«Como posso amar e respeitar a liberdade dos meus filhos, se isso significa que muitas vezes não serei obedecido? É possível educar na liberdade?» ― são perguntas de um jovem pai com alguns filhos na “encantadora” idade da adolescência.
A verdade é que educar na liberdade não é uma tarefa nada fácil. No entanto, é o único caminho para educar de verdade, porque toda a tarefa educativa apela à liberdade das pessoas. Educar é diferente de instruir ― e está a anos-luz do conceito “domesticar”. Por isso, educar na liberdade é um caminho que é necessário aprender constantemente a percorrer, e que obriga a saber recomeçar e rectificar quantas vezes for necessário. Os pais cristãos sabem que Deus não os deixa sozinhos nesse caminho tão importante e delicado ao mesmo tempo.
Bento XVI escreveu, numa carta sobre a tarefa urgente da educação das novas gerações, que este era o ponto mais delicado da matéria: o justo equilíbrio entre a liberdade e a disciplina.
Porque existem pais e educadores que, por afã desmedido de liberdade, não educam. E outros que, por afã desmedido de educar, não respeitam a liberdade. Ambos os extremos são igualmente errados. É sobretudo neste ponto que se nota que a educação não é uma técnica que se aprende de uma vez para sempre. Assemelha-se muito mais a uma arte que é necessário aperfeiçoar constantemente.
Não podemos confundir a autoridade ― sem a qual não há educação possível ― com o autoritarismo, caricatura da verdadeira autoridade. A “ditadura familiar” requer muito pouco talento e é, como todas as suas primas ditaduras, uma péssima estratégia a curto, médio e longo prazo.
Mandar é relativamente fácil. Conseguir ser obedecido já não o é tanto. E atenção: o objectivo da educação não se reduz a conseguir ser obedecido, por muito admiráveis que sejam os mandatos. O objectivo número um da educação é preparar os filhos para que possam escolher livremente o que é melhor para eles. Em poucas palavras: ensiná-los a usarem bem a sua liberdade.
Por isso, aquilo que exige uma verdadeira arte dos pais é conseguir que os filhos obedeçam num clima de liberdade, sem nunca terem a sensação de que se lhes “rouba” a justa capacidade de iniciativa a que têm direito, de acordo com a sua idade. A autonomia de uma criança não é a mesma de um adolescente ou de um jovem. Os filhos crescem e têm de aprender a ponderar e a decidir com responsabilidade pessoal.
Amar os filhos de verdade é amar a sua liberdade ― como Deus faz com cada um de nós. Apesar de todo o empenho que os pais ponham, sempre será necessário correr um justo risco da liberdade dos filhos. Só assim o seu crescimento é verdadeiramente seu: aprendem a ponderar, decidir, rectificar e recomeçar.
Valha uma comparação para terminar: uma planta não cresce porque o jardineiro a estique, mas porque faz seu o alimento que recebe.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Sem comentários:
Enviar um comentário