A trave perpendicular
Que sustenta a minha cruz
Está cravada no chão
De uma eira peculiar.
À volta pedaços de trigo
Que restaram da colheita
Grãos esparsos sem interesse
Que não vale a pena eirar.
Eira de colheitas pequenas
Quase nada na verdade
Sempre vazia de sementes
Que se possam semear.
A trave perpendicular
Bem pode ali estar
Mas não dá frutos que cheguem
Para a fome saciar.
Trave, perpendicular, já disse,
Poderia ser uma qualquer
Com vigor que se visse
E se pudesse admirar.
Prefiro a outra, horizontal
Donde pende afinal
O que sou sem querer ser:
Um pobre crucificado
Que não sabe o que fazer
Deixar-se ficar ali pregado
Ou desistir e morrer.
Porto, 02.05.2017
António Mexia Alves
https://ontiano.blogspot.pt/2018/02/a-cruz-na-eira.html
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