Vejo o fundamento [dessa teologia da reconciliação] no texto, tão importante, da segunda Epístola aos Coríntios, de São Paulo, no capítulo quinto, em que se faz um resumo da mensagem cristã; de acordo com esse texto, "nós, os Apóstolos, somos mensageiros de Deus e em nome de Deus pedimos para ser reconciliados com Deus, em Cristo" (cfr. 2 Cor 5, 11-21).
Por conseguinte, a Redenção, o Evangelho, é reconciliação com Deus. E temos que dizer que a alienação do homem consiste na sua carência de conciliação consigo mesmo, na sua divisão interior; e que é impossível a sua conciliação consigo mesmo se não estiver em paz com Deus, já que Deus é mais íntimo ao homem do que ele próprio.
É por isso que apenas o ser humano reconciliado consigo mesmo pode estar em paz com os outros. Isto depende em todo o momento de uma paz fundamental, proveniente de se estar reconciliado com Deus. Só quem está em conciliação consigo mesmo supera a alienação e, como consequência, atinge a libertação.
Neste sentido, a reconciliação profunda com o ser e, por conseguinte, com Deus e consigo mesmo, é o fundamento de toda a liberdade e de toda a capacidade de reconciliação, de que se possa viver em paz e encontrar uma justa ordem de relações [...]. Penso, na realidade, que as ideias equivocadas de liberdade e toda a tendência a auto gerar um novo tipo de ser é produto de uma profunda falta de conciliação do homem consigo próprio, com o ser em si mesmo, e por isso leva à identificação com um ser contrário à realidade de Deus, que é negada porque não se encontra a paz com Ele.
Parece-me, por outro lado, que aqui se descobre o fundamento de um novo conceito positivo de liberdade e de paz, a partir do qual poderia elaborar-se toda uma teologia da liberdade e da paz, embebida na riqueza da Cristologia e da autêntica Eclesiologia.
(Cardeal Joseph Ratzinger in entrevista a Jaime Antúnez Aldunate)
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