Com alguns dias de atraso para terminar as traduções, foi publicada a carta da Congregação para a Doutrina da Fé intitulada «Placuit Deo», que retoma a Declaração «Dominus Iesus» (6 de Agosto de 2000), subscrita pelo então Cardeal Ratzinger, no pontificado de João Paulo II.
No ano 2000, assanharam-se os protestos contra aquele «tremendo retrocesso» da teologia católica. O Papa, que tinha aprovado e mandado publicar a «Dominus Iesus», veio a público defender o Cardeal Ratzinger e o conteúdo da Declaração, mas as palavras claras de João Paulo II serviram de pouco, porque os Meios de Comunicação consideraram que o Papa era ambíguo, com a intenção de se distanciar daquele «passo errado». Hoje, sabe-se que o discurso interpretado como ambíguo foi escrito pelo próprio Cardeal Ratzinger! A Comunicação Social é realmente muito permeável a análises apressadas e pouco rigorosas.
Passados 18 anos, o novo Prefeito da Congregação, o Arcebispo D. Luis Francisco Ladaria, S.I., propôs ao Papa Francisco retomar o assunto. Francisco deu luz verde e considerou muito importante esclarecer os fiéis sobre este aspecto da doutrina da Igreja. Em consequência, a Congregação preparou a nova Carta.
Tanto a «Dominus Iesus» como a «Placuit Deo» são um mosaico da Sagrada Escritura e do Concílio Vaticano II, pelo que é difícil perceber a surpresa de alguns. O tópico principal está logo enunciado nas primeiras linhas da «Placuit Deo», que são uma frase do Concílio Vaticano II construída com frases de S. Paulo e de S. Pedro: em suma, Deus revelou-Se por meio de Cristo e Ele é o mediador e a plenitude dessa revelação.
A «Placuit Deo» acrescenta vários alertas interessantes, nomeadamente contra o perigo do individualismo e o perigo de desconsiderar o corpo. A salvação não é um caminho individual, isolado, realiza-se na Igreja. Para isso Cristo a instituiu! A outra forma de descaracterizar a fé em Jesus, único Salvador universal, é concebê-la como meramente interior, fechada no subjectivismo, como se Nosso Senhor não tivesse Encarnado. Pelo contrário, foi Deus Quem criou o mundo material e o confiou ao nosso cuidado, para que o trabalhássemos.
A novidade em relação a Nossa Senhora é o anúncio de que a memória da Santíssima Virgem, Mãe da Igreja, passa a celebrar-se todos os anos, como memória obrigatória no calendário litúrgico do rito latino.
A polémica remonta a antes do Concílio Vaticano II. O Papa João XXIII falou várias vezes de Maria como Mãe da Igreja e Paulo VI queria que esse título fosse proclamado nos textos conciliares. Um capítulo da Constituição dogmática «Lumen gentium» estava para intitular-se «sobre a Santíssima Virgem Maria, Mãe da Igreja», mas a comissão de redacção apagou as palavras «Mãe da Igreja». Paulo VI voltou à carga, repetidamente, até que, no solene discurso final da Terceira Sessão, avançou sozinho, contra a opinião dos assessores: «Para glória da Virgem e por nossa disposição, proclamamos Maria Santíssima Mãe da Igreja». A multidão dos Padres conciliares levantou-se num aplauso uníssono, prolongado e forte: afinal, o Papa não estava sozinho...
João Paulo II usou muito este título de Nossa Senhora, por exemplo, acrescentando à ladainha do Terço a invocação «Mãe da Igreja, rogai por nós» e colocando na praça de S. Pedro uma elegante imagem de Maria com esta inscrição.
Bento XVI seguiu a mesma linha até que, agora, Francisco decidiu que a memória litúrgica de Maria, Mãe da Igreja, passará a ser celebrada todos os anos na segunda-feira depois de Pentecostes.
A última notícia ainda não é oficial, mas está confirmada: no próximo 19 de Março, festa de S. José, o Papa assina uma Exortação apostólica dedicada à santidade no meio do mundo. O chamamento à santidade é para todos, sem exclusão. Não se trata de fazer coisas inusitadas, mas de ser fiel à graça no heroísmo do quotidiano, como S. José, protótipo do homem fiel. A santidade não é só para os momentos de oração, mas para cada instante da nossa vida. No contexto da amizade, a vida cristã autêntica torna-se testemunho evangelizador. Todos são chamados a assumir esta responsabilidade de levar o Evangelho até aos últimos recantos da sociedade.
José Maria C.S. André
11-III-2018
Spe Deus
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