Qualquer criança intui que está neste mundo por algum motivo. Diante da clássica pergunta: «Que queres ser quando fores grande?», não lhe passa pela cabeça responder: «Nada». Se o fizer, como diz H. Azevedo, é conveniente pôr-lhe o termômetro. O mais natural é que a criança pressinta que está chamada a representar o seu papel no teatro desta vida.
Um cristão sabe que não há nenhum papel mais maravilhoso para “representar” do que aquele que Deus tem previsto para ele. A este “papel” chamamos vocação.
A vocação não é outra coisa que o encontro com a verdade sobre nós próprios. É uma verdade que dá sentido à nossa vida. É uma verdade que responde à pergunta mais radical: porque é que eu existo?
A vocação, além disso, é uma verdade que interpela directamente o sentido que possui a liberdade. Sou livre para quê? Tanto faz escolher uma coisa como outra? Será que sou livre apenas para escolher a pasta de dentes num supermercado?
Se a liberdade é vista somente como uma capacidade de escolha, então, logicamente, qualquer vocação é considerada como um atentado contra essa mesma liberdade. Atentado porque diminui as capacidades de escolha no futuro.
Como conjugar, então, a liberdade com o assumir compromissos para sempre? Não será que seguir a própria vocação é ser menos livre?
Assim como a renúncia ao mal não implica nunca uma perda de liberdade — porque o mal não liberta, mas escraviza — o compromisso com o que Deus quer para cada um de nós também não. Como Deus se identifica com o Amor, as “obrigações” que exige esse Amor não só não diminuem a liberdade, como elevam e libertam a conduta de realidades sem importância, apreensões ridículas e ambições mesquinhas. O compromisso vocacional livremente assumido e mantido anima a voar alto, sem temor, com os olhos postos na meta.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
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