que começa
com as palavras «Patris corde» (com um coração de Pai...), é um hino a S. José,
fiel à sua vocação, enamorado de Jesus e de Maria.
«Na sociedade actual –escreve o
Papa–, muitas vezes os filhos parecem órfãos de pai. (...) Ser pai significa
introduzir o filho na experiência da vida, na realidade. Não segurá-lo, nem
prendê-lo, nem subjugá-lo, mas torná-lo capaz de opções, de liberdade, de
partir. Talvez seja por isso que a tradição chama a José pai castíssimo. (... )
A castidade é a liberdade da posse em todos os campos da vida. Um amor só é
verdadeiramente tal, quando é casto. O amor que quer possuir (...) prende,
sufoca, torna o outro infeliz. O próprio Deus amou o homem com amor casto,
deixando-o livre inclusive de errar e de se opor a Ele. A lógica do amor é
sempre uma lógica de liberdade, e José soube amar de maneira
extraordinariamente livre».
Segundo o Papa, nesta sociedade
faltam pais que respeitem a vocação dos filhos e os ajudem a descobri-la, em
vez de se oporem a ela. São precisos pais capazes de respeitarem a mulher e os
filhos com esta «lógica do amor» extraordinariamente livre.
José, o rapaz jovem, o santo da
alegria: com muitos séculos de antecipação sobre a nossa era, os artistas portugueses
captaram a grandeza do amor, pujante na juventude da vida e sempre.
José Maria C.S. André
Sem comentários:
Enviar um comentário