Basílica de S. João Latrão - Roma |
Uma catedral é fruto de um desejo momentâneo ou é algo que se pode realizar pela vontade? [...] Com toda a certeza, as igrejas que herdámos não resultam apenas da gestão de capitais, nem são uma pura criação do génio; são fruto do martírio, de grandes feitos e de sofrimentos. As suas fundações são muito profundas; elas assentam sobre a pregação dos apóstolos, sobre a confissão da fé dos santos, e sobre as primeiras conquistas do Evangelho no nosso país. Tudo o que é nobre na sua arquitectura, que cativa os olhos e chega ao coração, não é um puro resultado da imaginação dos homens, é um dom de Deus, é uma obra espiritual.
A cruz assenta sempre no risco e no sofrimento, é sempre regada com lágrimas e sangue. Em parte alguma cria raízes e dá fruto se a pregação não for acompanhada de renúncia. Os detentores do poder podem fazer um decreto, favorecer uma religião, mas não a podem estabelecer, podem apenas impô-la. Só a Igreja pode estabelecer a Igreja. Só os santos, os homens mortificados, os pregadores da rectidão, os confessores da verdade, podem criar uma verdadeira casa para a verdade.
É por isso que os templos de Deus são também os monumentos dos Seus santos. [...] A sua simplicidade, a sua grandeza, a sua solidez, a sua graça e a sua beleza não fazem senão recordar a paciência e a pureza, a coragem e a doçura, a caridade e a fé daqueles que não adoraram a Deus apenas nas montanhas e nos desertos; eles sofreram, mas não em vão, porque outros herdaram os frutos do seu sofrimento (cf Jo 4, 38). Efectivamente, a longo prazo, a sua palavra deu fruto; fez-se Igreja, esta catedral onde a Palavra vive desde há muito tempo. [...] Felizes os que entram nesta relação de comunhão com os santos do passado e com a Igreja universal. [...] Felizes os que, entrando nesta igreja, penetram de coração no céu.
São John Henry Newman
PPS, vol 6, n° 19
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