Anunciação do Anjo a Nossa Senhora
Salve, ó cheia de graça! [1]
Foi com estas palavras que, Gabriel, o Anjo do Senhor se dirigiu a ti, Maria de Nazaré.
Tão longe estarias tu deste acontecimento.
Decerto que, desde pequenina, a oração constante, a simplicidade nos pensamentos e nos actos, sem a mais leve mancha de malícia ou impudor, deverias sentir Deus muito próximo, ao alcance da tua voz.
Certamente que sim, pois acreditavas firmemente que Ele te ouvia sempre e em cada momento.
Mas a tua modéstia, a tua simplicidade, a tua total e humilde submissão a teu Senhor, ao teu Deus, não permitiriam nunca que essa possibilidade te ocorresse sequer.
O Senhor Todo Poderoso, o Criador do Céu e da Terra e de tudo quanto existe, enviar a Nazaré, à tua casa humilde e simples, um Anjo Seu, para te saudar! Que coisa mais extraordinária.
Sabias que Deus não era um ser longínquo e distante, inacessível aos homens. Constantemente tinha intervindo junto do povo eleito para comunicar a Sua Vontade, os Seus desígnios.
Mas, os Seus interlocutores tinham sido sempre grandes personagens da História Humana: Abraão, Moisés, David, os Profetas.
E tu, pobre e humilde menina, recebias do Senhor uma graça semelhante!?
Logo no início o salve do Mensageiro te perturba. Salve, isto é, alegra-te.
Mas, mais: Ó cheia de graça!
Que saudação estranha e desusada que manifesta uma dignidade e honra que julgas não merecer.
Alegra-te Filha... de Jerusalém... o Senhor está no meio de ti. [2]
Estes altíssimos louvores ferem o teu espírito humilde e, por isso a estas palavras, ela perturbou-se e ficou a pensar que saudação seria aquela. [3]
Mas, Gabriel é um Anjo do Senhor, e apercebe-se a tua confusão, talvez, o teu natural temor. E sossega-te: Não tenhas receio, Maria.
Conhecias bem pelas Escrituras que lias e meditavas, o que significava esta saudação e portanto, quando Gabriel evoca estas prerrogativas, entendeste claramente que te era anunciado que irias ser a Mãe do Messias Salvador.
Mas há ainda no teu espírito esclarecido, não obstante a tua juventude, uma dúvida séria: Como poderias tu, virgem humilde, teres sido escolhida para Mãe de Jesus Salvador pelo próprio Deus a quem tinhas dedicado a tua virgindade?!
E, não obstante a tua humildade de jovem simples não deixas de interrogar:
Como será isso, se eu não conheço homem?! [4]
Ah! ... mas o Anjo tranquiliza-te:
Virá sobre ti o Espírito Santo, e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra. [5]
Esta resposta corresponde também ao que nas Escrituras se revelava sobre o aparecimento do Messias.
Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho a quem será dado o nome de Emanuel, que quer dizer Deus connosco. [6]
Não tinhas mais dúvidas por isso nada mais perguntaste. Não quiseste saber como, quando, porquê.
Nada, nada absolutamente te interessava averiguar porque:
Heis aqui a escrava do Senhor: seja-me feito segundo a tua palavra! [7]
Assim, tal qual, tu, Senhora, a quem acabava de anunciado seres eleita por Deus a maior, a mais sublime de entre as mulheres da Terra, assim, com esta simplicidade que fere pela sua inteira singeleza, assim, tu defines um coração puro, uma alma de Deus, uma total entrega ao Senhor.
Por isso Deus te escolheu.
A Mãe do Salvador, do Deus feito homem, perfeito homem, que haveria de morrer na Cruz para salvar todos os homens, num sacrifício cruento, completo, total, não poderia senão expressar a aceitação pronta e total da Vontade Divina.
Faça-se a Tua Vontade de uma forma total e completa.
Não para meu bem, não para minha glória, não para benefício de quem quer que seja, não...só e unicamente porque é a Tua Vontade Senhor; o resto não me interessa...
E, no entanto esta jovem era já a Mãe do Salvador, escolhida desde o princípio dos tempos.
Poderei eu, algum dia, alguma vez, do fundo do coração, manifestar tal sentimento?
Decerto que não.
Quantas vezes que me proponho aceitar a Vontade de Deus, mas reservando no meu íntimo, que ela esteja de acordo com a minha vontade. Que se satisfaçam os meus desejos, que obtenha o que quero que o Senhor, actue assim, como uma espécie de Deus privado, ao meu serviço.
Ah! Senhora minha, que maravilha a tua resposta, que espantosa a tua entrega.
Ajuda-me, querida Mãe, a dizer a cada momento sim ao Senhor.
Instila no meu coração de filho, porque és minha Mãe, esses sentimentos puros e humildes, esse desprendimento das coisas, essa disponibilidade permanente para ouvir e, ouvindo, dizer que sim aos desejos do Senhor.
Desejo tanto ser honesto comigo mesmo para poder ser honesto para com os outros e para com Deus. Não me mentir, não me enganar, não me esconder atrás de falsas coisas, defeitos ou virtudes, para me esquivar constantemente ao que me é pedido.
E a Tua Vontade, o Teu mandato, claríssimo é que eu seja santo. [8]
Não um dia, não qualquer dia, agora - «nunc coepi - pois pode ser que o amanhã me falte.» [9]
"Ave Cheia de Graça, o Senhor está contigo".
Assim te falou o Anjo do Senhor.
Ave minha Mãe Santíssima.
Ave, minha querida Mãe que estás no Céu, digo-te eu, com a esperança, que é certeza, que me ouves e atenderás as minhas súplicas.
Como tu, também eu quero dizer “fiat”, faça-se, «cumpra-se a justíssima e amabilíssima Vontade de Deus sobre todas as coisas.»
«Monstra te esse mater, mostra que és mãe, ajuda-me e guia-me todos os dias da minha vida para que eu seja um bom filho.
[1] Lc 1, 28
[2] So 3, 14. 17a
[3] Lc 1, 29
[4] Lc 1, 34
[5] Lc 1, 35
[6] Is 7, 14
[7] Lc 1, 38
[8] Pois n'Ele elegeu-nos antes da criação do mundo para que fôssemos santos Ef 1, 4-6
[9] cfr. S. Josemaría, Caminho, nrs 251 a 254
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