O céu começa na terra. A salvação no além pressupõe uma vida correspondente no aquém. Não podemos, pois, perguntar-nos apenas quem vai para o céu e abstrair-nos simultaneamente da questão do céu. É necessário perguntar o que é o céu e como vem à terra. A salvação do além deve refletir-se numa forma de vida que torne o homem humano no aquém, isto é, neste mundo, e portanto conforme com a vontade de Deus.
Isto significa [...] que, na questão da salvação, é preciso olhar para além das próprias religiões, para um horizonte ao qual pertencem as regras de uma vida recta e justa, regras que não podem ser relativizadas arbitrariamente. Eu diria, pois, que a salvação começa com a vida recta e justa do homem neste mundo, que abarca sempre os dois pólos, o do indivíduo e o da comunidade.
Há formas de comportamento que nunca podem servir para tornar recto e justo o homem, e outras que sempre pertencem ao ser recto e justo do homem. Isto significa que a salvação não está nas religiões como tais, mas depende também de até que ponto levam os homens, junto com elas, ao bem, à busca de Deus, da verdade e do bem. Por isso, a questão da salvação traz sempre consigo um elemento de crítica religiosa, embora também possa aliar-se positivamente com as religiões. Em qualquer caso, tem a ver com a unidade do bem, com a unidade do verdadeiro, com a unidade de Deus e do homem.
(Cardeal Joseph Ratzinger in ‘Fe, verdad y cultura’)
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