E fixo-me agora noutra das notas características da Igreja: a santidade. Bento XVI, para nos ajudar a fruir desta realidade, indicava que, ao longo deste ano, «será decisivo voltar a percorrer a história da nossa fé, que contempla o mistério insondável da encruzilhada da santidade com o pecado» [4]. Refletir sobre a santidade da Igreja, manifestada na sua doutrina, nas suas instituições, em tantas filhas e filhos seus ao longo da história, levar-nos-á a uma profunda ação de graças ao Deus três vezes santo, fonte de toda a santidade, a saber que estamos contidos na manifestação de amor da Santíssima Trindade por nós: como recorremos diariamente a cada Pessoa divina? Sentimos a necessidade de as amar, distinguindo cada uma?
Ao expor a natureza da Igreja, o Concílio Vaticano II destaca três aspectos nos quais o seu mistério se exprime com maior propriedade: o Povo de Deus, o Corpo Místico de Cristo, o Templo do Espírito Santo; e o Catecismo da Igreja Católica desenvolve-os amplamente [5]. Reverbera em cada um a nota da santidade, que, tal como as restantes notas, distingue a Igreja de qualquer agrupamento humano.
A denominação Povo de Deus remete para o Antigo Testamento. Yahvé escolheu Israel como seu povo peculiar, como anúncio e antecipação do definitivo Povo de Deus, que Jesus Cristo iria estabelecer mediante o sacrifício da Cruz. Vós sois linhagem escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido em propriedade, para que apregoeis as maravilhas d’Aquele que vos chamou das trevas à sua admirável luz [6]. Gens Sancta, povo santo, composto por criaturas com misérias. Esta aparente contradição marca um aspecto do mistério da Igreja. A Igreja, que é divina, é também humana, porque está formada por homens e os homens têm defeitos: omnes hómines terra et cinis (Sir 17, 31), todos somos pó e cinza [7].
Esta realidade deve levar-nos à contrição, à dor de amor, à reparação, mas nunca ao desalento ou ao pessimismo. Não esqueçamos que o próprio Jesus comparou a Igreja com um campo em que crescem juntos o trigo e o joio; com uma rede de arrasto que apanha peixes bons e maus e que só no final dos tempos se fará a separação definitiva entre uns e outros [8]. Ao mesmo tempo, consideremos que já agora, na terra, o bem é maior que o mal, a graça mais forte que o pecado, ainda que a sua ação seja por vezes menos visível. Mas acontece que a santidade pessoal de tantos fiéis - dantes e de agora - não é uma coisa aparatosa. É frequente que não a descubramos nas pessoas normais, correntes e santas, que trabalham e convivem no meio de nós. Para um olhar terreno o pecado e as faltas de fidelidade, ressaltam mais; chamam mais a atenção [9]. Nosso Senhor quer que os seus filhos e filhas no Opus Dei, e tantos outros cristãos, recordem a todos os homens e mulheres que receberam essa vocação para a santidade e hão de esforçar-se por corresponder à graça e ser pessoalmente santos [10].
[4]. Bento XVI, Carta apost. Porta fídei, 11-X-2011, n. 13.
[5]. Cfr. Catecismo da Igreja Católica, nn. 781-810.
[6]. 1 Pe 2, 9.
[7]. S. Josemaria, Homilia Lealdade à Igreja, 4-VI-1972.
[8]. Cfr. Mt 13, 24-30; 47-50.
[9]. S. Josemaria, Homilia Lealdade à Igreja, 4-VI-1972.
[10]. S. Josemaria, Homilia Lealdade à Igreja, 4-VI-1972.
(D. Javier Echevarría na carta do mês de agosto de 2013)
© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei
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