Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 12 de março de 2020

Inclemência

Por razão de uma inoportuna gripe, que me arredou destas lides por várias dias, já cheguei tarde à polémica desencadeada pela nota pastoral do Patriarca de Lisboa sobre a aplicação, nesta diocese, da exortação apostólica Amoris Laetitia, do Papa Francisco. Ainda bem: poupou-me muita asneira que por aí se escreveu e disse sobre este tema. Contudo, já em plena convalescença, li o editorial de David Dinis, director do Público, sobre “Os três ‘pecados’ de D. Manuel Clemente”, o texto “Porque insiste a Igreja em meter-se na nossa cama?”, de João Miguel Tavares e, por último, a crónica que Vicente Jorge Silva dedicou, no passado dia 11, ao Cardeal Patriarca de Lisboa, que trata por D. Clemente, talvez por ignorar que, em bom português, o ‘dom’ nunca se usa antes do apelido, mas só do nome próprio (por isso, não se diz que o primeiro rei de Portugal foi D. Henriques, ou que o santo condestável foi D. Pereira).

Não sei que bicho mordeu o Público para assim atacar o Senhor Patriarca, nem por que carga de água um jornal laico se manifestou tão interessado por um assunto exclusivamente eclesial. É curioso notar que, aqueles que fazem muita gala em criticar a Igreja a partir do seu agnosticismo, apregoam a sua própria ignorância: agnóstico quer dizer, etimologicamente, ausência de saber (‘gnose’ significa conhecimento e o prefixo ‘a’ indica negação).

Sejamos claros: ninguém é obrigado a ser católico e só se pode ser católico na Igreja e na comunhão com os seus legítimos pastores. Quem não é católico, não tem porque discutir umas normas que o não afectam e que se baseiam em princípios que não conhece, nem reconhece como divinamente revelados. Quem é católico, em qualquer momento pode deixar de o ser, se porventura não concordar com as normas que a Igreja propõe aos seus fiéis. Contudo, os avençados do politicamente correcto querem que a Igreja católica baile ao compasso da sua moral relativista e hedonista, ou seja, que legitime tudo o que eles, os ‘donos’ do pensamento, acham que é moderno, progressista, avançado, inteligente e precursor.

O mais preocupante nestes ataques, que por vezes raiam o insulto pessoal, por sinal todos na mesma linha e sem contraditório, é a atitude totalitária que evidenciam. Um democrata diria: ‘O Senhor D. Manuel Clemente pensa que a abstinência é uma boa solução – nem sequer é a única que propõe, ao contrário do que certa imprensa tem dito – para alguns católicos ‘recasados’, mas eu não concordo’ e não havia nenhum problema. Mas os autores destes textos não se ficam por aí, porque não admitem qualquer divergência em relação ao seu pensamento dogmático: quem não pensa como eles, ou como eles acham que se devem pensar certas questões que não são sequer da sua competência profissional, é ‘retrógrado’, ‘absurdo’, ‘estúpido’ e ‘ridículo’, para usar, pela mesma ordem, os mesmos qualificativos com que foi publicamente referida a declaração do Senhor Patriarca, no Público do passado dia 11. É preocupante, porque na base desta arrogante intolerância, há um espírito totalitário, que ameaça a liberdade de pensamento e de expressão religiosa em Portugal.

Nem sempre o parecer das multidões é o mais avisado, sobretudo em questões éticas. Com efeito, muitas vezes as massas cedem facilmente ao fascínio do poder, ou ao medo: recorde-se o entusiasmo com que alemães e austríacos apoiaram o nazismo. Mas há sempre alguma voz que se levanta e é expressão de uma maior lucidez. Foi o caso de Winston Churchill que, quando todos, talvez por cobardia, queriam pactuar com Hitler, manteve-se firme no propósito de manter a guerra até à vitória final. Foi o caso também de Milada Horokawa, a resistente checa que, depois de perseguida e detida pela Gestapo durante a ocupação nazi do seu país, veio a ser torturada e morta pelo regime comunista instaurado na Checoslováquia, depois da segunda Guerra Mundial.

Talvez, em termos mediáticos, a declaração do Senhor D. Manuel Clemente não tenha sido um êxito. Mas, foi, sem dúvida, um grande sucesso evangélico: “Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam” (Mt 5, 11-12).

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Voz da Verdade (2018)

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