Quem assistiu à Eucaristia na
quarta-feira passada ouviu contar um episódio (Marcos 3, 1-6) difícil de
compreender para os humanos, fácil de entender para o demónio. Era um sábado, instituído
por Deus como dia de descanso e de oração. Os fariseus desesperavam por um pretexto
para acusar Jesus de blasfémia. Nisto, apareceu na sinagoga um homem com uma
mão atrofiada. Parecia o cenário ideal para apanhar Jesus em falso... Infelizmente,
para os fariseus, eles deviam saber que ninguém consegue passar rasteiras ao
Mestre.
Jesus disse ao homem que tinha a
mão atrofiada: «Levanta-te e vem aqui para o meio». E desafiou directamente os
fariseus: «Será permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou
tirá-la?»
Os fariseus calaram. A vida não
lhes estava a correr bem. E piorou, quando Jesus os fitou com indignação. A
seguir, Jesus disse ao homem: «Estende a mão». Ele estendeu-a e a mão ficou
curada.
Até aqui, o episódio parece
normal. Jesus faz mais um milagre, os fariseus não gostaram, mas não o conseguiram
impedir. O habitual. A surpresa vem a seguir: os fariseus saíram dali para se
reunir com os herodianos e deliberarem como haviam de O matar.
O argumento é muito simples:
Jesus é Deus e portanto não podemos deixar que seja o Senhor do sábado.
Se Jesus não fosse Deus, não
havia problema. Não tinha feito nenhum milagre, não tinha feito nada. A questão
é que os fariseus não acreditavam nisso! Uma mão atrofiada não se cura sozinha!
Eles sabiam que Jesus tinha realizado o milagre! Nunca desconfiaram de mais
ninguém. Por outras palavras, os fariseus sabiam que Jesus fazia milagres e era
Deus! Queriam matá-lo justamente porque tinha sido Ele a fazer o milagre.
Perseguiam Deus em nome do dia dedicado a Deus!
Para um demónio, isto é a coisa mais
natural do mundo, por mais que o consigamos entender.
Detalhe Conversão de S. Paulo de Caravaggio |
Na sexta-feira passada
celebrou-se em toda a Igreja a festa da Conversão de S. Paulo, aquele momento
em que Saulo percebeu que andava atrás da pessoa errada. Ele queria perseguir
cristãos, contudo Deus pergunta-lhe: «Saulo, Saulo, porque Me persegues?».
Saulo não estava a perceber: «Quem és Tu, Senhor?». E Deus confirmou a
mensagem: «Eu sou Jesus, a Quem tu persegues». Ups! Saulo pensava que perseguia
a Igreja em nome de Deus e afinal...
Paulo não tinha a perversidade
dos demónios, percebeu o equívoco e converteu-se.
Nestes últimos oito dias até à
festa da Conversão de S. Paulo, os cristãos de todo o mundo rezaram e jejuaram
pela unidade da Igreja, perturbada pelas oposições de dentro e de fora, tantas
vezes em nome de Deus, com lógicas que só o demónio entende. O próprio Papa
presidiu a abertura destes dias de especial oração.
Nas Jornadas Mundiais da
Juventude, a decorrer até Domingo, no Panamá, Francisco falou aos jovens de
unidade. Disse-lhes que o demónio tenta semear a divisão, a fé alimenta o
espírito de unidade. Que o pai das mentiras prefere pessoas divididas e a
brigarem e não gosta de pessoas que aprendem a trabalhar juntas. «O verdadeiro
amor não elimina as diferenças legítimas, mas harmoniza-as numa unidade
superior – e acrescentou – sabem de quem é esta frase? Do Papa Bento XVI, que
está agora a ver-nos na televisão! Saudemo-lo todos, aplaudindo o Papa Bento!».
Francisco deu a pista e a multidão, do Panamá e de todo o mundo, correspondeu com
o máximo de algazarra. Felizmente, no meio de tanto desconcerto, no mundo e na
Igreja, por vezes saboreamos a grande alegria da unidade.
Espera-se que esta Jornada
Mundial da Juventude termine no Domingo de forma memorável: anunciando que a
próxima edição vai decorrer em Portugal.
José Maria C.S. André
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