A misericórdia também nos exorta a acolher os outros, a inclinar-nos para eles. Somos capazes de a transmitir se a recebemos de Deus. Assim, «tendo obtido misericórdia e abundância de justiça, o cristão dispõe-se a ter compaixão dos infelizes e a rezar pelos outros pecadores. Torna-se misericordioso até para com os seus inimigos» [7]. Só a magnânima compreensão de Deus «é capaz de recuperar o bem perdido, de pagar com o bem o mal cometido e de gerar novas forças de justiça e de santidade» [8].
Não faltam ocasiões em que o peso do trabalho ou das dificuldades poderiam anestesiar um pouco o coração, como os espinhos que sufocam a boa semente. Deus põe-nos o coração em carne viva, para que nos inclinemos para os outros, não só nos problemas ou nas tragédias, mas também numa multidão de pequenas coisas quotidianas que requerem um coração atento, que tira relevância ao que realmente não a tem, e que se esforça por dá-la ao que verdadeiramente importa, mas que talvez passe despercebido. Deus não nos chama apenas a conviver com os outros, mas a viver para os outros. Pede-nos uma caridade afetuosa, que saiba acolher a todos com um sorriso sincero [9].
Por isso, recorramos sempre à oração, especialmente quando pensamos que uma situação ou uma pessoa nos superam, para confiar então ao Senhor os obstáculos que encontramos no nosso caminho. Roguemos-Lhe que nos ajude a superá-los, a não lhes dar demasiada importância. Peçamos-Lhe que nos conceda um amor à medida do Seu, por intercessão de Santa Maria, Mater misericordiae.
Na sua viagem apostólica à Polónia, o Papa falou do Evangelho como o livro vivo da misericórdia de Deus. Este livro, dizia, ainda tem páginas em branco no final: permanece um livro aberto, que somos chamados a escrever com o mesmo estilo, isto é, praticando obras de misericórdia[10]. E concluía: cada um de nós guarda no coração uma página muito pessoal do livro da misericórdia de Deus [11]. Escrevamos com entusiasmo as páginas que Deus confiou a cada um, sem desanimarmos com os borrões e manchas que a nossa rude escrita tiver causado. Pela clemência de Deus, o Espírito torna-se presente nas nossas misérias, porque quando sou fraco, então é que sou forte [12]. Fortalecemo-nos com a graça de Cristo, e assim podemos transmitir o que recebemos.
Neste serviço atento aos outros, não esqueçamos – particularmente no dia 2, e durante todo o mês – essa obra de misericórdia discreta e tão agradável aos olhos de Deus: a oração pelos defuntos. Suplico ao Senhor, para cada um e cada uma, a graça de praticar a Comunhão dos santos com todos: com os necessitados dos nossos sufrágios, com aqueles que já desfrutam da bem-aventurança celestial e com aqueles que ainda peregrinamos aqui em baixo, começando pelo Papa e pelos seus colaboradores, até incluir nas nossas orações todos os homens e mulheres, especialmente os mais necessitados dessa união.
Não posso terminar sem agradecer a Deus a recente ordenação de diáconos da Prelatura: peçamos por eles e pelos ministros sagrados de todo o mundo. Ao mesmo tempo, renovo a minha gratidão pelos frutos da viagem pastoral que fiz, há duas semanas, à nova circunscrição da Finlândia e Estónia. Rezemos pela Igreja nesses países e nos outros do Norte da Europa. Gostaria de vos contar em pormenor o entusiasmo de S. Josemaria – e também do queridíssimo D. Álvaro – pelo estabelecimento da Obra nesses países. Convido-vos a considerar isto nos tempos de oração diante do Sacrário. E que se eleve aos Céus a nossa gratidão mais sincera pelo aniversário do estabelecimento do Opus Dei como Prelatura pessoal.
[8]. B. Paulo VI, Manuscrito inédito, in Instituto Paulo VI, Notiziario 71 [2016], 7-8 (também publicado no L'Osservatore Romano, setembro de 2016).
[9]. S. Josemaria, Forja, n. 282.
[10]. Papa Francisco, Discurso na audiência geral, 30-VII-2016.
[11]. Papa Francisco, Discurso na audiência geral, 30-VII-2016
[12]. 2 Cor 12, 10.
(D. Javier Echevarría excerto da carta do mês de novembro de 2016)
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Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei
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