Escolha do Colégio
apostólico ou dos Doze
“Impressiona a
simplicidade de algo tão transcendente com é o chamamento dos quatro primeiros
Apóstolos. Não há um discurso, uma explicação o traçar de um plano de acção. O
Senhor, que sabe tudo, sabia que a resposta seria pronta, imediata, completa
total. Há com certeza algum conhecimento prévio da pessoa de Jesus, os quatro
irmãos deveriam ter falado disso com detalhe, mas, não obstante, estariam longe
de supor que este convite inopinado lhes seria feito.
As pessoas
simples, de espírito aberto e coração puro, abraçam sem titubear os convites
que reconhecem instantaneamente como sendo algo radical que mudará as suas
vidas para sempre porque, também de imediato, reconhecem em Quem os convida,
uma autoridade e grandeza a que não podem resistir. Não “jogam, portanto, no
escuro”, mas com a certeza e confiança que estão fazendo o que de facto lhes
convém.” (ama, comentário sobre Mt 4, 18) Depois seguir-se-ão mais “convites”, mais
“escolhas” até completar o que poderíamos chamar: os Doze do Colégio
Apostólico.
Doze!
Porquê doze? Não
eram doze as Tribos de Israel? Pois Jesus Cristo tem uma intenção que revelará
mais tarde: "Sentar-vos eis em doze
tronos para julgar as Doze Tribos de Israel". (Cfr. Mt 19, 28)
Mas, pergunto: Não
deveria ter escolhido gente competente, ilustrada, culta que desse melhores
"garantias" de sucesso na missão? Seria, talvez, o nosso critério. Mas,
os "critérios" de Jesus, sendo humanos são, também, divinos e são
estes que prevalecem. E, como não podia deixar de ser, a escolha é
acertadissima.
Dos Doze,
apenas um se revelou indigno da "escolha", o que O veio a trair. Não
compreendemos este aparente "engano" do Senhor. Nem nos compete
julgar ou, sequer, avaliar o aparente "fracasso". Um dia «tudo será revelado». (Cfr. Jo 6, 64)
São
gente comum, anónima, sem proeminência. ‘Não valiam
absolutamente nada no seu tempo; não eram ricos, nem cultos, nem heróis do
ponto de vista humano. Jesus lança sobre os ombros deste punhado de discípulos
uma tarefa imensa, divina’. (Cfr.
São Josemaria, Amar a Igreja 12)
‘A humanidade inteira deve a
Pedro e aos outros seus companheiros, saber quem é Jesus e, sabendo-o, ter a
oportunidade através dos Evangelhos, de chegar a conhecê-Lo intimamente. Conhecer
Jesus Cristo é conhecer Deus Uno e Trino, Criador e Senhor de toda a criação. Sem
estes homens, simples, um pouco rudes, cheios de defeitos e debilidades mas
sentindo um amor incomensurável pelo Mestre por Quem a maior parte deu a
própria vida, não teríamos essa ventura. E devemos, todos, estar-lhes muito
gratos e, como são pessoas comuns como nós, imitá-los em tudo mas, sobretudo, nesse
Amor com A grande por Nosso Senhor Jesus Cristo.’ (ama, comentário sobre Mt 16, 13-20)
Os Apóstolos, homens
correntes.
‘A mim, anima-me muito
considerar um precedente, narrado passo a passo, nas páginas do Evangelho: a
vocação dos primeiros doze. Vamos meditá-la devagar, pedindo a essas santas
testemunhas do Senhor que saibamos seguir Cristo como eles o fizeram. Aqueles
primeiros doze apóstolos - a quem tenho grande devoção e carinho - eram,
segundo os critérios humanos, bem pouca coisa. Quanto à posição social, com
excepção de Mateus - que com certeza ganhava bem a vida e deixou tudo quando
Jesus lhe pediu - eram pescadores; viviam do dia-a-dia, trabalhando até de
noite para poderem alcançar o seu sustento. Mas a posição social é o de menos.
Não eram cultos, nem sequer muito inteligentes, pelo menos no que diz respeito
às realidades sobrenaturais. Até os exemplos e as comparações mais simples lhes
eram incompreensíveis e pediam ao Mestre: «Domine,
edissere nobis parabolam», Senhor, explica-nos a parábola. Quando Jesus,
com uma imagem, alude ao fermento dos fariseus, supõem que os está a recriminar
por não terem comprado pão. Pobres, ignorantes. E nem sequer eram simples,
humildes. Dentro das suas limitações, eram ambiciosos. Muitas vezes discutem sobre
quem seria o maior, quando - segundo a sua mentalidade - Cristo instaurasse na
terra o reino definitivo de Israel. Discutem e excitam-se até naquela hora
sublime em que Jesus está prestes a imolar-se pela humanidade, na intimidade do
Cenáculo. Fé? Pouca. O próprio Jesus Cristo o diz. Viram ressuscitar mortos,
curar todo o tipo de doenças, multiplicar o pão e os peixes, acalmar
tempestades, expulsar demónios. Pois S. Pedro, escolhido como cabeça, é o único
que sabe responder com prontidão: Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo. Mas é uma
fé que ele interpreta à sua maneira; por isso atreve-se a enfrentar Jesus
Cristo, a fim de que Ele não se entregue pela redenção dos homens. E Jesus tem
de responder-lhe: Retira-te de mim, Satanás; tu serves-me de escândalo, porque
não tens a sabedoria das coisas de Deus mas das coisas dos homens. Pedro
raciocinava humanamente, comenta S. João Crisóstomo, e concluía que tudo aquilo
(a Paixão e a Morte) era indigno de Cristo, reprovável. Por isso Jesus
repreende-o e diz-lhe: não, sofrer não é coisa indigna de Mim; tu pensas assim
porque raciocinas com ideias carnais, humanas. Em que sobressaem então aqueles
homens de pouca fé? Talvez no amor a Cristo? Sem dúvida que O amavam, pelo
menos de palavra. Chegam até a deixar-se arrebatar pelo entusiasmo: Vamos nós
também e morramos com Ele. Mas à hora da verdade, todos hão-de fugir, excepto
João, que O amava com obras e de verdade. Só este adolescente, o mais jovem dos
Apóstolos, permanece junto da cruz. Os outros não sentiam esse amor tão forte
como a morte. Eram estes os discípulos escolhidos pelo Senhor; assim os escolhe
Cristo; assim se comportavam antes de, cheios do Espírito Santo, se tornassem
colunas da Igreja. São homens correntes, com defeitos, com debilidades, com
palavras maiores do que as suas obras. E, contudo, Jesus chama-os para fazer
deles pescadores de homens, corredentores, administradores da graça de Deus. (Cfr.
São Josemaria, Cristo que Passa, 2)
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